Nicolai Gogol, o precursor do realismo russo

Chega às livrarias portuguesas a estreia literária de Nikolai Gogol (1809-1852), “Noites na Granja ao Pé de Dikanka” (editora Assírio & Alvim). A edição actual reúne os oito contos que foram lançados em dois volumes em 1831 e 1832. Editados quando o escritor tinha 22 e 23 anos, tiraram Gogol da obscuridade e já demonstravam as qualidades daquele que se tornaria um dos maiores escritores russos de sempre.

Considerado o grande precursor do realismo russo, em “Noites na Granja ao Pé de Dikanka” o autor de “Almas Mortas” vai buscar inspiração nas suas memórias de infância e no folclore ucraniano – através da reconstituição de histórias orais contadas entre os habitantes do meio rural para fazer um contraponto a grande cidade para a qual emigrou em 1828, São Petersburgo.

No livro estão presentes questões recorrentes na sua obra. Já identificado como uma espécie de Bosch da literatura, ele constrói aqui personagens ligeiramente grotescos assolados pelas implicações morais dos seus actos e sujeitos a actuações de forças superiores a eles próprios – um contexto simbolizado nos combates entre Deus e o Diabo. Especialmente sob a inspiração deste último, os seus personagens, muitas vezes dominados pela luxúria e pelo adultério, pela glutonaria e pelas bebedeiras, aparecem como marionetas neste jogo de forças transcendentais.

A obra de Gogol situa-se nos primórdios do realismo russo – corrente que atingiria uma qualidade excepcional na segunda metade do século XIX e que daria ao mundo nomes como Turgueniev, Tcheckov, Dostoievski e Tolstoi. Já antecipava, juntamente com Pushkin, através da qualidade e força dos seus textos, o reinado da prosa sobre a poesia num país onde a primeira sempre tivera preponderância. Na Rússia do século XIX, surge num período de ascensão liberal na Europa (que incluía o seu país) e a paralela reacção das monarquias – na Rússia personificada pelo czar Nicolau I (1825-1855). Este aproveitou-se do apoio de líderes monárquicos do Ocidente para promover uma brutal repressão aos representantes dos novos ideais no interior do seu império – recrudescendo a opressão através de uma intrincada burocracia que seria frequentemente alvo da ironia de Gogol.

Em 2005, o escritor aparece como protagonista num lançamento da mesma editora – a obra “Nicolai Gogol – Biografia”, livro escrito por outra celebridade literária russa, o escritor Vladimir Nabokov.

Roni Emerson Nunes

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