Treinadores estrangeiros deixam o futebol russo

Quatro clubes tinham recrutado simultaneamente novos treinadores. No CSKA foi admitido o português Artur Jorge, o Spartak contratou o italiano Nevio Scakla, o Dinamo o checo Jaroslav Hrzebik, o Alania de Vladikavkaz o francês Roland Courbis. Juntamente com mais um checo, Vlastimil Petrzela, que trabalha pela segunda temporada consecutiva no Zenit de São Petersburgo, eles constituíram uma forte "legião estrangeira" em quase um terço dos clubes (5 dos 16) da primeira divisão russa.

Até ao fim da temporada só o checo Petrzela continua a trabalhar no seu cargo.

Os demais deixaram a Rússia um após o outro.

O motivo deste êxodo dos especialistas estrangeiros é o mesmo, ou seja, o descontentamento dos proprietários dos clubes pela sua posição na tabela de classificação, mas as causas são diferentes em cada caso concreto.

Segundo os jogadores do Dínamo, eles ficaram simplesmente extenuados com os métodos ditatoriais de Hrzebik, que transformou o processo de treino num suplício contínuo. Não se justificou também a sua aposta nos futebolistas seus compatriotas. Todos eles não jogaram como se esperava no Dínamo e já deixaram o clube. O técnico não encontrou uma linguagem comum também com o jogador muito experiente Andrey Kancelsky, que tinha brilhado no Manchester United e depois de deixar a equipa de Hrzebik actua com sucesso no Saturn, na Região de Moscovo. Durante muito tempo, os dirigentes do Dínamo mantiveram no cargo de treinador principal Viktor Bondarenko mas, no final da temporada, a luta pela sobrevivência levou os patrões dos branco-azuis a lembrar-se de Oleg Romantsev, que tinha atingido juntamente com o Spartak todos os cumes no futebol russo.

Enquanto isso, o problema dos treinadores afectou também o próprio Spartak, que não acolheu os métodos de treino usados por Nevio Scala. O técnico foi censurado po excessivo liberalismo que, como se verificou, é prejudicial para o Spartak, que já era conhecido como um clube não muito disciplinado. A isso juntou-se a ausência de Egor Titov, suspenso por algum tempo, assim como as lesões de uma série de outros jogadores principais. Em consequência de tudo isso, a administração do Spartak, cansada de esperar de Scala um rápido progresso da equipa, decidiu substitui-lo pelo letão Aleksandr Starkov que em tempos tinha jogado no campeonato nacional soviético e, por isso, conhecia bem as particularidades do futebol russo.

Outro clube de Moscovo, o CSKA, então campeão da Rússia, despedindo no fim da temporada o triunfador do ano passado Valeri Gazzaiev, convidou para o seu lugar Artur Jorge. O motivo da substituição era claro: os adeptos e especialistas do futebol exigiam dos campeões não só resultados mas também um jogo espectacular. Tendo adquirido caros futebolistas latino-americanos, o novo treinador não conseguiu nem uma coisa nem outra. Os empates com resultados de 2 a 2 ou 3 a 3 representavam, possivelmente, bons espectáculos mas deram poucos pontos ao clube. Em consequência, a administração teve de recorrer no auge da temporada ao velho método experimentado, isto é, readmitir Gazzaiev. Sob a sua direcção a actuação da equipa adquiriu a estabilidade do ano passado, acrescentando-lhe todo o género de lances atacantes tanto espectaculares como eficazes.

O último dos treinadores estrangeiros a demitir-se foi Courbis. Com ele o Alania correu sempre o perigo de deixar a primeira divisão. Ainda antes da sua demissão o francês dava muitos pretextos para críticas. Mesmo assim Courbis aguentou até ao Outono e deixou o Cáucaso do Norte logo depois dos tristes acontecimentos relacionados com a tomada dos reféns em Beslan tendo atribuído, no entanto, a sua partida à grave doença da mãe a qual, aliás, não o impediu de tornar-se treinador consultante do Ajaccio de Córsega. É curioso que tendo chegado à França Courbis tenha proferido a frase sacramental de que "aconselhará vivamente os treinadores conhecidos a irem trabalhar para a Rússia e também eu próprio concordaria de bom grado em prosseguir ali a minha carreira".

Mas toda a questão está em saber se os colegas estrangeiros de Courbis seguirão o seu conselho depois da triste experiência vivida por alguns pioneiros ocidentais na actual temporada.

Mikhail Smirnov observador desportivo RIA "Novosti"

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