Eleições no Iraque: Sucesso ou pior resultado possível?

As fontes de notícias ocidentais estão repletas de histórias eufóricas citando as palavras “alta taxa de votação” e citando George Bush, como se ele fosse fonte de informação que prestasse: seu regime mente entre os dentes e há bem pouco tempo, ele nem sequer sabia onde se situava o Iraque no mapa.

Se para o Presidente dos EUA esta eleição é uma “façanha grande e histórica”, pouco diz para sua capacidade de compreensão política. De facto, o resultado desta eleição confirma o cenário do pior resultado possível – a partição do Iraque, antigamente uma unidade geo-política sob o governo do Partido Ba’ath e agora rasgado em três zonas distintas.

George Bush evidentemente não viu as bandeiras içadas pelos curdos no norte do Iraque e na diáspora a volta do mundo. Não eram bandeiras do Iraque, eram bandeiras curdas e Sky News não explicou o porquê das escaramuças entre grupos de rivais na Inglaterra (sunitas e curdos).

Não se trata de marcar pontos a custo da infelicidade dos outros, porque no final do dia quem sofre são os civis inocentes do Iraque mas há que analisar a estratégia de Washington e tirar as devidas conclusões, não caindo na tentação de engolir as palavras de Bush (cujo discernimento nunca foi seu ponto forte) sem questão.

De facto, o estabelecimento das zonas proibidas à aviação iraquiana durante os anos 90 seguiu as linhas étnicas que dividem o país e os actos de terrorismo de estado durante esta década pela aviação norte-americana e britânica serviram para sistematicamente destruir a base de poder do governo de Saddam Hussein enquanto aumentavam os poderes dentro destes enclaves. Mais poder aos Xiitas e Curdos, menos aos Sunitas.

A eleição de 30 de Janeiro tinha de facto uma taxa de votação bastante razoável em algumas zonas mas é precisamente aqui que reside a questão. Como foi temido, os Sunitas não votaram em números significantes, seja por medo ou seja porque não queriam dar o aval a um governo que é nada mais do que um fantoche dos EUA, país que lançou um acto de chacina contra o Iraque, país que assassinou dezenas de milhares de civis.

Alem disso, muitos dos candidatos permaneceram anónimos, por medo de represálias e daí a pergunta “Em quem é que estamos a votar?” Nunca se pode dizer que a eleição fosse perfeita e por isso, nunca é uma façanha grande e histórica.

Com dois terços da população representados, traçado ao longo de linhas étnicas e religiosas, e um terço nem por isso, o palco está preparado para mais violência, mais ataques e mais mortandade num futuro previsível, perpetrado por aqueles que já aprenderam que se ganha mais com uma arma de fogo na mão do que com um sacho. Quem sofre é o inocente cuja meta na vida é ver a família crescer em paz.

Tudo isso era inteiramente evitável. Nunca tinha de chegar a este estado. Com a idade de Saddam Hussein a avançar e com a sua doença, a transição do Iraque de Hussein para o Iraque pós-Saddam teria sido garantido num futuro próximo, sem as mortes, sem a destruição, sem o sofrimento das vítimas inocentes.

O facto que o Iraque é uma terra de cultivo para extremistas islamistas nos dias de hoje é o legado da política externa de George Bush, forjado numa abordagem agressiva e arrogante, que pertence à pior espécie de cowboiadas, civilizando a selva com a Bíblia e a bala.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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