Hermitage em Lisboa

Lisboa poderá ter em 2010 uma extensção do Museu Hermitage, situado em São Petersburgo e um dos mais famosos museus do mundo, anunciou ontem a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, naquela cidade russa.

A ministra esteve reunida com o vice-ministro da Cultura russo, com o presidente do Museu Hermitage, Mikhail Piotrovski, e com um representante da Agéncia de Cultura e Cinema russa, onde foi negociado um acordo para implantar o museu em 2010, ano em que se comemora o centenário da República Portuguesa.

"Houve uma primeira conversa com responsáveis e o protocolo de intenções será assinado até a Primavera de 2006", afirmou Isabel Pires de Lima.

Iniciada na segunda-feira, a visita faz parte de uma ofensiva diplomática para promover Portugal na Rússia, incluindo também os ministros dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, e da Economia, Manuel Pinho. A ministra disse que o Hermitage de Lisboa poderá vir a funcionar num espaço próprio ou ser uma extensão de um museu já constituído.

"O projecto Hermitage-Lisboa ou Hermitage-Portugal, pois o nome não está ainda bem definido, não visa criar uma exposição permanente, mas renovável de seis em seis meses, podendo tratar-se de exposições temáticas, cronológicas", declarou Pires de Lima.

A ministra anunciou ainda a realização de "três exposições preparatórias em 2007, 2008 e 2009, também em espaços diversos ainda a fixar", o título de ensaio para a filial do museu russo em Lisboa.

O Hermitage de São Petersburgo, um dos maiores orgulhos da cultura russa além dos teatros Bolshoi e Mariinski, mostra ao público apenas sete por cento do seu valiosíssimo espólio. O actual director do museu, Mikhail Piotrovski, tem dado nova vida ao Hermitage através de uma série de iniciativas para tornar conhecidas em todo o mundo as colecções - o museu criou várias filiais, como as de Las Vegas, Londres e Amesterdão, podendo seguir-se o Brasil.

O último a abrir foi o de Amesterdão no ano passado. "Esta embaixada permanente do Hermitage em Amesterdão foi um enorme sucesso", disse Peter van Empelen, director de projectos do Hermitage-Amesterdão. No ano passado, tiveram 225 mil visitantes, razão por que vão apresentar para a semana um ambicioso projecto de ampliação da filial.

Segundo Van Empelen, o Hermitage-Amesterdão nasce da relação de séculos entre as duas cidades e também da estreita relção entre os directores do Hermitage e da filial em Amesterdão. Esta extensão surgiu igualmente "para ajudar o museu em São Petersburgo", diz o responsável. "Nós pagamos todos os custos das exposições - transportes e seguros - e parte da receita dos bilhetes é transferida para S. Peterburgo." Cada bilhete custa seis euros e o Museu Hermitage recebe um euro, mas o director de projectos acrescenta que cada cidade estabelece acordos diferentes com o Hermitage.

Acordo embrionário Ontem, a assessora de imprensa da ministra, Maria do Céu Novais, disse que "a dimensão financeira desta operação será oportunamente conhecida", estando ainda "numa fase muito embrionária".

"É uma oportunidade excelente de conhecer as colecções fantásticas do Hermitage", considera o director do Instituto Português dos Museus (IPM), Manuel Bairrão Oleiro. Este responsável, que não conhecia a proposta até ontem, disse que lhe "é completamente impossível estimar, neste momento, o custo da operação", mas que terá "vantagens para ambas as partes".

Raquel Henriques da Silva, antiga directora do Instituto Português do Museus, manifesta algumas dúvidas sobre o anúncio feito pela ministra na Rússia. Um acordo destes, acrescenta, para além da sua dimensão cultural, deverá envolver "custos com certeza elevados", porque para além dos encargos com transportes e seguros há ainda o aluguer.

"Estranha-se um anúncio destes envolvendo gastos muito consideráveis quando a política para os museus do ponto de vista financeiro tem sido de retracção sucessiva. O actual aumento do orçamento do Instituto Português de Museus abranda um bocadinho as dificuldades, mas não é solução", diz. "No entanto, posso admitir que não seja uma ideia desinteressante, uma vez que podia dinamizar a visita aos museus e a presença em Portugal de obras importantes. é uma iniciativa tipo fuga para a frente, quando os museus em Portugal náo têm meios para executar os programas das actividades que delineiam."

A cooperação luso-russa não se limita apenas ao Museu Hermitage. "Visitei quatro importantes museus: Galeria Tretiakov e Museu Puchkin, em Moscovo, e Hermitage e Museu Russo, em São Petersburgo, e apontámos vias de cooperação", disse a ministra da Cultura, acrescentando que em 2007 "poderá vir a realizar-se uma grande exposição de obras do Museu Russo" em Portugal. "Estamos a fazer movimentos de aproximação para encetar relações da cooperação mais permanente entre estes museus e a rede portuguesa de museus, mas também para estudar projectos de mais longo prazo", disse a ministra da Cultura. Pires de Lima afirmou que "o director do Hermitage manifestou interesse em expor obras do vanguardismo e futurismo portugueses", acrescentando que "as direcções dos outros museus também estão abertas a arte portuguesa".

No próximo ano, haverá várias iniciativas envolvendo artistas portugueses em Moscovo, designadamente na área performativa e na arte contemporânea.

Julia Rasnitsova Pravda.ru

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