A Semana Revista (24 a 31 de Janeiro)

No plano nacional, Vladimir Putin está cada vez mais intangível a um mês e meio das eleições. No plano internacional, um arrogante Powell visita Moscovo e Tony Blair ganha uma vitória pírrica numa semana que traz tragédia em todo o Médio Oriente e a noção que a gripe das aves poderá ter feito o salto para ser transmitido directamente entre humanos. Será essa a pandemia mortífera que a comunidade científica tanto temia?

Putin, o invencível

Vladimir Putin está prestes a ganhar a eleição presidencial em Março com uma vitória fantástica – mais do que 80% do voto. O seu pragmatismo e a sua confiança dão-lhe uma imagem de grande segurança, que a população da Federação Russa precisa e que nunca vão vender barato, indo atrás de promessas irrisórias.

Vladimir Putin é o homem que trouxe estabilidade à Rússia, onde o PIB é sensivelmente metade daquilo no final dos tempos dourados da União Soviética, mas onde a esperança dum futuro melhor começa a ser visível e tangível.

A questão que agora se põe é como será a Rússia depois de Putin?

Médio Oriente a ferro e fogo

Bombistas suicidas em Jerusalém e no Iraque semearam a morte e o pânico entre os israelenses, norte-americanos e os colaboradores com o invasor no Iraque. O facto de a bomba em Jerusalém ter explodido perto da residência de Ariel Sharon é um aviso ao intransigente primeiro-ministro de Israel, que teima em não dialogar construtivamente com os palestinianos e em continuar com a política dos colonatos em territórios que não pertencem a Israel.

Enquanto não houver um diálogo inteligente de ambas as partes, que passa por reconhecimento mútuo, cessação de hostilidades, um fim à política dos colonatos, desfazendo estes e pagando uma renda pela ocupação de território à Autoridade Palestiniana enquanto não forem desmantelados completamente e finalmente um acordo duradouro sobre o estatuto de Jerusalém (cidade internacional, sediando a ONU?) não haverá paz. A verdadeira tragédia é para os civis inocentes, israelenses ou palestinianos.

No Iraque, as tropas norte-americanas continuam a sofrer baixas – estão num país estrangeiro e são uma força de ocupação. Se bem que chamam acções terroristas aos ataques dos iraquianos, ninguém chamou terroristas à Resistência Francesa durante a ocupação Nazi.

Mais uma vez, a morte de centenas de peregrinos fez uma mancha no Haj, a peregrinação à Meca que todos os muçulmanos devem fazer pelo menos uma vez. Aconteceu no Domingo, dia 1 de Fevereiro, em Mena, onde os fiéis foram atirar pedras contra os pilares que representam o Diabo. 244 pessoas perderam a vida, pisadas pela multidão.

Quando é que a organização do Haj (que são as autoridades sauditas) vai acordar e adoptar medidas de policiamento adequado?

Powell, desagradável e arrogante

Colin Powell visitou Moscovo esta semana e fez questão de publicar um artigo no jornal Izvestia antes de chegar, onde criticou o défice democrático na Federação Russa e a política do Kremlin na Chechénia.

Que descaramento tem esse senhor de guerra, cujo regime perpetrou um acto de chacina no Iraque, que desrespeitou todas as leis e normas internacionais sobre a gestão de crises, que mentiu à ONU, que mentiu ao seu próprio povo, que mentiu à comunidade internacional, este estado paria entre a comunidade das nações, este estado que tanto se gaba de prestar apoio em acções humanitárias mas que gasta porcentualmente menos do seu PIB em tais programas do que todas as outras nações desenvolvidas.

Colin Powell representa um governo dos Estados Unidos da América que se identifica facilmente: são assassinos, são criminosos de guerra, são mentirosos, são odiados por toda a humanidade. Por qualquer razão será.

Vitória pírrica de Blair

Tony Blair não desperdiçou tempo em entrar na Câmara dos Comuns uma hora depois da publicação do relatório de Lord Hutton, acusando todos os que tinham alegado que ele mentia de serem os mentirosos e pedindo desculpas públicas.

Só que Tony Blair não viu que o tiro lhe saiu pela culatra. No rescaldo do Relatório, apresentaram suas demissões o Presidente, Director Executivo e o analista político da BBC, que, livres dos confins desta instituição, estão livres para semear o que tinham alegado – que o governo de Blair mentiu à nação acerca da ameaça colocada pelo Iraque.

O Relatório de Lord Hutton não foi uma investigação do causus belli, mas sim das circunstâncias da morte de Dr. David Kelly, o perito sobre armas de destruição maciça. Como esperado, os nomes de Tony Blair e seu governo não foram ligados a este evento. Mas há outra investigação a começar, pedido pelo Partido Conservador – nas afirmações que o Iraque tinha ADM e no lançamento duma guerra ilegal, baseada em mentiras e no desejo de Washington de controlar o Médio Oriente. Por qualquer razão, Dr. David Kelly ficou envolvido numa situação em que a única saída para ele foi o suicídio.

A Gripe das Aves

Já se espalhou a dez países no sudoeste da Ásia e fez dez vítimas, com mais dez casos relatados na China.

Pela primeira vez, a Organização Mundial de Saúde encara a possibilidade desta doença ter sido transmitida entre seres humanos no Vietnã. Sendo esse o caso e se alastrar, toda a humanidade pode ter de enfrentar uma pandemia mortífera contra a qual não tem qualquer defesa.

Fontes médicas contactadas pela PRAVDA.Ru disseram que evitar grandes multidões e lavar as mãos com frequência evita o risco de contágio, mas não elimina.

Morte de jogador em campo

Finalmente, há uma semana, o jovem jogador húngaro Miklos Feher se preparava para o jogo entre seu Benfica e a Vitória de Guimarães. Com 24 anos, internacional, tinha uma carreira brilhante à frente. Durante o jogo, caiu morto para o relvado, vítima de paragem cardíaca.

De salientar, a atitude de todos os colegas de equipa, que foram acompanhar Feher ao seu último paradeiro, no cemitério de Gyor, na Hungria.

Por ser jogador e jovem, com a vida pela frente, é chocante e mais chocante ainda quando assistido em directo na televisão. A vida humana é uma dádiva preciosa que tem de ser respeitada e nutrida. Por isso a morte de qualquer ser humano, seja onde e quem for, é uma tragédia, seja ele palestiniano ou israelense, norte-americano ou iraquiano. As lágrimas das mães de todos sabem a sal.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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