Uma pequena história da intervenção dos EUA

Por Max Boot*, para o The New York Times

Não seria irônico se a primeira intervenção militar do governo Obama ocorresse logo em Honduras? Eu admito que isto seria improvável, mas não impossível. Jovens presidentes democratas com pouca experiência em política externa geralmente sentem uma necessidade de demonstrar a sua disposição de usar a força. Pensem em John F. Kennedy e na Baía dos Porcos. Ou, para usar um exemplo mais pertinente, lembrem-se de Bill Clinton e o Haiti. Em 1994, Clinton enviou tropas àquele país para recolocar o presidente Jean-Bertrande Aristide no poder depois que este foi derrubado por um golpe militar.

Isso soa familiar?

No Haiti a nossa intervenção não funcionou tão bem. Aristide, embora eleito, não se revelou nem um democrata nem um déspota esclarecido. O país continuou tornando-se mais pobre e caótico. Ele acabou sendo derrubado em um outro golpe em 2004. E dessa vez o presidente Bush foi suficientemente esperto para dar uma carona ao presidente para fora do país - em vez de forçar a sua volta ao poder.

Esperemos que Barack Obama veja nisso tudo uma lição sobre os perigos da intervenção dos Estados Unidos nas questões internas de uma outra nação - algo do qual ele está bem consciente em se tratando do Irã. Mas ele parece bem menos reticente quanto a interferir nas questões internas de Israel ou Honduras.

Ele e a secretária de Estado, Hillary Clinton têm denunciado estridentemente a ilegalidade do recente golpe que derrubou o presidente Manuel Zelaya. No entanto, a questão da legalidade daquilo que ocorreu é nebulosa. O exército alegou que estava simplesmente executando uma ordem no sentido de prender e exilar Zelaya. Teria sido melhor se o presidente tivesse sofrido um impeachment ou sido julgado, de forma que pudesse organizar uma defesa legal, mas o lado anti-Zelaya apresenta bons argumentos quanto à ilegalidade das ações do presidente.

Não houve nada de legal quanto às tentativas de Zelaya de organizar um referendo fraudulento que lhe teria permitido continuar no poder, em desrespeito à decisão do Supremo Tribunal de Honduras. Ele estava nitidamente mobilizando-se - no estilo do seu patrocinador, o presidente venezuelano Hugo Chávez - no sentido de aumentar o seu poder por meios truculentos, mantendo desta forma um invólucro de democracia eleitoral de cerne oco.

Trata-se de uma situação complexa, e é difícil justificar que os Estados Unidos deveriam empregar o seu poder e prestígio para impor a volta de Zelaya ao poder. Os Estados Unidos deveriam empenhar-se em agir como um mediador honesto para ajudar todos as partes a chegar a um acordo e, mesmo se isto não acontecesse, para fazer com que o processo eleitoral voltasse a ser plenamente funcional.

Obama, Clinton e o resto do governo deveriam, sem dúvida, manifestar apoio à democracia - que significa o império da lei, e não simplesmente votações. Golpes militares não são mais a maior ameaça à democracia latina. O perigo agora são os demagogos esquerdistas que reprimem a oposição e acumulam poder em suas próprias mãos após serem eleitos. É este exatamente o perigo que muitos hondurenhos viram baixar sobre o país.

*Max Boot é detentor da bolsa Jeane J. Kirkpatrick do Conselho de Relações Exteriores para estudos sobre segurança nacional. Recentemente ele lançou o livro War Made New: Technology, Warfare, and the Course of History, 1500 to Today / A Guerra Renovada: Tecnologia, Beligerância e o Curso da História, de 1500 aos Dias Atuais. Atualmente ele está escrevendo uma história da guerra de guerrilha.

Tradução: UOL

Tomado do Vermelho

Texto: Por Max Boot*, para o The New York Times

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