Iraque: A Jóia na Coroa de George W. Bush

A coisa mais absurda acerca de George W. Bush é que ele está convencido que tem razão. Duas guerras ilegais, milhares de civis assassinados, crimes de guerra, a quebra da Convenção de Genebra, tudo é varrido por baixo do tapete com frases como “O mundo está melhor agora”.

O mundo está melhor depois de quatro anos de Bush? Onde?

Iraque

A campanha Liberdade e Democracia, ganhando Corações e Mentes com tácticas de Choque e Pavor, é uma oportunidade de vermos como crenças jingoístas e xenófobas, ideias simplórias para simplórios, quando aplicados como instrumentos da gestão de crises por nações como os EUA, conseguem ultrapassar aquela barreira que contém a loucura antes visto só em casos como a Alemanha Nazista de Hitler e Himmler.

A chacina de civis inocentes, as câmaras de tortura, a destruição de lares de inocentes, o assassínio de crianças, o estupro de mulheres...está tudo aí, enquanto o Iraque desce para o foro de caos.

Será que o Iraque está melhor? É melhor como país? Há mais segurança no emprego? Há melhor policiamento? Há menos criminalidade? As infra-estruturas funcionam melhor agora que foram obliteradas por armas de precisão? A matança parou? O Iraque mantém-se livre de terrorismo? Há mais segurança nas ruas? A população está livre de tortura?

O legado de Bush é que apesar de ter gasto mais que um ano e quase duzentos mil milhões de dólares (200.000.000.000 ou duzentos bilhões de dólares), o Iraque está em caos, a sua sociedade destruída porque Bush queria impor uma democracia bonitinha num país que nunca a teve e onde o tribalismo é mais importante que o nacionalismo, impôs uma mão cheia de homens comprados no governo, que quase não tem poderes executivos, as infra-estruturas do país estão uma pilha de lixo e terroristas e extremistas jorram para dentro das fronteiras com cada dia que passa. Isso é que é “melhor”?

A Comunidade Internacional

“O mundo está melhor”. Ai é? Nunca antes se viu tal clima de medo, de ataques terroristas na Europa, onde os milhões de Euros necessários para acções de solidariedade e segurança social estão a ser gastos em acções de segurança militar. Nunca antes se sentiu a fantasma de terrorismo internacional a pairar sobre o Velho Continente como agora.

A Europa não está mais segura. É muito mais perigoso e podemos culpar a política agressiva de Washington por isso, enquanto utilizou a força e a chantagem para persuadir os lacaios da OTAN a fazer seu trabalho sujo por ele, contra a opinião pública, causando a tragédia em Madrid. Até agora, se não haver mais chacina noutras cidades.

O legado de Bush na Europa é que ele colocou lenha na fogueira do anti-americanismo numa altura em que era preciso adotar uma abordagem mais inteligente, se bem que isso para Bush seria impossivel. A Europa está melhor?

Os Estados Unidos da América

Será que os EUA estão mais seguras agora depois de quatro anos de Bush? Ou será que a presidência de Bush antagonizou practicamente todos os fanáticos no planeta e instigou-os a agirem contra os Estados Unidos e contra os norte-americanos em todo o globo, agindo contra aquilo que é percebido, e com razão, como o imperialismo de Washington?

Os norte-americanos se sentem melhores agora do que em 2000? Ou se sentem mais inseguros, mais apavordados, com mais medo do intruso? Têm mais fé no mundo árabe? Acham que a questão do Médio Oriente está mais perto de se resolver? Podem dizer que o seu mundo está melhor?

A gestão internacional

Quando se é presidente dum país grande, há mais responsabilidades impostas na figura eleita para liderar não só este país mas para participar com responsabilidade na resolução de crises a nivel internacional, quando isso for da vontade da comunidade internacional.

Isso não quer dizer que tem o direito de substituir a diplomacia por beligerãncia e chantagem, desrespeitando por completo as organizações internacionais e a comunidade internacional numa altura em que o mundo estava a tentar resolver questões importantes e fundamentais para o desenvolvimento dum sentido de Comunidade.

Veio o cowboy, rude, sem qualquer ética nem etiqueta e abancou-se na mesa do rei, arrotou para o ar, atirou os ossos para a rainha, urinou no chão, defecou no bolo, cuspiu para o lado, colocou os pés em cima da mesa, violou a muida que servia a sopa, torturou o garçom, tirou uma matralhadora e chacinou metade dos convidados.

Que bela maneira de fazer gestão de crises. O Afeganistão está mais estável? O Médio Oriente está mais perto duma resolução? Os Objectivos do Milénio para Àfrica estão a ser conseguidos? O Mundo está melhor?

A questão moral e ética

George Bush e seu regime espetaram uma faca nas costas da comunidade diplomática. A diplomacia de Washington hoje em dia se resume em intrusão, a ameaça de força, chantagem, forjar documentos e mentiras descaradas, actos de chacina, actos de tortura, crimes de guerra, crimes contra a humanidade. Bonito serviço, em quatro anos.

George Bush e seu regime mentiram sistematicamente acerca de qualquer causa desta guerra. Mentiram à sua nação, mentiram à comunidade internacional, mentiram ao Mundo. Curiosamente, comparando Saddam Hussein e Bush, o que estava a dizer a verdade era o primeiro. Acerca de Bush podemos agora afirmar: “Este homen enganou o mundo” (“This man stiffed the world”).

Dezenas de milhares de civis foram assassinados em sangue frio. Bombas de fragmentação foram deitadas em áreas residenciais. Munições de Urânio Empobrecido foram utilizadas, deixando áreas residenciais perigosamente radio-activas. Foi quebrada a Convenção de Genebra. Houve o uso de tortura numa escala massiva, com o pleno conhecimento de altos oficiais no regime. Foi quebrada a carta da ONU por Washington, nos olhos de muitos um estado paria num mundo que quer prosseguir para outro estado de civilização, mas sem cowboyadas e sem cowboyismos.

Washington divorciou-se da comunidade internacional, divorciou o povo norte-americano das corações e mentes dos seus pares no resto do mundo. São horas para uma mudança de regime.

É esse o legado de George Bush. A glória do Iraque, a jóia na coroa do presidente-palhaço, o bimbo Bush.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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