CONCLUSÃO DA CÚPULA DE MAR DEL PLATA

Domingo encerrou-se oficialmente a Quarta Cúpula das Américas, em Mar del Plata. O presidente norte-americano, George W. Bush, porém, deixou a Argentina mais cedo, no sábado à tarde. Segundo algumas fontes, Bush estaria bastante irritado com o presidente argentino, Néstor Kirchner. Funcionários do governo argentino, porém, desmentem esta informação.

Bush tem razões para estar irritado: o documento final não chegou a um consenso sobre a implementação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca). Este era o principal objetivo da administração estadunidense, apesar de que o tema da cúpula era “criar trabalho para enfrentar a pobreza e fortalecer os governos democráticos”. O atual governo dos EUA queria relançar a Alca, paralizada principalmente por desacordos entre os Estados Unidos e o Mercosul.

O documento final apenas refere-se às duas posições em relação à Alca: uma, dos EUA e alguns poucos países (como México e Panamá), que querem um novo cronograma de implementação da Alca; e a outra, defendida principalmente pelo Mercosul (agora acrescido com a Venezuela), afirma que, nas situações atuais, não é possível falar de cronograma. O Mercosul exige o fim dos subsídios agrícolas e a restrições a vários produtos industriais, por parte dos EUA, para poder negociar a Alca. Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela estão convencidos de que, neste caso, a implementação do acordo de livre comércio com os Estados Unidos prejudicaria suas exportações e suas economias como um todo.

A imprensa brasileira fala muito sobre o fim do Mercosul, ou pelo menos de sua debilidade, e critica a suposta falta de vontade argentina em relação à integração econômica com o Brasil e demais países da América do Sul. A Quarta Cúpula das Américas demonstrou o contrário: o Mercosul está firme, seus 5 membros negociaram uma posição conjunta em relação à Alca, e resistiram às pressões políticas dos EUA. E também mostrou que os argentinos, assim como os brasileiros, querem um Mercosul forte.

Funcionários e empresários argentinos elogiaram a coerência do Mercosul e criticaram a proposta estadunidense para a Alca. O chefe de gabinete de Kirchner, Aníbal Fernández, afirmou que “o Mercosul saiu consolidado”, e que um bloco que representa 75% da economia sul-americana não pode ser ignorado nas negociações sobre a Alca. José Ignacio De Mendiguren, vice-presidente da União Industrial Argentina, disse que, se a Alca for implementada de acordo com a atual proposta dos EUA, “corre-se o risco de manter o cenário atual: o país mais desenvolvido continua assim, e os pobres continuam pobres.” E o presidente da Câmara de Comércio argentina, Carlos de la Vega, afirmou que “foi brilhante a defesa dos interesses do país, no que deve ser uma negociação para uma zona de livre-comércio, pois se o que produzimos com eficiência (matérias-primas e manufaturas elaboradas sobre esta base) não é admitido, o que nos sobraria para vender?”

Por outro lado, em Mar del Plata e também em Buenos Aires, houve várias protestas contra Bush e a globalização. Porém, alguns vândalos, que tomaram a bandeira do “protesto político”, destruíram lojas, bancos e lanchonetes, principalmente em Mar del Plata. A ação da polícia, neste caso, foi deplorável: aparentemente tinham ordens apenas para proteger a área onde se encontravam os presidentes, e demoraram horas para controlar os distúrbios. Aliás, esta é uma falha geral do governo Kirchner, que se recusa a combater alguns grupos radicais (os chamados “piqueteiros”) que deixam toda a sociedade argentina como seus reféns, alegando que estão fazendo “protestos de cunho social”.

Carlo MOIANA Pravda.ru Buenos Aires

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