UMA VIAGEM À ILHA DO ANTHRAX

A ilha de Vozrozhdeniye, situada nas proximidades da fronteira entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, alojou durante algumas décadas a maior área de testes de armas biológicas que alguma vez existiu no mundo.

Os soviéticos começaram a testar armas biológicas nesse local em 1935, tendo sido fechado no ano seguinte quando o director do programa foi preso e executado durante as purgas estalinistas. Em 1954, após alcançarem os americanos na corrida à capacidade nuclear, os soviéticos recomeçaram a testar armamento biológico e a expandir o complexo instalado na ilha isolada.

Enquanto os americanos se concentravam no desenvolvimento das técnicas para adoecer as tropas inimigas, com o pretexto de que um soldado doente imobiliza mais recursos do que um morto, os soviéticos concentraram-se a trabalhar com vírus, bactérias e toxinas mais letais e contagiosas, para serem colocadas em mísseis e bombas usadas nas frentes de batalha. Um dia a URSS desmembrou-se, a ilha ficou fora da alçada russa e, aos poucos, o local passou a ser frequentado por bandos de marginais que começaram a aparecer na ilha para pilhar dezenas de milhar de toneladas de objectos e materiais de cerca de uma centena de edifícios estranhos e abandonados que existem no local, controlando também o acesso à ilha.

Primeiro começaram a concentrar-se em metais valiosos, como o chumbo, o alumínio e o cobre, e mais tarde nas condutas de água feitas de aço e zinco e nos materiais de construção. A alguns edifícios faltam os telhados devido ao abandono e ao apetite daqueles bandos por boa madeira, que é rara nas estepes a oeste do Cazaquistão. Faltam materiais no interior dos edifícios e tudo tem o aspecto de ter sido abandonado à pressa, vendo-se ainda muitos murais militaristas da era soviética. No centro do complexo há ainda vários armazéns e laboratórios que resistiram aos incêndios ateados em Maio pela expedição americano-uzbeque encarregada de neutralizar os eventuais restos de anthrax ainda existentes no local.

Nesta área de aspecto sinistro, há um cheiro pestilento no ar e ainda são visíveis as jaulas onde eram mantidos os animais usados para testes, assim como tubos de ensaio, garrafas, fatos e máscaras de protecção.

Os laboratórios trabalhavam com bactérias e vírus de variadíssima ordem, incluindo doenças habitualmente conhecidas nos animais, sendo as experiências feitas em cavalos, coelhos, macacos, porcos e ratazanas trazidos do exterior.

Admite-se hoje que há grandes hipóteses de uma praga ter contagiado a ilha, embora não seja a bactéria endémica na região que é tratada com antibióticos, mas aquela que foi criada nos laboratórios soviéticos exactamente para lhes resistir.

Um dos factores mais terríveis da ilha é o facto dos ratos serem infectados pela praga e sobreviverem, transmitindo depois o seu vírus ao homem que tem uma morte horrível em poucos dias.

Há também dezenas de toneladas de anthrax enterrado à pressa pelos russos, quando em 1988 esperavam por uma visita de inspectores ocidentais ao seu depósito original em Sverdlovsk, de acordo com a aceitação dos termos do tratado de 1972 sobre a erradicação das armas biológicas.

Vozrozhdeniye é, por tudo isto, um cenário sinistro, sobretudo por sabermos que só nessa ilha havia capacidade para matar a população total do planeta num curto espaço de tempo e essa é também a grande preocupação actual, para impedir que essas substâncias possam cair nas mãos de terroristas ou governos radicais.

Luis MACIEL PRAVDA.Ru LISBOA PORTUGAL

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