Entre o sim e o não

O Liverpool ganhou a Copa Européia de Futebol na Turquia, país que implora para entrar na União Européia. Mas essa possibilidade se afastaria se a França e a Holanda votarem não à Constituição Européia em seus respectivos referendos, neste domingo (29/05) e em 01/06.

Os franceses tendem a recusar a carta, não por rejeição à Europa, mas por vê-la como uma contraposição a seu sistema de benefícios sociais. O 'sim' será defendido pela aliança de governos de centro-direita e social-democratas europeus, que esperam reverter as enquetes adversas, a exemplo da equipe de futebol inglesa que conseguiu virar a partida em que perdia de 3 a 0. Para eles, o 'sim' será fundamental para liberar e unir mais à União Européia (EU), fazendo-a mais competitiva no mundo.

A Constituição européia propõe continuar com os subsídios aos produtos agrários (em detrimento das exportações do Terceiro Mundo) e reivindica como parte da EU, as Malvinas (que a Argentina também quer). Sua rejeição, por isso, seria bem recebida em alguns círculos latino-americanos. Mas, em outros setores, seria percebida como um golpe no modelo que a Comunidade Sul-americana de Nações (CSN) e Mercosul querem emular, ou como um indicativo que será melhor privilegiar ao Alca.

Petróleo

A Turquia inaugura o terminal do novo duto, por onde passará 1% do ouro negro mundial, que conecta os jazigos do Mar Cáspio, via Turcomenistão-Azerbajão-Geórgia, diretamente para o Mediterrâneo. Para Washington isso será um grande triunfo, pois terão acesso direto à segunda maior reserva petroleira planetária, diante da Rússia e a Opep.

Mas a Casa Branca deve ser criticada por sua atitude dual. Por um lado ataca ditaduras hostis e, por outro, realiza bons tratos com regimes repressivos do oeste-asiático. Washington foi acusado pela Anistia Internacional de semear um mau exemplo ao mundo, ao sistematicamente torturar e violar direitos humanos em Guantânamo (chamada de nova Gulag).

Por outro lado, a Venezuela ameaça romper relações com os EUA, se este não extraditar o "terrorista" Pousada. Tudo isso e os protestos que podem vir ante os novos planos do Pentágono para colocar armas de destruição em massa no espaço, poderão ser usados pelos oponentes de Bush para desdenhar sua atual estratégia de converter-se no "guardião global pela democracia, e contra o terrorismo e a proliferação de armas de destruição em massa".

Potência bilíngüe

No âmbito interno dos EUA, a eleição de Villaraigosa como prefeito de Los Angeles (pela primeira vez que um latino encabeça uma das 2 maiores metrópoles do país), confirma que seus 40 a 60 milhões de hispanos estão convertendo em bilíngüe a única super-potência. O liberado socialismo chileno ganhou dois grandes pontos com a chegada de Insulza à secretaria geral da OEA e com a retirada da candidata democrata-cristão Alvear (deixando à sua postulante, Bacheller, a possibilidade de ser eleita como a primeira presidenta de seu país).

A Bolívia se encontra polarizada entre um ocidente dominado por marchas pró-nacionalização do gás e um oriente controlado por empresários, que pedem autonomia e garantias para o investimento privado. O presidente Mesa procura sobreviver como um árbitro no meio do campo. Mesa pode cair, se Evo Morales e a ala centro-direita não conseguirem firmar um pacto. Não se descarta um golpe (ainda que a conjuntura internacional esteja adversa a ditaduras castrenses) ou um levante popular.

Isaac Bigio é analista internacional. Foi professor de política brasileira e latino-americana na London School of Economics. Tem uma coluna diária no jornal Correo, o diário em espanhol de maior circulação no Pacífico, e escreve para dezenas de meios de comunicação dos cinco continentes.

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