Sobre a cobertura 'midiática' dos "Diálogos de Xangrilá"

China: duas abordagens - Sobre a cobertura 'midiática' dos "Diálogos de Xangrilá" 

Pequim impôs à imprensa estatal uma estratégia de propaganda em duas vias, para a cobertura do Fórum de Segurança em Cingapura semana passada: proibiu a cobertura midiática das tensões no Mar do Sul da China aos veículos editados em idioma chinês; e liberou os veículos publicados em idiomas estrangeiros.

Enquanto a mídia internacional dedicava-se às questões do Mar do Sul da China durante o Diálogo de Xangrilá, que se realiza de sexta-feira até domingo, a mídia estatal publicada em idioma chinês recebeu ordem para nada discutir sobre tensões políticas, para não exacerbar o nacionalismo.

"Foi ordem da mais alta cúpula, provavelmente do Comitê de Publicidade do Partido Comunista, não foi coisa interna, de nossa editoria" - um jornalista disse à reportagem do South China Morning Post.

Mas jornalistas empregados de veículos da mídia estatal que publicam em idiomas estrangeiros não receberam qualquer instrução especial. Correspondentes estrangeiros e âncora de canais de televisão que transmitem em inglês puderam entrevistar delegados e especialistas de outros países.

"Por muitos anos, jornalistas que publicam em língua estrangeira, a serviço dos veículos da mídia estatal, tiveram vários privilégios em relação aos colegas que publicam em idioma chinês, porque os públicos são diferentes" - disse Qiao Mu, decano do Centro para Estudos de Comunicação Internacional, da Universidade de Estudos Estrangeiros em Pequim.

"Os coordenadores de publicidade e propaganda entendem que os chineses civis comuns, que assistem a canais de TV e leem jornais em chinês, podem ser facilmente manipuláveis e incitados ao nacionalismo. Por isso é que frequentemente os pontos principais da versão em inglês do Global Timespodem ser muito diferentes dos da edição em chinês."

Tensões no Mar do Sul da China e tensões entre China e EUA subiram de tom em semanas recentes, desde que a CNN dos EUA noticiou que navios chineses haviam enviado sinal de alerta a um avião de reconhecimento dos EUA que sobrevoava o mar.

No primeiro dia do diálogo de Cingapura, Washington acusou a China de ter alocado peças móveis de artilharia numa ilha; e 'exigiu' de Pequim "um alto imediato e duradouro" naquelas práticas. A 'exigência' recebeu resposta dura do ministro de Relações Exteriores da China.

Mas especialistas em relações sino-norte-americana disseram que, apesar da resposta dura, a delegação chinesa evitou tópicos mais sensíveis, como a resposta que a China pode decidir dar, se os EUA insistirem nos atos de provocação e nas ameaças de postar naves e aviões de guerra a 12 milhas náuticas das ilhas artificiais chinesas. Disseram que esses também são tópicos que podem elevar a temperatura do nacionalismo entre os chineses.

A delegação chinesa foi instruída a promover a estratégia chinesa para desenvolvimento de toda a região, "Um Cinturão, uma Estrada", o que implica que agora interessa mais à China evitar temas conflitantes no Fórum - disse um especialista.

Huang Jing, professor de Relações EUA-China na Universidade Nacional de Cingapura, disse que Pequim lidou com extremo cuidado e muita habilidade com as questões sensíveis, sobretudo as que envolvem relações China-EUA e China-Japão, que são temas que muito facilmente podem despertar emoções nacionalistas.

"Pequim entende que o nacionalismo pode ser efetivo para promover o governo do Partido Comunista, enfatizando o fim do "século de humilhações" pelo qual a China passou. Mas nenhum nacionalismo pode conflitar com o espírito de integração regional que inspira a estratégia "Um Cinturão, uma Estrada" - disse o professor Huang Jing. *****

5-6/6/2015, South China Morning Post
http://www.scmp.com/news/china/policies-politics/article/1816138/china-takes-two-track-approach-censoring-singapore

 

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