CÚPULA DAS AMÉRICAS EM MAR DEL PLATA

Iniciou-se nesta quinta-feira a Quarta Cúpula das Américas, nas cidade de Mar del Plata, Argentina, com a presença de importantes funcionários de governos (quase todos presidentes ou primeiro-ministros) dos 32 países membros da Organização de Estados Americanos – ou seja, todos do continente exceto Cuba, expulsa em 1962.

O presidente dos Estados Unidos, como sempre, tomou medidas extraordinárias de segurança: alugou todo o hotel Sheraton, substituiu seus empregados por funcionários da Casa Branca, colocou três helicópteros militares para patrulhar a cidade, instalou um sistema de radar e mísseis anti-aéreos, ancorou um submarino nuclear perto da costa, e até trouxe toda a água e comida que consumirá. Medidas inéditas de segurança, jamais vistas antes.

Por sua vez, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chegou poucas horas depois de Bush. Prometeu que na presente cúpula a Alca (Área de Livre Comércio das Américas, proposta pelos EUA) será enterrada. Provavelmente, ele tem razão: Venezuela e os países do Mercosul não chegaram ainda a um acordo quanto ao texto sobre a Alca a ser incluído na declaração final da cúpula. A Venezuela faz oposição ideológica à Alca, enquanto os países do Mercosul fazem exigências mais pragmáticas: aceitam negociar um acordo de livre comércio com os EUA, desde que este abra mais seu mercado aos países latino-americanos e elimine os imensos subsídios agrícolas. O presidente George W. Bush, porém, não parece estar disposto a isso. A Alca, que deveria ter entrado em vigor em janeiro deste ano, aparentemente continuará travada.

O Mercosul está em uma boa posição para negociar e exigir melhores condições para a Alca, pois o Brasil e (principalmente) a Argentina têm registrado bons índices de crescimento econômico, e seus exportadores dependem relativamente pouco dos EUA. Alguns órgãos de imprensa, tanto no Brasil como na Argentina, pressionam para que seus países entrem depressa à Alca, afirmando que seria excelente para a economia local e as exportações. Porém, outros países são mais importantes que os EUA para as exportações brasileiras e argentinas, como a China, a Rússia, e principalmente o próprio Mercosul, agora ampliado com a entrada da Venezuela como membro pleno. Ignorar o Mercosul e estes outros países para dar prioridade aos EUA, que insistem em manter grande parte de seu mercado protegido, seria uma loucura econômica, e nenhum exportador deseja isso.

A declaração final da cúpula provavelmente será um documento vazio: conterá muitas afirmações sobre defesa da democracia, crescimento econômico com justiça social, combate ao crime organizado e ao terrorismo, mas nenhuma proposta concreta para colocá-las em prática, pois há um desacordo generalizado sobre como implementar tais medidas. A integração econômica e política parece mais viável na América do Sul, onde há mais coincidência quanto aos objetivos e maneiras de alcançá-los.

Ao mesmo tempo, também em Mar del Plata, se realiza a Cúpula dos Povos, inspirada no Fórum Social Mundial. Tomam parte nela intelectuais, líderes sindicais e indígenas, movimentos de desempregados e sem-terra, entre outros. Estão presentes Hebe Bonafini, uma das fundadoras do movimento das Mães da Praça de Maio, que protestaram contra a ditatura e a repressão militar na Argentina; o ganhador do prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel; e o líder socialista boliviano Evo Morales. E também Diego Maradona, amigo pessoal de Fidel Castro, que recentemente prometeu a este ir a Mar del Plata protestar contra Bush.

Em Buenos Aires e outros lugares da Argentina, há vários protestos contra a presença de George W. Bush no país. Médicos, professores e funcionários públicos entraram em greve, além do metrô, que funciona com demoras.

Carlo MOIANA Pravda.ru Buenos Aires

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