Carta aberta ao novo Primeiro-ministro de Portugal

Caro Senhor Primeiro-ministro,

Em primeiro lugar, muitos parabens pela sua eleição, que foi a vontade colectiva e democrática do seu povo, qoe o elegeu porque sentiram durante o acto de votar que confiavam em si e na sua equipa para os dirigir durante os próximos quatro anos.

Daqui a um ano, poderão mudar de ideias, depende de si e nas suas capacidades como gestor máximo no país.

Pesa nos seus ombros, e nos do seu governo, a responsabilidade de não deixar as coisas piorar, porque como todos nós sabemos, Portugal não pode, nem merece, deslizar mais – no fundo já bateu.

Porém, se a situação é má, também não é catastrófica e como saberá, conta muito na economia a confiança colectiva. Esta não se ganha com discursos de “tanga” por políticos de “tanga” que dançam o Tango em coligações duvidosas.

O anterior fgoverno PSD/PP pecou principalmente por adoptar políticas de laboratório que no papel parecem bonitas às gerações de gestores/políticos profissionais vomitados pelas faculdades para a praça pública ano após ano. Estes elementos nunca entenderam, nem nunca entenderão como é ser e sentir-se como um cidadão comum português, porque nunca o foram.

Um grande número dos membros destes dois partidos nasceram no seio de famílias abastadas e gravitaram sempre a volta de reuniões de pessoas do mesmo tecido socio-económico. Se alguma vez viram um sacho, teria sido talvez no quintal dos avós, ou então no dos vizinhos destes.

Isso não quer dizer que quem nunca sujou as mãos não pode ser bom político mas quer dizer sim, quehá que ter em conta a vida cotidiana da grande maioria dos portugueses e não só do tipo de pessoa que o senhor Primeiro-ministro conhece no seu dia a dia.

Representar seu povo não quer dizer que tem de lançar uma onda cor-de-rosa para o mercado, colocando aparatchiks do partido em todos os lugares nos quadros altos e médios das empresas públicas – e até mistas, nas administrações dos hospitais, das escolas, dos institutos e quase a totalidade das instituições de estado.

Isso se tem feito ao longo dos últimos 30 anos, quando governos de centro-esquerda e centro-direita, agora de extrema direita, levaram Portugal ao fundo da tabela classificativa de crescimento/produção, que trairam os sonhos do 25 de Abril e que criaram uma situação em que a taxa de desemprego rompeu o tecto dos 7%, e em que em muitos casos as pessoas tinham de esperar sete meses até receberem o primeiro cheque do fndo de desemprego. Adeus, PSD/PP. Belo trabalho, passem bem e Deus queira que a gente nunca mais se encontra.

Essa prática histórica fez com que o povo de Portugal nunca aproveitou das riquezas e das oportunidades que soube ganhar porque a liderança históricamente paupérrima de Portugal agarrou tudo isso, distribuindo-o entra as mãos dum grupo restrito de pessoas. Essa prática histórica levou Portugal para 15º lugar da U.E. dos 15 e agora, menos que um ano após o alargamento, para 18º lugar dos 25, e a descer.Por este andar, será uma questão de tempo até bater ao fundo outra vez, a não ser que haja outro alargamento, e depressa.

Sei que há uma grande tendência inata nos portugueses para reagir na pior maneira quando se apresenta uma crítica, especialmente quando esta ´r proferida por um cidadão não português. No entanto neste caso é uma crítica feita com amor, de quem dedicou 26 anos da sua vida ao bem estar dos portugueses, tentando fazer a sua pequena parte para o melhoramento da sociedade em que escolheu viver.

Por isso se escreve esta carta aberta, convicto que tem de haver uma solução, porque Portugal soube sempre encontrar uma solução em todos os seus consideraveis desafios. Não é por acaso que Portugal é uma nação.

Basciamente, o que o senhor Primeiro-ministro tem de fazer é formular algo que nunca se fez em Portugal – um plano nacional, um plano que vai muito além da ponta do seu nariz e que ultrapassa a meta das próximas eleições.

Um plano nacional também não se encontra por pagar a um académico norte-americano para escrever um relatório e depois tratá-lo com derisão, dizendo que não era bem isso que se pretendia.

Um plano nacional para Portugal se acha através de um processo de diálogo franco e sincero com os portugueses, comunicando com as pessoas, estudando em profundidade o país, não dum ponto de vista político ou partidário mas sim, numa abordagem objectiva, identificando as suas necessidades e reunindo as entidades e pessoas adequadas para as satisfazer.

Depois tem de fazer um estudo do ponto da situação numa base regular, mensalmente, trimestralmente, semestralmente, anualmente e por aí fora, calibrando a estratégia às necessidades quando surgem, reagindo a estas e fazendo os pedidos e alterações necessárias para manter Portugal no seu rumo – para cima e não para baixo.

Por “entidades adequadas” não quero dizer a formação de institutos onde se coloca um gajo qualquer para dirigir uma cambada de inúteis incompetentes que servem de insulto para nós, que pagamos os salários deles e as viagens dos seus esposos. Quero dizer os representantes do sector público e privado, os jogadores no campo que quer estudar.

Por “pessoas adequadas” não quero dizer só seus amigos e companheiros,embora muitos destes possam ser excelentes profissionais. Quero dizer, pessoascompetentes, que sabem agir acima do nível partidário.

A segunda tarefa que terá de fazer é quebrar a prática de terra queimada que existe nos seus ministérios. Por essa, dossiers importantes dão um passeio para casas particulares, ou para o shredder, para que a próxima administração não possa tirar proveito do trabalho da equipa anterior.

Por quê é que isso acontece? Porque em Portugal deixaram politizar os lugares para além dos postos de direcção política directa. Isso se traduz numa massa humana, para não utilizar outra expressão, composta por uns 700 ou 800 pessoas, que aproveitam de tudo para beneficiar o partido no poder e bloquear os partidos na oposição mas não necessáriamente para constituir um plano nacional para preparar o futuro.

Desculpe o termo mas desta vez não resisto: a política de pára-fodas tem de acabar em Portugal e se a classe política nada faz, então saem da mulher, que os portugueses não merecem isso.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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