Desemprego de longa duração agrava pobreza em Portugal

1. Realizou-se hoje um seminário sobre desemprego de longa duração promovido pela Sobreiro 19 (Associação de solidariedade com as vítimas das falências) e pela LOC-MTC da Diocese de Setúbal no centro paroquial de Vale de Milhaços com a participação de:

- Dr. Eugénio Rosa, economista, do Gabinete de estudos da CGTP - Drª Paula Ferreira, socióloga, investigadora no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia - Dr. João Cabral Fernandes, psiquiatra, ex-director clínico do Hospital Júlio de Matos - Doutor Elísio Estanque, sociólogo, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra - Francisco Alves, sindicalista, da União Sindicatos de Lisboa - CGTP

2. Na véspera do Dia da Luta pela Erradicação da Pobreza o seminário concluiu que o desemprego de longa duração está a agravar a pobreza em Portugal.

O desemprego de longa duração vem aumentando, nomeadamente nas mulheres, nas pessoas com 35 e mais anos e nas que têm baixa escolaridade.

Segundo o INE (2º trimestre de 2004) 45% dos desempregados estão há mais de 12 meses no desemprego, eram 38% em 2002. Os desempregados com 35 e mais anos representam 48% dos desempregados, eram 44% em 2002 e 77% têm escolaridade até ao ensino básico.

3. Por detrás dos números há pessoas, referiu o Dr. Eugénio Rosa que afirmou que só 26% dos desempregados recebem subsídio.

O desemprego de longa duração tem vindo a crescer devido ao modelo português assente em baixos salários, baixa qualificação e má qualidade de investimento.

É também reflexo de uma globalização assente no neoliberalismo, na lógica do lucro que comanda a economia, como salientou o Doutor Elísio Estanque.

4. Existe uma tripla crise: no emprego (que expulsa as e os mais idosos da actividade), de sustentação da segurança social e identitária, referiu a Dra. Paula Nogueira que salientou que o desempregado se sente humilhado e envergonhado.

O desemprego é uma perda, as perdas provocam depressão, o sol preto, como disse o Dr. Cabral Fernandes.

O crescimento do desemprego significa a degradação do tecido social.

5. As estatísticas consideram que os desencorajados que não procuram emprego não contam nos números do desemprego. A sociedade está a desistir das pessoas, as e os mais idosos são desmoralizados pelo economicismo.

O seminário salientou que partilhar a angústia é essencial, todos os movimentos de base podem ter um papel na valorização das pessoas. A participação dos sindicatos no combate ao desemprego é importante como referiu Francisco Alves, que acentuou a importância, nos tempos actuais, da cooperação entre sindicatos, movimentos sociais e investigadores.

6. Conhecer e alertar para a gravidade do desemprego de longa duração é um passo inicial importante.

O combate ao desemprego dos que têm mais de 40 anos é uma necessidade social.

Para essas e esses não há emprego. As pessoas não são descartáveis, a sociedade tem de valorizar os saberes e a cultura dos mais velhos. A formação das e dos trabalhadores e a requalificação das e dos desempregados constituem um eixo no combate ao desemprego. Esse combate tem de valorizar a pessoa, enquanto indivíduo inserido na comunidade.

Uma melhor recolha de impostos poderá permitir mais investimento no social e na reinserção das vítimas do desemprego.

Num tempo de mudança e instabilidade, num mundo de diversidade, a acção social é ponte para alternativa.

Como salientou o Padre Manuel Soares:

É preciso incomodar e desenvolver a solidariedade!

16 de Outubro de 2004 Sobreiro19 LOC - Diocese de Setúbal

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