A Semana Revista

George Bush na Europa

A visita de George Bush à Europa foi descrita como muitos órgãos de imprensa ocidentais como “reatamento de relações”. Quem é que as esticou até ao ponto de ruptura?

Mas foi mais sinistro do que isso. Seguiu uns comentários azedos da Secretária do Estado Condoleeza Rice sobre o Irão (que simultaneamente foi um ataque contra a política externa de Moscovo) e seguiu umas “preocupações” do Presidente norte-americano, que se esqueceu de referir a questão do acto de chacina no Iraque e a não-existência das Armas de Destruição Massiva, seu único casus belli.

Acontece que a Federação Russa de Vladimir Putin é membro do Eixo de Razão que inclui Brasília, entre outros, e insiste em resolver crises no Conselho de Segurança da ONU, não por actos tresloucados e praticamente unilaterais.

O quê é que George Bush ganhou na Europa? Conseguiu um acordo generalista da OTAN, para ajudar no Iraque, sublinhando a noção de que os EUA fazem a porcaria que querem e a OTAN tem de limpá-la.

PUTIN RESPONDE A BUSH

Palavra por palavra, Presidente russo deu resposta adequada

A conclusão oficial da cimeira entre os Presidentes Putin e Bush comunica que há muito mais pontos em comum do que divergências entre a Federação Russa e os Estados Unidos da América.

No entanto, qual é a verdade?

A verdade é que George W. Bush tinha criado um clima desnecessariamente agressivo antes da cimeira, falando das suas “preocupações”.

As “preocupações” do Presidente norte-americano foram comunicadas duma “maneira construtiva e amigável”, de acordo com as declarações do mesmo. A verdade é, que direito tem esse assassino de opinar sobre qualquer coisa que fosse, muito mais as políticas internas e externas da Federação Russa?

Uma das “preocupações” de George Bush foi a cooperação nuclear da Rússia com o Irão (ou será que ele disse “nucular”?). Outra foi a liberdade da imprensa na Rússia. Outra foi o tratamento das minorias étnicas na Rússia e finalmente, outra preocupação sobre a centralização de poder na Federação Russa.

Preocupações, pois…se alguém tivesse a preocupação de levar esse assassino a um foro de lei?

Respondendo, a Rússia ajuda o Irão a encontrar uma solução energética, produzindo energia nuclear para gerar electricidade para iluminar lares e aquecer refeições. Se bem que a palavra “nuclear” possa ser emotiva, a Rússia já disse muitas vezes que ajuda o Irão a desenvolver seu potencial civil e não militar. Quantas vezes mais será necessário bater na mesma tecla?

Relativamente à liberdade da imprensa na Rússia, Bush mais uma vez faz figura de urso, de parvo, de diminuído mental. Eu, director e chefe de redacção da versão portuguesa da PRAVDA.Ru, já perguntei na Embaixada da Federação Russa em Lisboa, já perguntei em Moscovo no Kremlin e já perguntei ao gabinete da Presidência da Federação Russa se existiam directrizes para orientar os jornalistas que escrevem para órgãos russos.

“Não podemos dar estas linhas-guia. Você tem de escrever o que quiser, o assunto é seu”, foi a resposta nas três instâncias. Já critiquei Presidente Putin, poucas vezes, elogiei-o muitas mais vezes mas só quando critico Presidente Bush é que aparecem ameaças de morte no correio eletrônico pessoal do autor

A verdade é que a imprensa tem de ser responsável. Não pode passar segredos de estado a terroristas e não pode trocar documentos por envelopes castanhos, repletos de dólares. Nada mais e nada menos do que isso.

Relativamente às minorias étnicas, a Rússia é historicamente composta por centenas de grupos étnicos. George Bush estava referindo aos chechenos, com certeza. Para a informação dele (e já agora por quê é que aquela conselheira Rice, agora Secretária de Estado, não o iluminou, visto que ela é supostamente perita em assuntos relacionados com a Rússia) cerca de 5% da população da Chechénia apoia os terroristas. George W. Bush quer tomar o lado destes também?

Finalmente, relativamente à centralização de poderes, Presidente Bush demonstra claramente que nada entende sobre a Rússia e sua história.

Washington gostaria de ver a Rússia implodir numa série de micro-estados, abrindo a exploração dos seus recursos aos EUA. Só que Vladimir Vladimirovich (Putin) não é Boris Nikolaievich (Eltsin)

Se liberdade é para Bush um acto de chacina em grande escala, para Vladimir Putin é providenciar a melhoria do nível de vida dos cidadãos da Federação.

Se democracia é para Bush a implantação dum governo fantoche sobre o povo iraquiano, depois de ter quebrado todas as leis no livro numa guerra ilegal, para Vladimir Putin é facilitar os processos de plena cidadania de todos os indivíduos de todas as nações da comunidade internacional.

Liberdade e democracia não se implantam por quebrar leis e assassinar dezenas de milhares de pessoas. Se implantam sim, por seguir os termos das leis existentes. Assim faz a Federação Russa e por isso cada Cimeira entre Moscovo e Washington mais parece um encontro entre um padre e um criminoso.

Tribunal Europeu condena Rússia

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou a Rússia pela sua política na Chechénia, pela morte de 12 civis em bombardeamentos ou por acções de militares.

E se fossem condenar os Estados Unidos da América de George Bush pelo assassínio de dezenas de milhares de iraquianos, civis, por deitar bombas de fragmentação em zonas habitacionais, por matar crianças, torturar prisioneiros, prática de sodomia e outras violações aos direitos humanos?

Mas não, se é americano está tudo bem. Se é russo, é criminoso. Se fossem a Beslan também ver aquilo de que seus queridos terroristas chechenos são capazes? O que querem que a Rússia faça, entregar a República da Chechénia aos 5% dos extremistas e terroristas internacionais que querem desestabilizar o país?

Da Europa ocidental não se espera outra coisa. Lembram-se da exigência da U.E. que a Federação Russa explicasse o uso de força no restabelecimento de ordem em Beslan? Queriam que tratassem os terroristas com um espanador de penas?

Togo: Grande vitória para a África

Em Togo nas últimas semanas houve uma situação convulsiva. Faure Gnassingbe foi colocado na Presidência do seu país pelas forças armadas depois da morte repentina do seu pai, Gnassingbe Eyadema, aparentemente por causa destas temerem uma explosão de violência na sequência da morte do Presidente Eyadema, que esteve no poder durante 38 anos.

No entanto a União Africana insistiu que fosse estabelecida a condição estipulada pela Constituição togolesa, sob a qual o Presidente do Parlamento teria de assumir as funções de Presidente interino até a realização de eleições. Faure Gnassingbe reconheceu a autoridade da U.A. e se demitiu da Presidência, a favor do Presidente do Parlamento Abass Bonfoh.

Problemas africanos resolvidos por africanos. Bonito.

Sócrates

QUEM É O NOVO PRIMEIRO-MINISTRO DE PORTUGAL?

Líder do PS indigitado PM de Portugal

José Sócrates foi indigitado o novo PM de Portugal pelo Presidente Sampaio. Vai formar governo e deverá ser empossado em meados de Março.

José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa é filho duma família abastada que já esteve presente nas listas do JSD (Jovens Sociais Democratas). Cedo percebeu, porém, que não se sentia bem dentro deste partido e se juntou ao PS em 1981, com 24 anos de idade.

Nasceu em Vilar de Maçada, Trás-os-Montes no nordeste de Portugal em 6 de Setembro de 1957 mas passou a infância em Covilhã, no centro, onde entrou no PS nas listas da Federação Distrital de Castelo Branco em 1983 e quatro nãos mais tarde, entrou na Assembleia da República (o Parlamento), fazendo parte da oposição ao então Primeiro- ministro, Aníbal Cavaco Silva.

Com o regresso do PS ao poder em 1995, sob a liderança de António Guterres, Sócrates começou a sua ascensão no partido e na política, primeiro como Secretário de Estado do Ambiente, subindo para Ministro-adjunto do Primeiro-ministro e finalmente, Ministro do Ambiente.

Foi neste lugar que José Sócrates deu provas claras que é um homem de acção e que deixa trabalho feito. Lançou-se na difícil tarefa de implementar uma rede de aterros sanitários em Portugal, tendo completado o projecto dentro do prazo, mesmo que este foi limitado com a demissão de Guterres em 2002. Outros sucessos foram o lançamento do programa POLIS e seu envolvimento na organização do EURO 2004.

Com a escolha de Sócrates, o PS abre mais uma vez as portas ao Guterrismo, deixando em aberto a hipótese duma dupla António Guterres ou António Vitorino (Presidente) e Sócrates (Primeiro-ministro).

De filósofo, Sócrates não tem nada. É Engenheiro Civil, mas será que seus engenhos servirão para ultrapassar os limites dos critérios de convergência?

Talvez, se ele souber não lançar aquela onda cor-de-rosa e colocar as pessoas mais competentes nos lugares de destaque (pela primeira vez em Portugal).

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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