Rússia no mercado dos cereais do Mediterráneo

As exportações russas de cereais para o Egipto, tendo em conta os fornecimentos de Maio - Junho do ano corrente, constituem 24% das importações egípcias destes produtos, informou o Ministério russo da Agricultura e a Agência de Compra de Produtos Alimentares do Egipto (GASC).

Tendo em conta que os cereais russos são fornecidos àquele país pelo segundo ano consecutivo, pode-se dizer que Moscovo "suplantou" já os parceiros egípcios tradicionais - a França e a Argentina, cujas exportações constituem 18% e 20%, respectivamente. Assim, a Rússia passou a ocupar a segunda posição, cedendo apenas aos EUA, que vendem cereais no âmbito de acordos de longo prazo e mediante o sistema de créditos.

Uma das características do comércio de cereais russo-egípcio é que, para além dos concursos internacionais, o Cairo faz compras directas - em Abril adquiriu 30 mil toneladas de trigo e nos inícios de Maio 250 mil toneladas. Deste modo, no começo de Junho, o total das importações foi de 1,85 milhões de toneladas. Lembre-se que há 100 anos, a Rússia exportava trigo para metade da Europa, estimando-se agora em apenas 6 milhões de toneladas por ano. Para este ano, os cálculos do Ministério da Agricultura apontam para 8-9 milhões de toneladas.

Entretanto, a elevada actividade dos "traders" russos tem posto de sobreaviso os agentes do mercado do Mediterrâneo. É que o número de contratos e o volume das exportações russas permitem falar de "mudança do estatuto da Rússia, que passa a intervir directamente nos mercados".

Convém recordar que, nos últimos anos, entre os maiores importadores de cereais russos figuram o Líbano e Israel (no Médio Oriente), o Egipto, Tunísia, Marrocos (no Norte de África), a Itália e a Grécia (na Europa Meridional) e o Azerbaidjão e a Geórgia na CEI. O trigo de forragem tem sido exportado ainda para a Itália, Espanha e o Brasil (em troca das importações de carne). Antes, os países referidos exportavam cereais provenientes dos EUA, Austrália e Europa. Mas ao contrário dos EUA, que mantém a liderança, a UE está saturada de reservas de trigo.

Em Abril de 2005, o Comité Europeu de Cereais permitiu importações de 102,797 mil toneladas de cereais no âmbito das sub-quotas para o trigo de média e de baixa qualidade. No 2.º trimestre de 2005, 40% das quotas já foram utilizadas.

É evidente que estes países exportadores de cereais não podem "resistir à tentação" de comprar o trigo russo, barato e de qualidade. O Egipto, por exemplo, comprou à empresa russa "Iugtransitservice" 30 mil toneladas de trigo ao preço de 125 dólares por tonelada nas operações FOB.

Ao mesmo tempo, a entrada de empresas russas nos mercados concorrenciais poderá levar à baixa dos preços, ditados pelos principais exportadores (EUA, Argentina e França).

Um dos factores do êxito de exportadores russos tem sido a elevada operacionalidade dos serviços alfandegários que, a partir de Fevereiro, permitiram as exportações sem a necessidade do certificado do Roskhlebinspekcia (Departamento de Verificação da Qualidade de Pão, abolido em Março) até que entre em vigor o novo Código de Normas de Verificação dos Produtos de Panificação. Dentro em breve, será criado na Rússia um instituto independente, responsável pela certificação do trigo destinado à exportação.

Qual são previsões para a colheita de cereais no ano em curso? De acordo com Aleksei Gordeev, ministro da Agricultura, em 2005 deverão ser produzidas 66 - 70 milhões de toneladas, o que mostra uma diminuição de 8 toneladas face ao ano anterior. Isto deve-se, antes de mais, ao atraso de cerca de duas semanas na sementeira primaveril por causa do frio. Assim, pelos vistos, serão adiados para os finais do Outono os prazos da colheita, para não falar de eventuais perdas e da baixa de qualidade.

Mas estas são as projecções prévias, devendo surgir estimativas mais exactas daqui a um mês. A empresa norte-americana USDA prevê que, em 2005-2006, a colheita de cereais não ultrapassará 45 milhões de toneladas, das quais serão exportadas 6-6,5 milhões, mantendo-se assim o nível deste ano.

O ministro Gordeev está convencido que a quebra prevista (se ela realmente acontecer) "não afectará, de modo algum, o abastecimento do país. No que respeita ao volume exacto de trigo a exportar, este será calculado nos meados do Verão.

Vassili Zubkov observador económico RIA "Novosti"

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