A RENÚNCIA DE LAVAGNA

Ele havia assumido em 25 de abril de 2002, substituindo Jorge Lemes Lenicov. Era a época da maior crise política e econômica do país, haviam ocorrido há poucos meses a renúncia do ex-presidente Antonio de la Rúa, os grandes protestos populares contra a classe política, o default da dívida externa e a desvalorização da moeda. O dólar no país se encontrava a 4 pesos, a inflação havia disparado, a miséria e o desemprego aumentavam rapidamente, e o PIB experimentava forte queda.

Lavagna conseguiu mudar tudo isso. Em 2003, a economia crescia rapidamente e já havia voltado ao nível de 1998, antes da crise. Várias indústrias e empresas voltaram a funcionar, depois de anos, e graças a isso o desemprego, embora alto, reduziu-se rapidamente (de mais de 20% em 2002 para 12% em 2005), assim como a inflação. E a Argentina conseguiu, após longas negociações, sair do default e chegar a um acordo com os credores, com uma forte redução da dívida.

Porém, em 2005, a inflação voltou a atacar com força: mais de 10% no acumulado do ano até outubro, e estima-se que fechará o ano a 12%. Os preços dos alimentos foram os que mais subiram, atingindo gravemente o poder aquisitivo de todos os argentinos. O pior de tudo é que a tendência da inflação é de aumentar: os preços dos serviços públicos (eletricidade, água, gás, telecomunicações e combustíveis) estão congelados desde 2001, com um preço muito defasado, e é de conhecimento geral que um dia terão que ser reajustados.

Aparentemente, Lavagna foi proibido pelo presidente Néstor Kirchner de usar métodos ortodoxos de combate à inflação (aumento da taxa de juros e controle de emissão monetária). Os desacordos entre o ministro de economia e o presidente vêm de longa data. Parece que a gota d’água, que levou Kirchner a exigir a renúncia de Lavagna, foi a denúncia feita por este de corrupção e superfaturamento em obras públicas.

Imediatamente após a renúncia, foi anunciado o substituto de Lavagna: Felisa Miceli, presidente do Banco de la Nación Argentina (maior banco do país, de capital misto e controle estatal), que já é ministra interina e tomará posse no dia 1 de dezembro.

Miceli é descrita como plenamente fiel à política de Kirchner, mas também é colaboradora desde longa data de Lavagna. Por isso, é de se esperar que não ocorram grandes mudanças na política econômica argentina, embora esta estará mais sob controle do presidente.

Analistas políticos, porém, consideram que o custo para o presidente argentino será elevado. Toda a população conhecia os desacordos entre Lavagna e Kirchner, e diante de problemas econômicos (como a escalada da inflação nos últimos meses) era fácil ao presidente culpar o ministro de economia.

Agora, todos os sucessos (e também os fracassos) recairão diretamente sobre o presidente. Como é bastante improvável um recuo importante da inflação a curto prazo, Néstor Kirchner provavelmente verá seu índice de popularidade cair consideravelmente. Carlo MOIANA Pravda.ru Buenos Aires

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