Quando cortar empregos se considera um investimento

A nova abordagem “linha de fundo” é seguida pelos monetaristas, que adoptam um ponto de vista liberal relativamente à economia, em que o resultado final justifica os meios, desde que produz um lucro cada vez mais gordo, despesas cada vez menores e estruturas cada vez mais reduzidas. Basicamente, esta abordagem se resume em reduzir a dimensão das empresas e departamentos de estado, tornando-os “eficientes” e “contabilizáveis”.

O que querem dizer esses dois termos bonitos é que em termos práticos, esta abordagem tende a enviar famílias para a drama de desemprego, numa altura em que os estados tudo fazem para dificultar a vida do recem-desempregado. Em Portugal, por exemplo, um novo desempregado tem de esperar às vezes sete meses até receber o primeiro cheque da Segurança Social. O quê é que as pessoas são supostas a fazer? Prostituirem-se? Roubar? Ir ao mercado e apanhar folhas velhas de couve e pedir uma cabecinha de peixe para fazer uma sopinha? Pedir na igreja?

Um exemplo clássico do Partido Socialista virado à direita, é o New Labour britânico, liderado por Tony (ou será Tory?) Blair. A revisão das despesas publicada ontem parece uma campanha de choque e pavor do estilo Bush e semonstra que entre um regime supostamente do centro esquerda e um regime assumidamente à direita (Portugal), o espaço é zero.

Para providenciar fundos para melhorar a qualidade dos serviços públicos, Gordon Brown, o Ministro das Finanças, vai cortar 104.000 empregos. Cento e quatro mil empregos, quer dizer pelo menos cento e quatro mil famílias.

Embora muitos destes terão pacotes de reforma antecipada, nem todos serão cobertos e embora se irão criar novos empregos, com certeza não serão 104.000.

Como era de esperar, os Sindicatos irão responder com acção industrial e greves. E têm razão. Numa altura em que a direita ocupou todo o palco político, chega a altura para a Esquerda fazer ponto da situação, analisar as opções e reagir.

Entre estas opções figura a capacidade de falarmos através duma imprensa verdadeiramente livre e apontar os muitos pontos negativos das políticas liberais e monetaristas da direita, que levam a um grau zero de segurança social, de instabilidade, lançando famílias inteiras para o pesadelo de nem saberem de onde vem a próxima refeição, criando uma ausência de qualidade de vida.

São estas as áreas em que a Esquerda deveria estar a lutar. As políticas dos partidos sociais democratas ou socialistas são iguais: favorecem um tipo de sociedade em que cão come cão e o Diabo leva o que estiver mais fraco. Foi por isso que foram eleitos?

E providenciar serviços públicos? Segurança social? Uma clima de segurança no emprego? A alegria de viver? A confiança para adquirir uma casa e gozar espaços culturais?

Como é que as pessoas podem gozar as suas vidas se nem sequer têm estabilidade de emprego ou segurança social? Se não podem comprar uma casa ou um carro porque estão presos por uma pele numa porcaria dum contrato a prazo que pode não ser renovado?

Isso chama-se governar?

Como é que alguém pode considerar sério um governo que corta 104.000 empregos para libertar fundos? O New Labour de Tony Blair e Gordon brown é o Partido Conservador com uma nova face, com outra cor mas com o mesmo credo.

Que vergonha que os Socialistas se deixaram levar pela direita e que vergonha que no Reino Unido de hoje, há um primeiro-ministro que é um criminoso de guerra, um assassino e um incompetente que traiu os seus valores e os valores da Esquerda.

Tal como ele, os outros Partidos Socialistas abandonaram a Esquerda e filiaram-se nas fileiras dos sicofantas que vão a Washington lamber as botas do mestre, seguindo as mesmas políticas que entregam o mundo às corporações que gravitam à volta da vida política em Capitol Hill.

São uma cambada de traidores. A única esperança para termos uma vida digna e completa, com segurança e com qualidade, é que as pessoas se fartem deste tipo de humilhação e começam a acordar. Mas para isso os partidos da Esquerda têm de estar à altura.

A ver se eles estão. Se falassem mais entre eles em vez de estarem de costas viradas...

John ASHTEAD PRAVDA.Ru LONDRES REINO UNIDO

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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