Rússia sobre Consenso no Iraque

"Estou convencido que devemos criar condições para que todos os grupos étnicos e políticos do Iraque cheguem ao consenso (em relação à Constituição)", - declarou segunda-feira o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, em Sotchi, em conferência conjunta com o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi. Assim o chefe de Estado da Rússia comentou a conclusão da elaboração da Constituição iraquiana que provocou discussões acesas dentro da elite política do Iraque.

Os problemas que surgiram no decorrer deste processo impõem a necessidade de voltar à antiga proposta de Moscovo de convocar uma conferência com a participação de diferentes forças políticas do Iraque e medianeiros internacionais. Propõe-se que em resultado destas conversações seja alcançado um consenso.

Os diplomatas russos têm avançado esta proposta desde o momento da queda do regime de Saddam Hussein na Primavera de 2003. Contudo, apesar de a necessidade de tal encontro ter sido reconhecida em Novembro de 2004 na conferência internacional em Sharm el Sheikh, esta iniciativa não foi concretizada nem antes das eleições para o Parlamento do Iraque, em Janeiro de 2005, nem depois. Contudo, esta ideia foi oportuna exactamente naquela altura, porque, por exemplo, as eleições afastaram formalmente do processo político no Iraque os sunitas, influente minoria religiosa que governou o país vários decénios. Mas as propostas russas não foram atendidas. Naquele período parecia que todos os problemas do Iraque poderiam ser resolvidos muito facilmente.

A nova direcção iraquiana tentou envolver sunitas no processo político convidando-os a participar também na elaboração do projecto de Constituição. Mas, como mostrou a situação de hoje, tudo foi em vão. Nenhum dos 15 sunitas, membros do Comité Constitucional, assinou o projecto de Constituição. Agora, os líderes sunitas apelam a que os seus partidários votem contra o projecto no referendo marcado para 15 de Outubro. Deste modo eles tomaram em consideração a triste lição das eleições parlamentares, quando os sunitas, a maioria dos quais boicotou o escrutínio, perderam a possibilidade de participar activamente no processo político. Agora a Constituição não será aprovada se em três províncias do Iraque a maioria da população votar contra o projecto. Deste modo, os sunitas, privados da possibilidade de influir nas eleições, podem bloquear a Constituição.

No fundo, o processo político no Iraque, aparentemente em avanço (realização das eleições, elaboração da Constituição), está a marcar passo ameaçando levar a uma nova tragédia.

Se a Constituição for rejeitada em Outubro, o país ficará à beira de uma nova crise política (no melhor dos caso) ou de guerra civil (no pior). Sem falar que sem a Constituição, em condições da paralisia do poder, seria escusado esperar qualquer prosperidade sócio-económica e a segurança no país, o que é o mais importante para iraquianos comuns. Possivelmente, esta argumentação será decisiva durante a votação. É exactamente agora que começará uma luta renhida pelos votos de eleitores.

Para além disso, para o Iraque é importante não apenas aprovar a Constituição, mas também excluir a possibilidade de afirmações de que ela teria sido apoiada por desespero. A Constituição não deve deixar lugar para discussões como acontece agora no Iraque já depois de o projecto de documento básico do país ter sido apresentado no Parlamento.

Hoje, portanto, chegou a altura de voltar à ideia de Moscovo sobre a conferência internacional. Possivelmente, os mediadores internacionais ajudarão as forças políticas iraquianas a chegar ao consenso. Sem isso, o referendo sobre a Constituição será inútil.

"Durante a votação da Constituição é necessário o consenso completo entre todos os grupos sociais. Enquanto tal situação não for formada, existe um perigo de resistência armada", - ressaltou Putin.

Moscovo espera que a comunidade internacional não tenha divergências nesta questão. No fim das contas, tanto a Rússia, EUA e UE, como os vizinhos do Iraque esperam que a este país chegue a estabilidade. Por outras palavras, todos precisam de consenso em torno da Constituição iraquiana.

Marianna Belenkaia observadora política RIA "Novosti"

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