Carta aberta aos cidadãos dos Estados Unidos da América

Caros e prezados amigos,

Como jornalista que tem a sorte de escrever para um jornal internacional que tem mais que três milhões de leitores diários, número que cresce com cada dia que passa, tenho a responsabilidade individual de vos informar do sentimento na comunidade internacional relativamente ao resultado da eleição em 2 de Novembro.

Como cidadãos dos Estados Unidos da América, vocês têm o poder de demitir ou endossar as políticas do regime de Bush e além disso, têm a responsabilidade colectiva perante a vossa nação e perante o mundo, que irá responsabilizá-los pela decisão que tomarem.

Eu escrevo esta carta de amizade como cidadão desta comunidade internacional e como jornalista do jornal cujo nome em russo é PRAVDA (verdade, em inglês) e por isso tenho a obrigação sempre de contar a verdade, toda a verdade e nada senão a verdade.

Posso dizer, para começar, que a vasta maioria das pessoas na comunidade internacional concordará comigo nos meus pensamentos e pedidos nesta carta aberta. Como prova disso, é preciso simplesmente ver o resultado das sondagens públicas que foram realizadas a volta do mundo, em que uma pequena percentagem de pessoas numa minoria de estados favorecia uma re-eleição de George Bush a uma mudança de regime em Washington.

É claro que não cabe a estrangeiros dizerem aos cidadãos dos EUA como hão-de votar. No entanto, visto que os mídia nos Estados Unidos são controlados e visto que os cidadãos não têm acesso à corrente de opinião na comunidade internacional, será um acto de amizade informar tais cidadãos nos EUA como pensa a comunidade internacional, sendo também o nosso direito como cidadãos do mundo exprimirmos as nossas preocupações, porque a administração de Bush não se contém nos confins das suas fronteiras. Por isso logicamente, qualquer regime que transborda os limites legais do seu território, e de forma tão agressiva, fica sujeito a ouvir as opiniões dos cidadãos da comunidade internacional.

Os eventos do 9 de Setembro de 2001 foram horríficos, tais como os em Beslan este ano. Contudo, por terríveis que fossem esses eventos, há que encará-los com maturidade e responsabilidade e tirar as conclusões devidas, não utilizá-los para justificar e perpetrar outros actos de maldade.

Infelizmente foi exactamente isso que o regime de Bush fez. Enquanto o ataque contra o Afeganistão foi perfeitamente compreensível nas circunstâncias, também é verdade que tal ataque tinha sido programado há muitos anos antes do 9/11, não por causa dos Talebã (que o pai de George Bush criou), mas sim por causa do gasoduto de Turquemenistão a Paquistão. Se terroristas internacionais viviam em Afeganistão, de certeza não estavam no Iraque.

A guerra contra o Iraque nunca teve nada a ver com o terrorismo internacional. Dum ponto de vista moral, o regime de Bush não pode ter descido mais baixo. Mentiras, documentos forjados, chantagem, prepotência e beligerância ficaram o modus operandi da diplomacia norte-americana, em vez de discussão, diálogo e debate, os fundamentais da democracia, que Bush e seu clique de elitistas corporativos atiraram pela janela fora na sua pressa de agarrem os recursos do Iraque, país que não tinha armas nucleares, nem químicos, nem biológicos, apesar das afirmações que tinha.

A verdade nua e crua é que Saddam Hussein dizia a verdade e George Bush foi o que mentia.

Os preceitos fundamentais que justificavam a guerra foram desde há muito tempo negados, precisamente pelas pessoas que olharam de frente para as câmeras e mentiam entre os dentes, dizendo que sabiam onde estavam escondidas as Armas de Destruição Maciça e onde as provas estavam enterradas.

Estas pessoas que mentiram e que perpetraram esse ultraje contra a humanidade são os membros do regime de Bush – não um ou dois membros, mas todos. Não é só o George Bush que quer ser eleito no dia 2 de Novembro – também é o grupo de pressão judeu, substancialmente importante, dentro dos EUA. Não é só Capitol Hill que controla a política externa dos EUA; é também, e cada vez mais, o Knesset, em Tel Aviv.

George Bush pode ter tentado ser um bom presidente e ninguém duvida que teria querido dar o seu melhor, porém, seus discursos, sua porte e suas limitações, bem evidentes há quatro anos, demonstram claramente que ele infelizmente não tem as qualidades necessárias. Nunca antes um Presidente dos EUA conseguiu divorciar em tão pouco tempo, seu país da comunidade internacional.

Como o Texas em que foi governador, o legado de George Bush é, e sempre será, o Lone Ranger.

George Bush foi o único chefe de estado a visitar número 10, Downing Street, no coração do seu aliado mais fiel em Londres, que teve de fugir da porta de trás por causa das manifestações na porta de frente. Aliás, nem se atreve a sair dum avião na grande maioria dos países.

Será esta a imagem de estadista em que querem votar no dia 2 de Novembro?

George Bush e sua administração passaram quatro longos anos a quebrar cada fibra de decência e cada norma em prática na comunidade diplomática. Se Nova York é anfitrião à Organização das Nações Unidas, como é que se pode justificar a quebra da Carta da ONU por atacar o Iraque fora da autoridade do Conselho de Segurança da ONU, quando cada e todas as Resoluções desta Organização, e sob a sua Carta, exigem que qualquer acto de guerra tem de ser sujeito a uma resolução separada do Conselho de Segurança?

Se Washington e Londres não percebiam que seria essa a realidade, por quê é que passaram tanto tempo e gastaram tantas energias a tentarem assegurar o voto do Conselho de Segurança? Só desistiram quando viram que a diplomacia não ganhava o dia. Por isso, deu-se origem à frase que reverbera a volta da comunidade internacional: EUA fora da ONU, ou ONU fora dos EUA.

George Bush conseguiu tornar o seu país num estado paria na comunidade internacional e perante os olhos dos cidadãos do mundo.

O legado de George Bush é infelizmente o falhanço total em tudo o que ele tentou fazer. Dentro dos Estados Unidos, cabe aos cidadãos dizerem se ele conseguiu melhorar o sistema de saúde, de educação, das pensões, se criou mais emprego, e por aí fora, porque isso não tem nada a ver com mais ninguém. No entanto, no exterior, ele entrou numa região onde foi avisado a nunca entrar e a desestabilizou.

Mas não vamos esquecermos do Afeganistão, onde reina o caos, onde reinam os Talebã, onde reina o comércio da heroína mais uma vez. Quem bonito para as cidades russas e europeias…vamos dar graças a George Bush cada vez que uma pensionista é morta aos ponta-pés porque um tóxico-dependente precisa da pensão dela para financiar sua próxima dose. O Iraque nunca foi um bastião de terrorismo, como agora admite o Rumsfeld. Hoje em dia é, só depois das forças armadas de George Bush terem destruído o tecido social deste país. Mais que um ano depois da invasão, cidades como a Fallujah estão nas mãos das forças de libertação do Iraque, provocando um pedido de socorro das forças norte-americanas ao exército britânico, criando uma tempestade política em Londres, porque algumas das práticas militares dos tropas norte-americanos são consideras como crimes de guerra perante a lei britânica.

A tortura em Abu Graib foi uma das sintomas da doença chamada o regime de George Bush e seu grupo de amigos neo-conservadores, elitistas e extremistas, basicamente um clube de miúdos super-ricos, já crescidos, que nem pensaram duas vezes quando gastaram duzentos mil milhões de dólares do vosso dinheiro num acto de chacina…dinheiro que, de certeza, vocês irão pagar e bem caro. Elejam o Bush outra vez, e haverá ainda mais a pagar.

Vocês, os eleitores, serão aqueles que pagam, não Bush, nem Cheney, nem Rice, nem Rumsfeld, nem Wolfowitz, cujas contas bancárias já estão repletas. Depois do dia 2 de Novembro, esses nem vão querer pensar em vocês, que se limitarão a ver com horror o desenvolver dos eventos, se optarem por esse clique outra vez.

A conclusão a este conto sórdido, que foi o legado de George Bush, é que existe nos corações e mentes da comunidade internacional um ódio profundo por causa dos crimes de guerra do Pentágono. O choque e pavor que sentimos, ao aprender que deitaram bombas de fragmentação em áreas civis, para as crianças iraquianas apanharem, a pensarem que eram rebuçados, para a seguir perderem seus olhos e caras e futuros e vidas, faz-nos ficar juntos e fazer um pedido solene e sério aos nossos amigos, ou a aqueles que queremos contar como os nossos amigos, no outro lado do Atlântico.

Por favor, considerem muito bem o que estão a fazer no dia 2 de Novembro. Nós queremos ter os Estados Unidos da América de volta como membro da Comunidade Internacional. Votar por Bush é votar por mais guerras, mais terrorismo, mais violência, um passo fora dos braços da comunidade internacional, que quer viver juntamente com vocês em amizade, não em ódio.

Matar e mutilar dezenas de milhares de pessoas inocentes não é um acto cristão…é um acto de maldade e basta ouvir as declarações do regime de Bush acerca deste pesadelo que acontece todos os dias há mais que um ano, para ver a frieza nos seus corações e mentes, o que provoca choque e pavor nos corações e mentes na comunidade das nações. Na Ásia, na Europa, na América Latina, em África, em Canadá.

Se não quiserem votar por outro candidato, pedimos que pelo menos não votem em George Bush, pelo que dizemos acima. Basicamente, matar ou mutilar dezenas de milhares de pessoas inocentes tem duas expressões atribuíveis: assassínio e crimes de guerra. Nunca se viu tais actos de tortura, de estupro, de violência, de assassínio desde os campos de concentração de Hitler.

Votar por George Bush é votar por um criminoso de guerra e um assassino em grande escala.

No nome da comunidade internacional

Pelo amor de Deus

Respeitosamente e com grande amizade,

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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