Segundo Tsunami: Apatia

O segundo tsunami, que poderia ser tão mortífero como o primeiro, embora desta vez duma forma crónica e não tão aguda, é o tipo de apatia e falta de interesse que deu lugar a tamanha número de mortos no dia 26 de Dezembro.

As boas notícias, que o número de mortos não vai, afinal, duplicar-se devido a doenças, talvez cria a noção falsa nos corações e mentes da comunidade internacional que está tudo bem e que reina a normalidade. De facto, a resposta imediata e considerável da comunidade internacional, em que a Rússia foi dos primeiros países a enviar ajuda ao local (embora passasse despercebido perante os órgãos de informação ocidentais), e que viu o governo da Federação Russa doar pelo menos tanto, em termos comparativos, quanto os outros contribuidores badalados por aí, levou a uma situação em que programas de vacinação, de regresso às aulas, de prevenção de crime e uma operação de limpeza, reduziram substancialmente o risco duma explosão em doenças contagiosas na região. A directora executiva da UNICEF, Carol Bellamy, disse recentemente depois da sua visita a Sri Lanka e à Indonésia, que “Em todos esses país, com a excepção da Indonésia neste momento, não só está correr bem o trabalho de entrega de apoio humanitário como também há sinais claros duma recuperação”. Boas notícias, sim, mas Carol Bellamy excluiu a Indonésia, o país que mais sofreu os efeitos do maremoto, com vastas áreas do norte da Sumatra totalmente destruídas.

Jan Egeland, Coordenador de Apoio de Emergência da ONU, disse numa conferência de imprensa no final da semana passada quer a segunda onda do tsunami (a eclosão de doenças) parece não ter aparecida. “Acho que já não está correcto prever que o número de mortos proveniente da infra-estrutura destruída vai ser tanto como temíamos”.

O Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura está a organizar programas não para a distribuição de comida mas sim para ensinar os sobreviventes como optimizar os recursos disponíveis, no sentido de obterem a primeira colheita o mais rapidamente possível. Um porta-voz pelo FIDA disse que “O objectivo não é só ajudá-los a recuperarem mas também aumentar a sua capacidade de lidar com quaisquer eventuais desastres no futuro por dar-lhes a capacidade de superar a pobreza que os torna tão vulneráveis”.

E vulneráveis, são. As vidas de inúmeros milhares de pessoas foram levadas pelo maremoto, juntamente com seus lares e famílias no dia 26 de Dezembro. Um milhão e duzentas mil pessoas são internamente deslocadas, muita da infra-estrutura da Aceh foi destruída e quaisquer indústrias que existiam, foram devastadas.

Deslocados, destruídos, devastados. No entanto, a apatia que deu lugar a esta catástrofe humanitária e a interferência política de Jacarta, que traçou uma data limite para a saída para as forças militares estrangeiros do seu território, merecem comentário.

Se as forças de Jacarta estiveram em Timor-Leste, como força de ocupação contra a vontade do povo Maubere, quer com o aval de Henry Kissinger, ou não, não estiveram neste território durante três meses e não estiveram aí para prestar ajuda humanitária. Estiveram lá durante um quarto de século e foram responsáveis por centenas de milhares de mortes de pessoas inocentes. Evidentemente, ninguém quer marcar pontos políticos num momento de crise mas a Jacarta poderia demonstrar mais flexibilidade nas suas exigências, visto que o combustível necessário para servir as operações humanitárias é fornecido no maior parte dos casos pelos militares.

Jan Egeland declarou à imprensa que o transporte dos bens por helicóptero e a produção de água potável, hoje realizado por forças militares, “poderá ser feito por civis. Mas prevejo que precisaremos dos militares para nos fornecer o combustível e entregar-nos vários tipos de hardware muito rapidamente a certas zonas depois do final de Março e espero que cheguemos a um acordo sobre isso”.

Não fosse a apatia in extremis, teriam morrido uma fracção das vítimas. Onde estava o sistema de prevenção?

Kofi Annan, o Secretário-Geral da ONU, declarou na reunião dos Pequenos Estados Insulares nas Maurícias que postes sísmicos e programas de evacuação em massa entrarão em acção e que até Junho de 2006, o sistema de prevenção de tsunamis no Oceano Índico estará pronto e um ano mais tarde, a nível mundial.

Finalmente se adopta uma política. Tarde demais para os 160.000 mortos mas a tempo para salvar milhares de vidas no futuro, possivelmente milhões. O importante é que a Humanidade tenha a capacidade de aprender a lição, que a apatia cria a catástrofe, seja antes ou depois dum desastre.

É preciso o mundo valorizar e respeitar as instituições da ONU para que esta organização possa canalizar os recursos para onde são mais precisos.

Apoiar a ONU, não a destruir!

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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