A Aviação no Exército

Nas Forças Armadas Portuguesas existe um caso caricato da inoperância e do extremo laxismo por parte do Governo e das próprias altas patentes militares, que por vezes se confundem com peças de diferentes puzzles, incapazes de se organizar num todo e melhor aproveitar os recursos existentes.

Desde 1995 estão a formar-se militares para a constituição do Grupo de Aviação Ligeira do Exército (GALE), alguns dos quais dos quais especializados no modelo NH90 da Nahema, um projecto cooperativo que congrega França, Alemanha, Itália, Holanda, e Portugal. Envolvidos no projecto do GALE existem pilotos, mecânicos, engenheiros, e restantes militares que todos os dias comparecem no seu local de trabalho, mas na verdade estão como que desempregados, por faltar o ónus principal para o qual foram treinados – os helicópteros.

A formação de cada um dos pilotos na F.A.P. (Força Aérea Portuguesa), custou ao cidadão anónimo português cerca de 175 mil euros (35 mil contos), tendo sido mais tarde transferida para Espanha por se admitir que tinha uma especialização mais rápida e eficiente, para os objectivos traçados, com um custo menor. Os militares, apesar de tudo, viram-se remetidos para trás de uma secretária e inoperantes, como se de funcionários indiferenciados se tratassem.

Assim sendo, e porque o GALE existe, não só no papel, mas também na motivação de todos aqueles que todos os dias dão um pouco de si à sua instituição e à sua unidade, é normal que estes “pilotos e mecânicos sem manche” se sintam injustiçados, pelo ostracismo a que foram votados, como eu me sinto insultado sendo português contribuinte deste projecto.

O sr. Ministro Paulo Portas já alimenta esta autêntica novela há muito tempo, quando em 2001 era apenas deputado e não votou a favor do programa PS dos helicópteros EC635 para o Exército. Mais tarde, no ano de 2002, já ministro, cancelou a compra dos mesmos ao consórcio franco-alemão Eurocopter, por alegadas irregularidades, e anunciou que não estava disposto a renegociar o contrato.

A Eurocopter anuiu, e enquanto esta empresa arranjou um outro destinatário para os seus aparelhos em 2002, o problema dos meios para o GALE continua à espera de se ver resolvido em 2004, nove anos depois do início da formação do primeiro piloto.

Neste imenso imbróglio, o sr ministro Paulo Portas quase que pode ser equiparado a um pitbull castrado. Raivoso, ladra histéricamente em todas as direcções, mas não defende quem de direito nas alturas mais difíceis. As suas maiores preocupações dever-se-iam prender com a defesa dos direitos do Exército em consonância com uma aplicação justa e racional dos fundos depositados nas suas mãos pelos cidadãos portugueses através dos impostos.

A República assim o exige, e a Democracia assim o merece. Infelizmente, nos dias “de nevoeiro” que se vivem, esse prometido futuro parece ser apenas mais uma utopia.

As soluções que se adivinham como possíveis, e que se esperam ver equacionadas, só podem passar pelo rápido re-investimento no projecto dos helicópteros, equipando o Exército com este indispensável recurso, ou a transição a breve trecho destes militares para unidades aéreas, como é o caso da Força Aérea Portuguesa (ou das forças civis sobre a alçada governamental, como é o caso da Protecção Civil), de forma a que não percam a sua valiosa especialização.

Acima de tudo espera-se a célere resolução deste problema que não pode ser arrumado numa das muitas gavetas sem fundo onde o Governo deposita alguns dos seus projectos.

Eu revolto-me por saber que o dinheiro dos meus impostos servem para formar especialistas para estar de mãos nos bolsos atrás de uma secretária... valha-nos Deus!

Miguel Rodrigues

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