Catástrofe Humanitária em Darfur

Não só há 750.000 pessoas internamente deslocadas na região de Darfur no sul do Sudão, fora do alcance das autoridades e das agências humanitárias, há também uma política sistemática de limpeza étnica, comparável ao genocídio em Ruanda em 1994.

A situação na região piorou desde a semana passada, quando Pravda.Ru publicou um relatório sobre a situação das 750.000 pessoas internamente deslocadas, sem possibilidade de sairem da região devido às batalhas entre as Forças Armadas do Sudão/milícias apoiadas por essas forças, e as forças locais que representam a população não-Árabe da região, que querem expulsar.

Não só é uma guerra de guerrilha, o que está a acontecer na região é limpeza étnica numa escala massiva. As milícias apoiadas pelo governo – Janjaweed, Muraheleen e Forças Populares de Defesa estão a lutar contra as tribos Dajo, Masalit, Tama, Tanjur e Zaghawa, que formam o grupo étnico Fur. É uma luta de árabes contra africanos-negros.

Oficiais da ONU estão “seriamente preocupados” depois de investigar alegações de tortura, execução sumária, violação em banda de mulheres e moças, raptos, roubo, saque, fogo posto e negação do direito à comida. As 750.000 pessoas presas na área não têm meio de escapar e as agências humanitárias não têm maneira de entrar.

Hoje, a ONU emitiu um relatório sobre as mudanças na região desde há uma semana: piorou, e bastante. Há graves falhas no fornecimento de água e já há surtos de doenças infecto-contagiosas, como doenças diarreicas e sarampo. Os ataques contra civis acontecem numa base constante, alargada e diária, que faz com que a população local se junte em povoações e vilas, exacerbando o problema.

Nas décadas recentes, a mistura étnica delicada que compõe este país foi posta em questão por influências externas – armaram e financiaram as tribos no norte islâmico e no sul cristão, para criar as condições para senhores de guerra locais e seus mestres estrangeiros ganharem mais poder. O Sudão, com quase 600 grupos étnicos e 400 línguas, tem todas as condições para a criação do caos.

Desde a década de 1940, o norte arábico tem estado a concentrar o poder em Cartum e tem estado a negar cada vez mais direitos no sul, africano-negro. Antes da independência do país dos britânicos em 1956, houve uma guerra civil, que continuou até 1972, quando o MLSS (Movimento de Libertação do Sul do Sudão) assinou um acordo de paz com o Presidente Nimery.

Contudo, a política de implantar a língua e cultura árabe sobre os povos no sul do país continuou a criar tensões étnicas desde então – e esta tensão foi exacerbada pela descoberta de petróleo no sul do Sudão nos anos 70, que providenciou combustível para um movimento de independência na região.

Nimery impôs a Lei Sharia em Setembro de 1983, tentando criar as condições para que Cartum pudesse aproveitar do rendimento do petróleo…mas violou assim o acordo assinado com o MLSS, que reagrupou com o nome ELPS (Exército de Libertação do Povo do Sudão). Em 1986, Nimery foi tirado do poder por um golpe de estado e três anos de governo fraco por uma coligação acabou em 1989 com outro golpe de estado por General Omar al_Bashir, o líder da Frente Nacional Islâmica, um grupo fundamentalista, nacionalista, pró-Islâmico e anti-Africano-negro. Durante a década dos anos 90, várias organizações políticas no norte do país fizeram alianças com outras forças no sul, que provocou uma divisão das forças rebeldes em facções diferentes.

Porém, o ELPS ficou, e permanece, como força popular que protege a identidade e a cultura dos povos da região – mas também defende um movimento de independência, que tiraria os recursos do alcance de Cartum.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru Traduzido por: Natália SANTOS

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