O Futuro de Putin

Expirado o segundo mandato da presidência de Vladimir Putin a Rússia poderá vir a ser uma república parlamentar unitária, enquanto o centro do poder poderá vir a parar nas mãos do novo primeiro-ministro. Olga Krychtanovskaia, chefe do Centro de Estudo da Elite do Instituto da Sociologia da Academia das Ciências da Rússia, comentou as eventuais mudanças, intervindo numa conferência de imprensa na RIA "Novosti".

No seu dizer as reformas de Vladimir Putin iniciadas desde 2000 fazem com que na Rússia realiza-se a "sovietização" do sistema de direcção. " No âmbito do sistema soviético à população era permitido tomar parte só nas eleições as quais que exerciam influência qualquer na composição da elite política. No governo de Yeltsin este sistema acabou por ser desmantelado, cedendo lugar a inúmeras eleições. O processo eleitoral na altura contou com sete componentes principais: eleições directas do presidente do país, do Conselho da Federação, dos governadores, dos deputados das circunscrições uninominais para a Duma de Estado e dos partidos para os parlamentos - federal e regionais.

"Putin iniciou as reformas políticas reduzindo as eleições, começando pela abolição das eleições para o Conselho da Federação. Hoje em dia deste processo vêm sendo excluídas as eleições de governadores e deputados das circunscrições uninominais", constatam a especialista. Mas as mudanças do sistema político continuam, prevendo-se que até ao ano de 2008 a população irá votar directamente apenas por aqueles partidos os quais irão formar a Duma de Estado e a assembleias de legisladores regionais, as quais por sua parte irão eleger os governadores, enquanto o Parlamento Federal - o Presidente. "O objectivo é simplificar o máximo possível o sistema eleitoral e cria a República parlamentar", afirma Olga Krychtanovskaia.

Para além da redução dos riscos para a elite governante, tal procedimento poderá resolver o problema de prorrogação da presidência de Putin, o qual com tal desenrolar de acontecimentos torna-se o primeiro-ministro. Ao mesmo tempo o Parlamento elege um presidente fraco, com funções e poderes bastante limitados. Para a maioria da população da Rússia o sistema caracterizado pelo predomínio ao longo de décadas do sistema soviético de direcção é mais conhecido e mais claro. De acordo com os resultados da sondagem da opinião pública, levada a efeito pelo Instituto da Sociologia da Academia das Ciências da Rússia, 38 por cento da elite governante na Rússia são os ex-altos-funcionários da época soviética. No que se refere a elites regionais esta categoria de responsáveis já é igual a 61 por cento. É de notar que desde 1997 as eleições deixaram de ser um canal de subida ao poder de representantes da sociedade civil. Isto que dizer que o processo eleitoral tem sido controlado por dois grupos principais, ou seja, pela burocracia e o grande business, em resultado de que 65 por cento de novos responsáveis foram simplesmente nomeados, adianta a socióloga.

A par da passagem a uma República parlamentar, a Rússia dentro dos próximos 4 anos poderá se transformar da federação para um Estado unitário. Tal versão está ditada pela lógica que liga a reforma política com os atentados terroristas. " Trata-se de uma ligação profunda e latente, mas ela existe, pois os atentados terroristas advêm do separatismo na Rússia. O separatismo por sua parte diz respeito às repúblicas nacionais. É muito possível que a nomeação dos governadores é indispensável para afastar do poder os líderes das repúblicas nacionais. Por seu lado, os governadores nomeados por Kremlin não irão barrar a mudança das estruturas territoriais. Como resultado a Rússia poderá vir a ser de facto um Estado unitário e não a federação.

Em termos gerais a reforma política vem ao encontro dos interesses da classe governante e esta apoiada pela última. Mas registam-se anda também as "zonas de tensão", visto que nalgumas repúblicas formaram-se os regimes autárquicos. Em tais zonas a um clã pertence tanto o poder político como o poder económico. Ninguém sabe o que será se retirar a primeira pessoas desta pirâmide deixando todos os recursos (humanos e financeiras) nas mãos do mesmo clã. Se no âmbito das nomeações as candidaturas não forem combinadas com as elites locais, sã muito verosímeis os conflitos e manifestações de protestos.

Olga Krychtanovskaia considera pouco real uma resistência qualquer às reformas por parte da população. "Dentro da Rússia ainda não se formaram os grupos de interesses políticos de um potencial de protesto significativo. Nem o business, nem a classe média, nem a inteliguentsia não se opõem às tendências políticas autoritárias. Ao escolher a via de pôr termo às transformações democráticas, o poder vem deslizando um talude abaixo, pois umas reformas vêm ocasionando logicamente as outras", conclui a especialista.

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