As falhas no modelo capitalista-monetarista

O modelo capitalista-monetarista não é perfeito. Para esconder e disfarçar suas falhas, seus expoentes tentam encobrir os desequilíbrios que cria através de mentiras e hipocrisia, enquanto simultaneamente, continuam a perpetuar a vida do modelo falhado ao custo das nações em desenvolvimento.

Um dos preceitos básicos do modelo capitalista-monetarista é que a equação começa com um factor constante de desemprego endémico (desemprego a 4% é tido por muitos defensores deste modelo como um número “perfeito”) que por sua vez cria graves problemas sociais, quando a exclusão social se torna marginalização. 4% são marginalizados desde o início, e porque em cifras de emprego não são contabilizadas vários sectores de sociedade (os que nunca tiveram emprego, os que estão numa situação de semi-emprego, os incapacitados de trabalhar), de facto a figura é dramaticamente mais alta. Exclusão por isso é um preceito fundamental.

Outro factor constante é o preceito que a riqueza e meios de produção serão controlados necessariamente por um clique restrito de elitistas. No caso de Estados Unidos da América, este elite gravita a volta da Casa Branca, ditando a política externa e pedindo guerras para que o Pentágono possa distribuir contratos para armas testadas em batalha, e destruindo infra-estruturas para que se possa distribuir contratos bilionários sem concurso público. O regime de Bush é talvez o epítome das falhas do modelo capitalista-monetarista, com seu défice de trilhões de dólares e com sua necessidade de invadir terras alheias, como se vê tão claramente no mundo de hoje.

Contudo não é só na política externa, que substancia o sistema, onde o modelo tem falhas graves. É na composição da fórmula básica em si. Enquanto os países que expõem esse modelo pregam práticas de comércio livre na Organização Mundial do Comércio, será que na prática, praticam o que pregam?

Ou será que eles impõem impostos e taxas sobre os bens que entram na sua área económica e distribuem subsídios para tornar mais baratos seus produtos, depois utilizam estas situações como alavancas em negociações com países em desenvolvimento, esforçando-os a abrir seus mercados, permitindo que bens mais baratos, produzidos sob sistemas de produção mais eficientes (ajudados por tarifas e subsídios), inundem os mercados regionais nos países que tentam desenvolver-se?

Tal é o caso enfrentado pela Quénia hoje, que está prestes a ver uma queda de 2% na sua taxa PIB porque bens mais baratos oriundos da União Europeia vão inundar os mercados locais após 2008, deixando largas secções da força de trabalho, numa variedade de sectores económicos, redundantes. A hipocrisia no modelo cria a necessidade de praticar métodos comerciais injustos que vão contra cada preceito da filosofia de livre comércio e economias orientados pelo mercado. De facto, baseado naquilo que se vê hoje, podemos concluir que tal noção não existe porque os países que afirmam que esse modelo é o melhor, não conseguem pô-lo a funcionar sem trair os seus preceitos base.

E o que acontece a seguir? Desesperados para encontrarem um emprego, os recém-desempregados nos países em desenvolvimento são esforçados a procurarem trabalho fora, nos países desenvolvidos, onde, enquanto houver empregos que pagam muito mais dinheiro do que estas pessoas poderiam ganhar nos seus próprios países, haverá sempre um mercado para eles.

E o quê é que fazem os países desenvolvidos? Depois de séculos de colonizar terras alheias, impõem políticas restritivas de imigração, que tornam situações desesperadas piores ainda. Há que realçar que dada a inversão no pirâmide etário, as economias necessitam de mais imigração para financiar o sistema e daí que os imigrantes continuarão a vir, quer legal, quer ilegalmente. As políticas restritivas empurram a situação para a clandestinidade, dando poderes a criminosos que controlam redes de tráfico.

Esses elementos criminosos conseguem corromper as sociedades em que vivem por comprar favores, enquanto aumentam as suas actividades para outras áreas, que degradam ainda mais as sociedades. É outro factor constante e fruto do facto que só um clique de elitistas consegue controlar a riqueza. Muitos destes controlam a droga também. Basta comparar a situação na Europa de Leste relativamente a crime, droga e pornografia, por exemplo, antes e depois de 1989.

Dado que o modelo capitalista-monetarista se baseia numa obsessão com a linha de fundo, não só tem tudo de reduzir os custos, também tem de mostrar lucro, porque os que controlam os meios de produção estão sempre atentos às margens,

Isto tem consequências graves, eventualmente, para os sistemas de cuidados de saúde, que degeneram num tipo de tratamento em que tudo depende de quanto pode pagar e os sistemas de educação, que são inteiramente inflexíveis e não têm a capacidade de lidarem com as tensões sociais criadas pelo sistema.

Vamos por exemplo analisar a situação entre os “filhos de imigrantes” – e tive o cuidado de não dizer “imigrantes” – na Europa de hoje, onde os sistemas de educação falharam rotundamente em vários países no seu dever de integrar estas crianças. A maioria silenciosa não reage, mas a mão cheia daqueles que explodem em actos de violência é uma reflexão do desespero sentido por estes jovens, que vivem no meio de duas culturas e sem qualquer esperança de se integrarem em qualquer uma delas.

Finalmente, um exemplo da continuação da mentalidade tão presente no modelo capitalista-monetarista, que criou e praticou a escravatura e a colonização, ainda em 2005. Recentemente, a Wildlife Conservation Society, baseado em Novas Iorque, decidiu impor uma proibição (juntamente com o governo da República do Congo) sobre a caça de todas as espécies que vivem nas zonas de concessão da maior empresa exploradora de madeira do país.

Isso significa que o povo Baka, nómadas que habitem as florestas e que dependem deste tipo de caça para a sua sobrevivência, estão a morrer a fome, enquanto a poucos quilómetros, nas mesas dos restaurantes, carne de caça é fácil de encontrar a bons preços. Madeira antes de pessoas. Interesses económicos antes de vidas humanas.

Um belo epitáfio do modelo capitalista-monetarista, que começou com a escravatura, continuou através da sua existência a ser responsável por actos de assassínio, a invasão de terras estrangeiras para o saque de recursos, e um modo hipócrita de manter a mentira viva.

Este sistema tem falhas profundas e irreconciliáveis. Por outro lado, o modelo marxista-leninista experimentado na URSS provou que de facto é possível encontrar uma alternativa, embora que certos elementos precisam de ser introduzidos no modelo para que funcione plenamente a todos os níveis da sociedade. A União Soviética foi um exemplo brilhante que tal modelo pode ser o futuro da Humanidade – e conseguiu provar isso durante muitas décadas em que o modelo capitalista-monetarista gastava triliões de dólares a tentar sabotar o modelo Socialista-Comunista.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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