Os camaleões da morte

Em 20 de janeiro, em Laguna Vieja, San Juan Del César, foram abatidos por guerrilheiros da 59ª Frente das FARC, Bloco Caribe, 40 paramilitares da Segunda Brigada do Exército. Entre os mortos estavam os cabeças que atuavam com os codinomes de “14”, “24”, “27”, “38” e “Centauro 6”. Estes assassinos que tantas mortes causaram, que incendiaram ranchos e casarios, que provocaram o refúgio da população, que bloquearam comunidades indígenas e famílias camponesas da Serra Nevada, que esquartejaram suas vítimas inermes, que extorquiram pecuaristas e comerciantes, que humilharam a população civil com o beneplácito do exército oficial já não voltarão a suas andanças porque os fuzis do povo nas mãos das FARC troaram para fazer justiça.

Hoje estão de novo na zona, mas desta vez o fazem como exército oficial, com helicópteros, aviões, desembarques, barreiras e bloqueios. Estes camaleões da morte, são o exército ou são paramilitares, segundo a interpretação desvirtuada do comandante da Brigada. Simplesmente mudam o bracelete distintivo. Os que vão à frente do operativo dizem aos atemorizados indígenas e aos camponeses: “os que vêm atrás, esses sim, vêm cortando cabeças”. É o terrorismo de Estado em plena ação, provocando o êxodo da população que, obrigada pelas circunstâncias, prefere este mal à morte.

A mesma coisa está ocorrendo na grande extensão da Nevada que abarca desde San Pedro de la Sierra até o próprio Valledupar. Através de ações aerotransportadas o exército bloqueou os casarios de San Pedro, Sibéria, San Javier, Palmor, Santa Clara, El 50 e Sacramento. Bloquearam as entradas. Mantêm sob racionamento a entrada de alimentos. Quando saem para patrulhar o fazem com o bracelete negro da morte, o das AUC. Os que ocuparam San Pedro fizeram desaparecer 12 camponeses no distrito do Mico. Os de El 50 e Santa Clara instalaram um morteiro de 120 milímetros que disparam a torto e a direito destruindo ranchos indígenas e colocando em risco a vida dos habitantes dessa zona. Cobram imposto dos camponeses e indígenas por cada saca de café, milho, feijão ou malanga que levam para vender no povoado; e de regresso não lhes permitem entrar mercadorias senão até certos pontos, os estabelecidos arbitrariamente por qualquer capitão, tenente ou matador paramilitar.

Para os lados de Chimila, San Francisco e Villa Germânia, a modalidade operativa paramilitar do exército não oferece maiores variações. Nas estações e pontas carroçáveis da Sierra Nevada, os paramilitares da segunda brigada do Exército estabeleceram um sistema comercial abusivo no qual compram ao preço que lhes convêm toda a produção agrícola e ali mesmo vendem aos indígenas e camponeses produtos elaborados, tudo pesado, racionado e a preços especulativos. E as autoridades fazem vistas grossas porque são farinhas do mesmo saco.O governador do César, Hernando Molina, é um paramilitar declarado. Nas eleições passadas foi candidato único por imposição dos paramilitares da Segunda Brigada, os quais obrigaram os demais candidatos a renunciar sob ameaças de morte. E apesar disso, quase perde com o voto branco, expressão do cansaço da população com o paramilitarismo e o terrorismo de Estado. O governador do Magdalena, senhor Trino Luna, foi eleito com o mesmo recurso impositivo e fraudulento.

O que ocorre em Valledupar é aberrante: com a aprovação do exército e da polícia, os paramilitares montaram um escritório paralelo à DIAN (ente estatal encarregado da arrecadação dos impostos) onde são cobrados impostos por toda atividade que empreendam os cidadãos. Ao comércio, às lojas, aos armazéns, aos vendedores de vinho, aos taxistas (os quais devem pagar 20 mil pesos mensais), às empresas de transporte, etc. Aqui se configura o abuso de uma dupla tributação ao Estado. Em Valledupar como em Santa Marta montaram o usureiro sistema do “pagadiário” no qual se empresta dinheiro pela manhã aos vendedores ambulantes e à tarde têm que devolve-lo com 20% de juros, senão morrem. Os paramilitares controlam as praças de mercado e são donos dos grandes depósitos de víveres e barrotes. Patrulham abertamente pelas ruas e assassinam miseravelmente. Onde está o Procurador Maya, o vallenato, que não sai para defender seus concidadãos e paisanos? Não há justiça. A maioria de Procuradores e juízes do Palácio da Justiça são deles, dos “paracos”. O diretor da “Tramacúa” – prisão de máxima segurança -, também é deles e com eles trabalham também os do INPEC. Controlam totalmente o sistema judicial que lhes garante a impunidade. O novo prefeito de Valledupar é primo de “El Papá Tovar” ou codinome “40”, chefe paramilitar a quem lhe foram devolvidas pelo exército e polícia 4 toneladas de cocaína que lhe haviam sido confiscadas em Barranquilla. O cidadão comum se pergunta: Onde está a Defensoria do Povo? Definitivamente nos departamentos (estados) do César e do Magdalena o Estado está a serviço do crime.

Por isso é que ninguém os toca. Por isso é que, em La Mesa, aí juntinho ao batalhão La Popa, delinqüe e opera sem sobressaltos uma tenebrosa base paramilitar sob comando do codinome “Medellín” ou “39”. Próximo a Codazzi, nas proximidades do Perijá, também há uma base paramilitar conectada com o exército e a polícia. E naturalmente ali imperam o terror e a impunidade.

O comandante da Segunda Brigada é na realidade o comandante em chefe de todos os “paracos” que no estado do César e do Magdalena massacram, despojam, fazem desaparecer, desalojam e humilham a população civil indefesa. Os camaleões da morte umas vezes utilizam distintivos do exército e em outras o bracelete das AUC, e com isso crêem ter construído a perfeita teia-de-aranha de sua impunidade. Mas também sabem que se esta chegar a falhar podem contar com o “coração grande” de seu presidente Uribe, - militante ativo do paramilitarismo – e também com a lei de “alternatividade penal” com a qual o Estado projeta recompensar os mais sanguinários chefes paramilitares. É justa a exigência de que o país conheça a verdade sobre os nexos do Estado, do exército e da polícia com essa infernal máquina de guerra que é o paramilitarismo.

O exposto até aqui tem ocorrência em uma parte do país, mas é uma mostra que ajuda a compreender o terrível flagelo do paramilitarismo de Estado que castiga a Colômbia. Os procedimentos são parecidos; só que o saldo de sua atuação criminosa adquire dimensões pavorosas: são milhares e milhares os mortos e desaparecidos, enquanto que os camponeses refugiados somam mais de 2 milhões. Estes últimos perderam tudo: seus seres queridos, sua terra, seu sustento, seus cultivos e gados. Em suas recordações ainda se escutam os disparos e a brutal moto-serra dos esquartejamentos. E ainda lhes doem suas casas incendiadas e a indolência do governo.

O paramilitarismo é uma estratégia contra-insurrecional do Estado cujo alvo principal é a população civil. É uma estratégia desalmada, erigida sobre um orçamento absurdo e cruel: seus promotores crêem que provocando o êxodo dos camponeses através das matanças, do incêndio e do terror poderão conseguir assim o objetivo de derrotar a guerrilha, porque, segundo sua enviesada lógica, desta maneira estariam impedindo o abastecimento logístico da mesma e o ingresso de jovens em suas fileiras. Os militares honestos e bolivarianos seguramente devem experimentar uma sensação de asco diante destas doutrinas de alienados, insufladas pelos ianques.

ESTADO MAIOR DO BLOCO CARIBE DAS FARC-EP

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