QUEM SERÁ O PRESIDENTE DA UCRÂNIA?

Estas serão as terceiras presidenciais desde que a Ucrânia proclamou a independência em Dezembro de 1991. Nas primeiras eleições, em 1994, ganhou Leonid Kutchma, antigo primeiro-ministro e dirigente da União de Industriais e Empresários da Ucrânia, que tinha no país a fama de "economista eficaz". Nas eleições seguintes, em 1994, Kutchma conseguiu reprimir facilmente as pretensões presidenciais do então líder dos comunistas ucranianos, Piotr Simonenko, e manter o seu cargo.

No entanto, o segundo mandato de Kutchma foi marcado por uma série de escândalos que, por diversas vezes, quase levaram à perda de poder. Tal não aconteceu, mas, no pano de fundo dos problemas internas e do estado lamentável da economia nacional, Kutchma preferiu não se candidatar às próximas eleições de Outubro, propondo como sucessor o actual primeiro-ministro da Ucrânia e antigo governador da região de Donbass, Viktor Yanukovitch, apoiado também pela elite política governante do país.

O principal opositor a Yanukovitch é Viktor Yuschenko, que fez uma carreira impressionante. Descendente de uma família de professores rurais, subiu em meados de 90 ao posto de presidente da direcção do Banco Nacional da Ucrânia, desempenhou durante um ano e meio as funções de primeiro-ministro e entrou na oposição, criando em 2002 o bloco eleitoral "Nossa Ucrânia". Nas últimas parlamentares o bloco conseguiu reunir cerca de 20% dos votos. Destaque-se que a segunda (actual) esposa de Yuschenko, Ekaterina Chumachenko, é cidadã norte-americana com grande experiência de trabalho no aparelho do Congresso, Departamento de Estado, Ministério das Finanças e até na Casa Branca.

Pelos vistos, graças a este último pormenor biográfico, muitos observadores russos e estrangeiros consideram Viktor Yuschenko como o candidato em que apostam os Estados Unidos e a Europa Ocidental. Nesta mesma linha, a visita de trabalho de Viktor Yanukovich a Moscovo em Julho último e o seu encontro com Vladimir Putin é interpretada como sinal de simpatia por parte de Moscovo.

Entretanto, analisando mais de perto as declarações de Yuschenko, podemos notar que ele não perde nenhuma oportunidade de assinalar a exclusiva importância que atribui ao melhoramento das relações russo-ucranianas.

Como declarou reiteradas vezes o líder da "Nossa Ucrânia", para o seu país a Rússia é um "parceiro singular e portanto estratégico". Para Yuschenko tanto mais lamentável é o facto de depois dos 10 anos da presidência de Leonid Kutchma o volume das exportações ucranianas para o mercado russo ter diminuído de 35-38 para 18 por cento. Se for eleito, o candidato pela oposição promete reverter esta "tendência negativa".

Embora o seu bloco eleitoral apele à mais rápida adesão da Ucrânia à União Europeia, Yuschenko não considera que nesse caso o seu país e a Rússia ficarão em dois "barcos" diferentes. O candidato pela oposição rejeita a pergunta: para onde avança a Ucrânia - para a Rússia ou para a Europa? - considerando que tal contraposição é incorrecta. Seria o mesmo que perguntar a uma pessoa com que vizinho ele prefere fazer amizade. Para Yuschenko, a Europa Ocidental é um amplo mercado mundial que dispõe dos "consumidores mais solventes" e, portanto, aqui estão concentrados os interesses económicos tanto da Rússia, como da Ucrânia.

No entanto, as palavras de Viktor Yuschenko devem ser abordadas com cuidado e não porque em caso da sua vitória nas presidenciais ele possa esquecer-se delas. Qualquer futuro presidente da Ucrânia, não importa qual seja o seu nome, poderá tornar-se uma figura puramente representativa. O actual chefe de Estado Leonid Kutchma pretende aplicar no país uma reforma constitucional em resultado da qual a Ucrânia deve transformar-se numa república parlamentar. Neste caso, o governo seria formado pela maioria parlamentar, que hoje pertence aos partidários de Kutchma. O presidente seria eleito pela Verkhovnaia Rada, isto é, o Parlamento da Ucrânia, ou então as funções presidenciais, como se pode julgar pela última variante das emendas à Constituição, seriam transferidas para o primeiro-ministro.

Estas emendas foram aprovadas preliminarmente em Junho pela maioria parlamentar e encaminhadas para o Tribunal Constitucional. Para a sua aprovação final será necessário obter em Setembro 2/3 dos votos no Parlamento. Alguns políticos ucranianos, em primeiro lugar, naturalmente, Viktor Yuschenko, tentam apresentar esta iniciativa de Leonid Kutchma como um sinal de certa desconfiança do actual Presidente em relação ao seu candidato e como uma tentativa de limitar antecipadamente os poderes do seu possível sucessor.

Seja como for, para a Rússia, a eleição do Presidente da Ucrânia é um acontecimento extremamente importante que, sem dúvida, será precedido de uma dura luta eleitoral. Actualmente, o ranking dos dois principais candidatos oscila ao nível de 20%, mas Yanukovitch praticamente ainda não começou a sua campanha eleitoral, enquanto Yuschenko já a promove seriamente há quase seis meses.

Ainda é prematuro falar sobre qual dos candidatos goza das simpatias de Moscovo. Como disse recentemente o presidente do Fundo da Política Eficaz, Gleb Pavlovski, a Rússia não quer "investir na incerteza". Este político influente destacou que por detrás das "frases cativantes" de Yuschenko é difícil frequentemente captar um conteúdo político concreto. Não está claro, por exemplo, se ele está disposto a atribuir ao russo o estatuto de língua oficial, ou seja resolver um problema que preocupa milhões de ucranianos de expressão russa. Apesar da metáfora sobre a amizade dos vizinhos ainda não foi expressa uma posição clara em relação à aproximação com a NATO e à opção euroatlântica.

Neste pano de fundo confuso, um exemplo de clareza foi o recente comunicado da sede eleitoral de Yanukovich - Kutchma de que da Doutrina Militar da Ucrânia foi retirada a tese sobre a preparação do país para a entrada na NATO e na União Europeia. A Rússia está preocupada também com os factos de intervenção externa maciça na campanha eleitoral na Ucrânia. Assim, a NATO dirige directamente os seus comentários à Comissão Eleitoral ucraniana - facto sem precedentes, que seria inconcebível em qualquer país da Europa Ocidental. Existem contactos intensos entre Kiev e os emigrantes russos em Londres e entre Kiev e a antiga Jugoslávia. Até o Presidente da Geórgia, Mikhail Saakachvili, vaticinou durante a recente visita a Kiev: aqui será repetido o cenário georgiano da "revolução das rosas".

Moscovo não quer apostar nas personalidades dos candidatos, mas sim na ideia central que eles defendem. É do interesse recíproco da Rússia e Ucrânia em primeiro lugar a ideia de relações económicas estreitas entre os quatro países integrados no Espaço Económico Único.

Vladimir Simonov observador político RIA "Novosti"

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