Ouday e Qusay Hussein mortos?

Como era previsível, as autoridades norte-americanas e britânicas celebraram a notícia de que os filhos de Saddam Hussein, Ouday e Qusay, números três e dois no regime, respectivamente, foram mortos numa operação das Forças Especiais norte-americanas na tarde de Terça-feira. Porém, quanto mais pormenores são revelados, mais parece uma daquelas encenações a que Washington e Londres nos habituaram ultimamente.

Ouday e Qusay Hussein supostamente foram encurralados numa vivenda ao norte de Mosul, no norte do Iraque, na companhia de um guarda-costas, Abdel Samad, e um rapaz de 14 anos, o filho de Ouday. A vivenda pertencia ao chefe da tribo Bu Issa, o xeque Nawaf Mohammed al-Zaidane, que disse aos americanos quem estava na sua casa, aparentemente para ganhar os 30 milhões de USD de prémio.

No assalto, em que 200 tropas das forças especiais norte-americanas e uma frota de helicópteros lutaram durante 4 horas, atirando 22 mísseis para dentro da vivenda, os corpos dos filhos de Saddam foram tão mutilados que não poderiam ser apresentados para fotografias. Assim foi a versão de ontem.

Hoje é diferente. Já vão considerar se podem mostrar as fotografias (que seria contra a Convenção de Genebra).

É quando os padrões mudam de repente que temos de estar à cautela. Examinando os factos, o que se pode dizer, pelo menos, é que a história é muito estranha.

Os dois filhos de Saddam Hussein vão colocar-se juntos, quando a regra número um nestas situações é que cada um se separa para garantir uma continuação da linha de controlo e comando?

Eles vão refugiar-se com um só guarda-costas e um rapaz de 14 anos? Ainda por cima numa zona que não é historicamente o mais favorável a Saddam Hussein, o Tikriti? Leva 4 horas para 200 tropas e uma frota de helicópteros dominar 4 pessoas com armas de fogo leves? Os corpos foram tão danificados num dia e na manhã seguinte já não tanto?

As forças norte-americanas não teriam ganho muito mais em capturá-los vivos? Foi preciso matar um rapaz de 14 anos? Não terá sido essa uma campanha de propaganda para ver as multidões a festejarem a notícia nas ruas de Bagdade? Falando nisso, onde estão estas imagens?

A verdade é que os habitantes do Iraque não festejaram a notícia, ou porque não acreditaram que 200 homens bem treinados com helicópteros e mísseis levam 4 horas para dominar três homens e um rapaz no meio do deserto, ou porque estão mais preocupados em expulsar os invasores do que celebrar a morte ou não de Ouday e Qusay.

Ou terá sido mais uma mentira monumental, mais um engodo, mais uma manipulação como era aquele documento ligando o governo de Bagdade à importação de urânio do Niger, como as afirmações que Iraque tinha um programa activo nuclear, que Iraque tinha Armas de Destruição em Massa que poderiam ser empregues dentro de 45 minutos? Haverá alguém que acredita em tudo o que afirma Washington e Londres? As fotografias, quando apresentadas, serão verdadeiras?

Finalmente, Tony Blair precisava de dizer “Ótimas notícias!” quando soube que duas pessoas tinham sido mortas?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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