CURIOSIDADES DA TERRA DO TIO SAM

Os Estados Unidos da América foram inicialmente colonizados por seitas cristãs que fugiam de perseguições religiosas na Inglaterra do século XVII, seitas em geral bastante severas em seu comportamento moral. E a verdade é que os Estados Unidos cresceram econômica e politicamente em boa parte graças a princípios morais bem definidos e praticados: as empresas e os contribuintes pagavam zelosamente seus impostos, o estado pagava suas dívidas e o índice de corrupção era baixo.

Hoje, as coisas mudaram bastante: os mais importantes princípios morais foram definitivamente para o espaço. Meios de comunicação mentem (como os casos de dois jornalistas, um do USA Today e outro do New York Times, que inventavam totalmente suas histórias), empresas fazem balanços contábeis falsos para atrair investidores a negócios deficitários, e auditores renomados assinam tais balanços. Mas ninguém supera o governo de Bush: mentiras, justificativas absurdas, falsificação de provas, prática de torturas, desrespeito ao direito internacional, genocídio, tudo isso para agradar e enriquecer sua base eleitoral, grandes executivos e corporações.

O curioso, porém, é que os EUA mantiveram-se fervorosamente conservadores em relação à moral sexual. Para os habitantes da América Latina, da Europa e de boa parte da Ásia, é inimaginável que a exibição de um seio na TV cause um grande furor. E isso não aconteceu no Irã dos aiatolás, mas exatamente nos EUA.

Quando a cantora Janet Jackson mostrou um seio rapidamente num show transmitido ao vivo e em cadeia nacional, os norte-americanos se escandalizaram tanto, que levou o governo a fazer uma investigação para talvez incriminar Jackson por atentado ao pudor, e as emissoras reagiram com uma auto-censura, atrasando a transmissão em alguns segundos para cortar qualquer indecência (ou, também, críticas a Bush, como a feita na entrega do Oscar ano passado pelo cineasta Michael Moore). O escândalo causado pelo seio de Jackson foi muito maior do que a tortura sistemática de iraquianos por tropas estadunidenses.

Além disso, no dia 12 deste mês, o governador do estado de Nova Jersey, James McGreevey, teve que renunciar quando descobriu-se que ele mantinha uma relação homossexual, apesar de ser casado e ter dois filhos. McGreevey afirmou: "Para minha vergonha, tive amores com outro homem, o que viola meus laços matrimoniais. Foi um erro, foi uma estupidez, foi imperdoável."

Que um homem traia sua esposa e mantenha relações com outra pessoa pode ser moralmente condenado. Porém, do ponto de vista unicamente político, o que isso importa? É um problema familiar, não diz respeito à administração do estado, e McGreevey (democrata, por sinal) jamais deveria ter renunciado por tal motivo.

Outro político estadunidense tem motivos de sobras para renunciar: ganhou uma eleição de maneira fraudulenta, negligenciou relatórios de inteligência que advertiam sobre a possibilidades de atentados contra seu país no início de 2001, mantém um campo de concentração em Guantánamo, forjou acusações contra o Iraque, invadiu um país soberano, pratica torturas sistematicamente, matou até agora mais de 900 soldados estadunidenses e milhares de civis afegãos e iraquianos, vilipendiou a ONU, escandalizou a comunidade internacional e atrai o ódio de quase todos os habitantes da Terra. Porém, George W. Bush ou membros de seu governo jamais renunciaram, nem sequer pediram desculpas, e ainda por cima têm ótimas chances de serem reeleitos.

Os Estados Unidos parecem uma nação de maníacos, obcecados pelo que eles consideram um ideal de pureza sexual (nada de relações extramatrimoniais ou homossexualismo, nada de partes indecentes do corpo à mostra), enquanto a violência, a fraude e a mentira são perfeitamente naturais. Esse país é um excelente material de estudo para os psicanalistas.

Carlo MOIANA Pravda.RU Brasil

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