AS GARRAS DO IMPÉRIO

As preocupações de Washington com a América Latina, que estavam em secundaríssimo plano desde o fim da Guerra Fria, voltaram a ganhar vulto diante do surgimento de governos considerados de esquerda ou de relativa independência em sua política externa, a exemplo do Brasil, Argentina e Uruguai, para não falar nos casos mais problemáticos de Cuba e Venezuela. Essa nova postura ficou evidenciada com a proposta americana na última reunião da OEA, advogando a criação de um órgão de “monitoramento da democracia” nos países latino-americanos. Mesmo amplamente derrotada, a proposta deve ser vista como indicação de que os EUA não abrem mão de seus planos intervencionistas no resto do continente. O mais recente ato dessa política agressiva é a negociação com o Paraguai para a instalação de uma base militar.

Os desmentidos, principalmente do governo de Assunção, são mais semânticos do que tudo. Não haverá, segundo eles, uma base estadunidense em território paraguaio, e sim o treinamento conjunto com militares americanos em operações antiguerrilha. Esses efetivos, em número de 400 inicialmente, mas com a possibilidade de dobrar ou triplicar, conforme as necessidades, gozarão de todas as regalias diplomáticas, podendo entrar e sair livremente do país com armas e outros equipamentos bélicos. E, mais grave ainda, estarão a salvo de qualquer ação da justiça local, mesmo em caso de crimes cometidos contra cidadãos paraguaios.

Essa ponta de lança militar, na opinião de alguns observadores, dirige-se especialmente à Tríplice Fronteira (entre Brasil, Argentina e Paraguai), com a missão de vigiar de perto as atividades da grande colônia de origem muçulmana residente na região, acusada por setores da administração americana de ajudar no financiamento do terrorismo.

Sua maior preocupação, porém, como dissemos, é com a existência de regimes não confiáveis na América do Sul, ou, nas palavras de Larry Birns, Diretor do Conselho para Assuntos Hemisféricos do Centro de Estudos Interamericanos em Washington: “É a aliança entre governos de esquerda na América do Sul, que tem potencial para ampliar-se até a Bolívia e o Equador.”

Assim, vão se fechando os tentáculos do império sobre as diferentes partes do mundo. Já são mais de 20 países com bases militares dos EUA, a serviço de sua crescente política expansionista. “Caso se incluam todos os tipos de instalações que abrigam forças armadas americanas, o número delas (bases) subiria para oitocentas”, revela o escritor canadense Peter Scowen, em sua demolidora obra O Livro Negro dos EUA. Desde o fim da guerra do Vietnã, foram cerca de 180 intervenções realizadas nos diversos continentes, culminando com a invasão do Iraque e do Afeganistão.

Na América Latina, compreendendo agora o Paraguai, os EUA já têm presença militar na Colômbia, na Guiana, no Peru e no Equador, além das instalações de Guantânamo, em Cuba.

Essa presença ameaçadora estende-se por todas as áreas estratégicas, particularmente na Alemanha, Japão (são 9 unidades), Coréia do Sul, Iraque, Afeganistão, Paquistão, Tajiquistão, Cazaquistão, Arábia Saudita, Jordânia, Kuwait, Etiópia, o arquipélago inglês de Diego Garcia, em meio do Oceano Índico, que é um complexo gigantesco, com raio de ação capaz de alcançar todo o sul asiático.

Há um cerco evidente em torno de inimigos potenciais, como a Rússia e a China, e igualmente dos países árabes, detentores de 70% das reservas mundiais de petróleo, que se amplia agora sobre a América Latina.

Tal estratégia imperial tem duplo objetivo: preservar os interesses geopolíticos dos EUA e atender ao Moloch insaciável de sua indústria bélica, que responde hoje, direta ou indiretamente, por um terço da economia americana.

*José Maria Rabelo, jornalista, [email protected]

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