A Semana Revista

Bush deveria seguir Saddam para o Tribunal

Se Saddam Hussein está a ser julgado, por quê não o Bush?

Saddam Hussein está a ser julgado por crimes cometidas durante a sua presidência no Iraque. No entanto, uma análise da Presidência de Bush revela paralelos chocantes.

Saddam Hussein é acusado de enviar pessoas para as suas mortes, tal como George W. Bush fez enquanto Governador de Texas, a diferença sendo que uns levaram um tiro e outros, uma injecção letal.

Saddam Hussein é acusado de ser responsável por actos de tortura quando era Presidente do Iraque. Mas George Bush é Presidente dos Estados Unidos da América e as prisões de Abu Ghraib e de Guantanamo são palcos de actos de degradação e crueldade humana nunca visto desde Auschwitz e Treblinka.

Saddam Hussein é acusado de invadir países estrangeiros ilegalmente, e invadiu. Invadiu o Irão porque os Estados Unidos da América disseram para ele invadir, depois de o ter armado até aos dentes e depois de Rumsfeld ter ido a Bagdade dar palmadinhas nas costas de Saddam e de apertar-lhe a mão com um grande sorriso não só nos lábios mas também nos olhos.

Invadiu o Kuwait depois das autoridades deste país terem seguido as ordens de Washington, ameaçando reduzir o preço do crude (ruinoso para a economia do Iraque) e praticando a perfuração em cruzamento, roubando o petróleo dos poços iraquianos. Ninguém quis prestar atenção aos protestos de Bagdade.

Mas George Bush também invadiu o Iraque ilegalmente, fora dos auspícios da ONU, quebrando a Carta desta organização.

Saddam Hussein é acusado de matar milhares de inocentes civis. George Bush, como Comandante-chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos da América, também é responsável por actos de assassínio em grande escala. Dez mil pessoas foram chacinadas pelas suas forças armadas, trinta e cinco mil foram mutiladas, mil crianças perderam suas vidas. Sem falar do Afeganistão.

Saddam Hussein é acusado de utilizar armas químicas e de destruição maciça contra civis. Mas George Bush não é responsável também por deitar bombas de fragmentação em áreas residenciais, de utilizar Urânio Empobrecido, deixando vastos tractos de território com níveis perigosos de radioactividade, de escolher como alvos das armas de precisão infra-estruturas civis? Não foi destruído o sistema de fornecimento de água e de electricidade no Iraque? Não foi destruída a rede de saneamento em Bagdade? São alvos militares? Ou foram destruídos só porque o Halliburton, do Vice presidente Cheney, quis (e obteve) os contractos de reconstrução (sem concurso público)?

E Saddam Hussein está no tribunal porque é árabe. E George Bush está acima da lei porque é norte-americano.

E aceitamos isso?

PRINCÍPIO DO FIM OU SÓ O INÍCIO?

EUA entrega poder no Iraque dois dias antes do plano

George Bush irá sem dúvida afirmar que a tarefa está cumprida e que até conseguiu entregar o poder no Iraque dois dias mais cedo da data que foi originalmente programada. No entanto, a verdade é que a situação no país é tão catastroficamente fora de controlo que ele tinha de ir pedir de joelhos à comunidade internacional (que desrespeitou tão flagrantemente) para que desse mais apoio ao governo interino de Bagdade, enquanto Bremer foge o mais rapidamente possível.

George Bush diz muita coisa. Ele afirma que Iraque tem Armas de Destruição Massiça, afirma que sabe onde estão (as tais mensagens de Deus?) e afirma que Saddam Hussein era uma ameaça iminente aos Estados Unidos da América a aos seus aliados. O que nunca faz, é dizer a verdade. Talvez não seja de Deus que recebe suas mensagens, mas do outro senhor.

Foi avisado inúmeras vezes pela comunidade internacional, por diversos conselheiros, na imprensa internacional, nesta coluna, que aquilo que iria fazer no Iraque seria um dos maiores erros na história recente das relações internacionais, a maior quebra nas normas da gestão de crises.

Contudo, teve de avançar porque não havia como parar o clique da elite corporativa que o rodeia, que puxam as cordas do fantoche e que ditam a política interna e externa de Washington. Hoje em dia quando as pessoas dizem “O Presidente” o que deveriam dizer é “Todos os Homens do Presidente”.

Hoje, dia 28 de Junho, Paul Bremer entrega o poder dois dias mais cedo que o programa, antes de fugir do Iraque o mais depressa possível, sem dúvida com um enorme suspiro de alívio e um acto teatral de limpar o suor da testa, enquanto os novos “líderes”, o “Presidente” Ghazo al-Yawar e o “Primeiro Ministro” Iyad Allawi, fazem a tomada de posse e ficam com a bolacha.

De facto, estes dois homens não são mais do que fantoches eleitos por Washington para fazer os seus trabalhos sujos. Por essa razão, por quê é que as forças da Resistência iraquiana devem baixar as armas, já que começam a registar os primeiros sucessos relativamente a uma mudança de política?

Outra bela porcaria deixada por Washington para o resto do mundo limpar. Em vez de limitar, reduzir e resolver os problemas inerentes na questão de Palestina, Wolfowitz e companhia conseguiram habilmente abrir uma segunda frente no Médio Oriente, que faz de Hamas, os Mártires de Al-Aqsa e a FLP uns inofensivos e impotentes, quando comparados com aquilo que acontece no Iraque, com centenas de fundamentalistas do mundo Islâmico a jorrarem pelas fronteiras dentro para lutarem contra o Infiel, o tirano, o déspota, o invasor.

As afirmações que o novo governo do Iraque tem “plena soberania” também não passam de mentiras. O governo não pode fazer políticas de longo prazo, todas as questões mais sensíveis têm de passar por Washington e o novo governo não tem qualquer jurisdição sobre os 160.000 tropas da força de invasão estacionados no seu solo.

Com muitos milhares de iraquianos ainda sem nada senão armas semi-automáticas e caixas de munições, depois de Washington aniquilar com armas de precisão as infra-estruturas civis durante seu acto de chacina, não surpreende que cada vez mais jovens estão a juntar-se à resistência contra o que é entendido (e é) uma força de invasão estrangeira e ilegal.

QUEM É JOSÉ MANUEL DURÃO BARROSO?

Uma biografia no novo Presidente da Comissão Europeia. Da esquerda para a direita, de Portugal para for a, sempre no momento mais oportuno para este oportunista político

José Manuel Durão Barroso nasceu em Lisboa no dia 23 de Março de 1956. Envolveu-se cedo na actividade política, alistando-se no MRPP (Movimento Reorganizador do Partido do Proletariado), um movimento Maoista, antes da Revolução de 25 de Abril de 1974, que terminou o regime Fascista de Marcelo Caetano (que tinha sucedido a António Oliveira Salazar quando esse morreu em 1970).

A sua passagem na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa não passou despercebida, devido aos violentos confrontos entre grupos de estudantes de direita e esquerda, nos quais Barroso era um factor constante e uma figura central. Abandonou seu partido pouco antes de terminar seu curso (com um olho no futuro), em 1977, quando este alterou a denominação para PCTP/MRPP, acrescentando Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses, e depois foi estudar em Genebra, tirando um Mestrado em Ciências Políticas e Sociais e mais tarde, cursos de especialização em Georgetown University, Washington. De volta em Portugal, tornou-se professor na sua faculdade de Direito em Lisboa.

Juntou-se ao Partido Social Democrata, centro-direita, em 1980, associando-se mais tarde à ala mais a direita, liderada pelo professor Aníbal Cavaco Silva, que ficou líder do PSD em Maio de 1985. Nas eleições legislativas em Outubro do mesmo ano, José Barroso foi eleito Deputado na Assembleia Nacional com 29 anos de idade, tornando-se Sub-Secretário de Estado no Ministério de Assuntos Internos.

Em 1987, depois duma nova eleição e com o PSD a ganhar uma maioria absoluta, Barroso foi apontado Secretário de Estado para a Cooperação no Ministério de Negócios Estrangeiros, envolvendo-se desde o início com o processo de paz em Angola (onde o MPLA e UNITA tinham travado uma guerra civil desde 1975).

Em 1992, depois da reeleição do PSD, Cavaco Silva promoveu Barroso para Ministro de Negócios Estrangeiros. Continuou a trabalhar no Processo de Paz em Angola e seus esforços culminaram no Acordo de Bicesse (1991) que fez parar o conflito temporariamente. Sua passagem pelo governo terminou em 1995, quando o PSD perdeu a eleição contra o Partido Socialista (PS) de António Guterres.

Na oposição, José Barroso continuou a trabalhar na sua área escolhida, chefiando a Comissão Parlamentar sobre os Assuntos Estrangeiros e trabalhando como Director do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Lusíada, Lisboa, contribuindo para o processo de independência de Timor Leste.

Em 1999, Barroso tirou vantagem duma luta interna no PSD (depois do líder anterior Marcelo Rebelo de Sousa ter sido esforçado a demitir-se depois de fazer uma aliança desastrosa com o Partido Popular de Paulo Portas (ultra-conservador). Candidato para a liderança do partido pela segunda vez (depois de ter perdido a batalha contra Fernando Nogueira em 1995), José Barroso venceu.

Como líder do partido, Barroso foi incapaz de fazer a revisão necessária por causa das suas fracas capacidades como orador e a noção percebida na praça pública duma falta de personalidade. O PSD perdeu as eleições para o Parlamento Europeu em 1999 (31,1% contra o 43% do PS), as eleições legislativas em Portugal no mesmo ano, com apenas 32,3% e a eleição presidencial de 2001, quando seu candidato Joaquim Amaral foi derrotado por Jorge Sampaio (PS). Barroso nem venceu, nem convenceu.

Em Dezembro de 2001, o Partido Socialista teve um resultado pouco positivo nas eleições municipais, mantendo-se no entanto como o partido mais votado. António Guterres, farto das intrigas que marcam a política interna, bateu com a porta, deixando o governo a meio e chamando eleições antecipadas. Eduardo Ferro Rodrigues foi eleito líder do PS para travar a batalha com Barroso.

Este adoptou um discurso de calamidade durante o processo eleitoral (“o país está de tanga” “Portugal está um caos” “O país não pode continuar assim”) que conseguiu ganhar a eleição (não muito convincentemente, com 40,1% contra 37,8% do PS) mas só em coligação com o pária do passado, Paulo Portas e seu Partido Popular.

Contudo, nos seus dois anos como chefe de governo, Barroso não conseguiu comunicar com seu povo, fazendo dele discutivelmente o pior Primeiro-ministro da história política recente de Portugal. Nestes dois anos, a taxa de desemprego duplicou e famílias sem emprego tinham (e têm) de esperar até sete meses para receber o subsídio. Da classe média para a prostituição, tráfico de drogas, roubo, ou para a rua pedir. O legado do PSD não uma vez, mas sempre.

Barroso e sua equipa, considerados como desumanos pela maioria da população, perderam de forma clara as eleições para o Parlamento Europeu este ano. Para Barroso, foi um cartão vermelho directo. Mas como sempre, Barroso agiu como protagonista e não como homem de integridade, aceitando o posto de Presidente da Comissão Europeia como terceira ou quarta escolha, não porque era o melhor candidato mas porque não havia mais ninguém e Barroso era percebido como candidato suficientemente fraco para não chatear ninguém.

É uma questão de quanto tempo vai passar até ele ser vítima da sua própria fraqueza, fazendo a mesma figura lá fora como fez em Portugal durante os últimos dois anos, tendo já chegado ao seu nível de incompetência sob o princípio de Peter.

Personagem aparentemente fraca, por causa da sua incapacidade total em termos de comunicação, sem carisma, José Barroso estaria muito melhor e muito mais feliz no posto de eurocrata cinzento trabalhando atrás das cenas na Comissão de Relações Exteriores. Aí seria excelente, porque apesar do erro de apoiar o regime de Bush no seu acto de chacina no Iraque, José Manuel Durão Barroso é excelente diplomata.

Portugal perde EURO e Primeiro-Ministro

A onda de futebol passou, deixando Portugal entre Santana e eleições

Três semanas de alegria aliviaram temporariamente as mágoas dos portugueses, que afogaram suas preocupações em centenas de milhares de litros de cerveja e um banho colectivo de euforia enquanto seu seleccionador nacional brasileiro levou a equipa à final do EURO 2004. Perdeu.

E agora?

Agora, que as pessoas acordam da bebedeira de três semanas de futebol, se lembram da ressaca que é o estado lastimável da economia do país, tão lastimável que o Primeiro-Ministro, José Manuel Durão Barroso, até fugiu para Bruxelas e tanto foi a sua pressa que se esqueceu de avisar seus ministros, que só souberam que ele tinha sido nomeado o novo Presidente da Comissão da União Europeia quando ligaram o televisor.

José Durão Barroso entendeu (bem) que o resultado nas eleições para o Parlamento Europeu representou um cartão vermelho para ele como Primeiro-ministro e à política desumana do deu governo, que conseguiu duplicar a taxa de desemprego em dois anos, deixando que em alguns casos levava até sete meses para o recém-desempregado receber seu subsídio. Inaceitável.

As políticas de contenção do défice público da Ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, pouco ou nada tinham a ver com as necessidades económicas e sociais do país, se bem que as suas contas batiam certo num estudo de laboratório. Ela, o Primeiro-ministro e o governo em geral, falharam rotundamente em comunicar com o povo que os elegeu, não conseguindo criar um clima de optimismo, nem conseguindo transmitir um sentimento de segurança aos portugueses.

As cifras falam por si: em 2003, a taxa de desemprego subiu 26,5%, registando uma taxa anual de 6,4%, traduzido em 344.500 pessoas. A desigualdade entre ricos e pobres é a mais marcada na União Europeia, o PIB recuou 0,7%, tal como o consumo privado e o consumo público caiu por 1,3%. O investimento diminuiu e a balança corrente registava no final do ano 5,3% negativos.

Por isso, veio o futebol servir de salvador, enquanto Durão Barroso trabalhava freneticamente à procura da sua saída. Veio a sua oportunidade quando os pesos pesados na União Europeia chegaram a um impasse sobre quem deveria substituir Romano Prodi e procuraram uma figura suficiente cinzenta para satisfazer gregos e troianos. E Bush, que conseguiu colocar seu homem no coração do Velho Continente.

Além de deixar por trás um rasto de catástrofe económica, Durão Barroso também deixa a situação política em crise. O eterno pretendente a líder do Partido Social Democrata, Pedro Santana Lopes (agora presidente da Câmara de Lisboa), conseguiu finalmente ser nomeado presidente do Partido pelo Conselho Nacional, substituindo José Barroso na liderança.

Conta com o apoio do Conselho Nacional do PSD, com os 19 Presidentes Distritais, o Presidente da Mesa do Congresso Nacional e 4 Vice-Presidentes do Partido, além de nomes sonantes na vida política e empresarial. Resta a convicção que numa Reunião Magna do Partido, conseguiria ser aceite pelas bases.

No entanto, Santana Lopes tem muitos anticorpos políticos dentro do seu partido, por ser considerado instável, emotivo e impulsivo demais para ser um bom primeiro-ministro. Entre estes, figura Manuela Ferreira Leite, que descreveu a sua ascensão à Presidência do Partido como “um golpe de Estado dentro do PSD” e outros notáveis na vida pública que querem convencer o Presidente Jorge Sampaio a convocar eleições antecipadas para travar as ambições de Santana Lopes.

Para a coligação PSD/PP (Partido Popular, Conservador), uma eleição agora quase de certeza seria uma derrota, levando a uma mudança de governo, com o Partido Socialista a ganhar, talvez com maioria absoluta, senão possivelmente com um acordo com o Bloco de Esquerda (que ganhou 10% das intenções de voto numa sondagem recente) e/ou o Partido Comunista (5%) mas sem vínculo formal.

Por isso, nem interessa ao PSD nem ao PP que Presidente Sampaio convoque eleições agora, nem interessa ao Santana Lopes deixar que seu partido nomeie alternativa a ele para o cargo de Primeiro-ministro, porque tal seria uma admissão que seu nível de competência acaba nos municípios. Porém, curiosamente, Pedro Santana Lopes, cujas facilidades em comunicação e capacidades como orador são seus pontos fortes, talvez seja a única pessoa na coligação capaz de lhe restituir alguma popularidade e com alguma hipótese de vencer uma eleição.

Como bom adepto de futebol, Jorge Sampaio vai esperar até ao final do EURO 2004 para anunciar a sua escolha, entre Santana Lopes e eleições. Na próxima edição da Pravda, veremos como escolheu.

SHARAPOVA, A SUPERESTRELA SIBERIANA Wimbledon em estado de choque com vitória sobre Williams

Maria Sharapova venceu a final feminina no prestigiado torneio de Wimbledon com um convincente 6-1, 6-4 contra Serena Williams, a bi-campeã. Foi a primeira vitória de Sharapova num Grand Slam.

Maria Sharapova, 17, de Nyagan, 15 na classificação feminina, assim se torna a primeira russa a ganhar o título em Wimbledon, declarando que não acreditava que estava a acontecer.

Serena Williams, demonstrando seu habitual fair-play, disse que não estava no seu melhor nível, mas que Maria Sharapova jogou bem e mereceu vencer “e quero congratulá-la no seu primeiro Grand Slam”.

Jogando com grande concentração e resistência, Sharapova demonstrou que tem nervos de aço e aparenta ter uma experiência muito superior aos seus 17 anos e 2 meses.

Maria Sharapova se torna a terceira mais jovem vencedor de Wimbledon de sempre, atrás da Lottie Dodd (1887, 15 anos e 9 meses) e Martina Hingis (1997, 16 anos e 9 meses).

O Céu fica mais rico

Sophia de Mello Breyner Andresen, a escultura das palavras, simplesmente foi…mas continuará no jardim, no céu e no mar

Sophia de Mello Breyner Andresen pode já não estar aqui mas a sua obra permanece viva entre nós, iluminando a vida daqueles que gostam da língua portuguesa e guiando os que querem fazer algo mais do que simplesmente escrever. Deixou sua marca na sociedade e na cultura portuguesa como escritora mas não é de esquecer a sua passagem pela política, na Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos e Deputada pelo Partido Socialista (1975).

Aprendi meu português com esta senhora, sem que ela soubesse, a ler e ficar encantado com um compêndio dos Contos (Contos Exemplares, publicado em 1962) nos anos setenta na Universidade de Leeds na Inglaterra. Encantado pela magia das palavras, pela simplicidade da mensagem, pela coragem de ir para além duma simples descrição, de chegar à alma dum diálogo, de ensinar, encantando.

Obrigado a ler os Lusíadas, frustrado com o riquíssimo vocabulário de Eça, confuso com os Autos de Gil Vicente, eu, enquanto estudante de português, respirei de alívio quando apresentaram a obra do quarto trimestre, os Contos de Sophia de Mello Breyner Andresen, nome que para mim toca um sino na minha memória de alegria, de respeito e que representa a primeira vez que gostei de estudar por estudar, ler só pelo prazer de ler…curiosamente poucas vezes precisei de dicionário ou de ir à gramática porque as palavras fluíam, pintando e esculpindo as imagens, talhando as histórias e construindo os sonhos.

Ler Sophia de Mello Breyner Andresen foi sempre para mim aquele tipo de sonho que nunca se quer que acabe, longe do pesadelo da literatura obrigatória, imposta. Por isso mesmo, Sophia de Mello Breyner Andresen deve ficar entre nós de forma permanente como marca de referência na língua portuguesa em especial e na literatura em geral.

Mais que poetisa, mais de prosadora e mais que ensaísta, Sophia de Mello Breyner Andresen é uma escultora de palavras, uma pintora de imagens em letras, uma luz que guia todos que se mergulham na língua desta senhora e de Camões.

Por isso a longa lista de prémios ao longo de 40 anos não surpreende ninguém (Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, 1964; Prémio da Crítica do Centro Português da Associação de Críticos Literários, 1983; Prémio D. Dinis, Prémio da Fundação Casa de Mateus, Prémio Inasset-INAPA, 1989; Grande Prémio de Poesia do Pen Club, 1990; Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças, 1992; o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores, 1994; a Placa de Honra do Prémio Petrarca, da Associação de Editores italianos, 1995; o Prémio Camões, 1999; o Prémio Max Jacob de Poesia, 2001; o Prémio Rainha Sofia, 2003 e a medalha de Honra do Presidente do Chile, 2004.

Filha da cidade do Porto, nasceu a 6 de Novembro em 1919, ficando marcada pela literatura aos três anos quando uma criada lhe recitou A Nau Catrineta. Foi a faísca que despertou em Sophia de Mello Breyner Andresen a chama incandescente, o fogo eterno que é a necessidade de esculpir palavras e pintar imagens lindas e claras com letras. Começou a escrever poemas quando criança, publicando o primeiro livro, “Poesia” em 1944.

Nunca mais parou. Dos seus dedos nasceram milhares de páginas de poemas, de contos, de histórias para crianças, de ensaios, de prosa, de traduções…enriquecendo a cultura portuguesa para sempre, deixando uma obra que nunca será esquecida e servindo de Embaixatriz da cultura portuguesa para o resto da eternidade.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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