A cegueira dos média perante a África

O conto de sofrimento humano na África é tão repetitivo e constante que passa praticamente despercebido na maioria dos média a volta do mundo. Hoje, menciona-se a Argélia por causa do terramoto que ceifou as vidas de centenas de pessoas numa noite.

Thenis, o epicentro do terramoto 61 quilómetros a Leste do capital, Algiers, é uma pilha de detritos, com centenas de pessoas ainda debaixo dos escombros dos edifícios, que caíram como casas de cartas. Fontes locais afirmaram à Pravda.Ru que pelo menos 578 pessoas morrerem, há cerca de 5,000 feridos e provavelmente muitas centenas ainda por encontrar.

Por trágico que este incidente seja, as milhares de mortes por dia no continente africano, todos os dias, todas as semanas de todos os anos, em conflito e por doença, já não aparecem nas primeiras páginas porque não respeitam as normas do jornalismo moderno: um clímax quinzenal para atingir e depois esquecer depois do circo ter encontrado outra história de destaque. A África não cabe neste molde, os surtos da ébola sendo a excepção devido às características horríveis desta doença. Os milhares de casos de disenteria na República Democrática do Congo, entre os dezenas de milhares de pessoas internamente deslocadas na região de Bunia, encontram um muro de silêncio. Os ataques com morteiros contra os campos de refugiados da ONU, que causaram dezenas de vítimas, também.

A luta sangrenta pelo poder entre os grupos de milícia Lendu e Hema na RD Congo, para controlar os consideráveis recursos minerais na zona, não merece menção sequer. Os massacres e execuções na cidade de Bunia, que deixam dezenas de corpos apodrecendo nas ruas, incluindo os de mulheres, crianças, padres, merece um encolher dos ombros.

Quem fala é a Organização das Nações Unidas, que pede a todos os países que podem, para impedir que uma catástrofe humanitária aconteça antes que seja tarde demais. Contudo, a ONU como instituição foi tão completa e totalmente desrespeitada e desautorizada recentemente pelos EUA, Reino Unido e os seus apoiantes, Espanha, Austrália, Portugal e Polónia, que o resultado dos seus pedidos não passa dum encolher dos ombros. As forças do Mal venceram afinal as forças do Bem.

O silêncio da imprensa colude com a noção de que o homem comum é impotente e nada pode fazer para restabelecer a situação em que se respeita a lei. O silêncio da imprensa nada faz para chamar a atenção da raça humana para o que está a acontecer na África, onde os indivíduos, privados de recursos, privados da internet, não têm meios para fazerem ouvir as suas vozes.

As milhares de pessoas internamente deslocadas, apanhadas no meio de violentos conflitos étnicos na Libéria fazem notícias no edifício da ONU, mas só aí. Só aí é que as pessoas ouvem falar dos LURD e o novo grupo rebelde, MODEL e as atrocidades perpetrados por eles e contra os seus apoiantes. Sem sequer uma menção, os milhares de pessoas deslocadas e em risco na Serra Leoa (17,000) e Costa de Marfim (38,000).

Fossem eles norte-americanos ou europeus, fossem eles brancos, das nações “desenvolvidas”, a história seria bem diferente – e estaria nos cabeçalhos de todos os jornais. Porém, ser “desenvolvido” é mais do que um estado passivo, é uma maneira de ser e um título a merecer, através de acções e expediência.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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