Cavaco Silva: O Candidato Silencioso

O povo português tem muitas qualidades e alguns defeitos, entre os quais uma tendência de fazer de avestruz quando surgem graves problemas, ou recusando-se a enfrentá-los ou então virando ao mundo quixotesco do Sebastianismo – esperando por um salvador místico que nunca aparecerá.

Tal como Dom Sebastião apodreceu algures em Marrocos e respondeu às expectativas dos portugueses, então subjugados contrariados ao trono de Espanha, com uma muralha de silêncio, agora, passados precisamente 425 anos, o candidato Aníbal Cavaco Silva faz a mesma coisa.

Qual é sua política ou visão para Portugal? O povo português dirá. Qual é sua posição perante a CPLP? Não tem. Quando era Primeiro Ministro entre 1985 e 1995, Aníbal Silva era conhecido por entrar em reuniões silencioso e sair calado. Pertence à escola que defende que se o aluno não faz os deveres, não faz erros e por isso está tudo certo.

É um absurdo que um candidato que faça uma campanha eleitoral escondendo-se na penumbra, aparecendo somente nos jantares e almoços –pagos, e a preço de ouro – para falar com grupos selectos, alguma vez possa pensar em ganhar mas a verdade é que em Portugal hoje, grassa a noção que Cavaco Silva já ganhou, e com maioria absoluta.

Por quê?

Há dez anos atrás, quem queria Aníbal Silva como Presidente? Ninguém. E por quê? Porque as pessoas lembravam como ele era, depois de dez anos de arrogância, prepotência, de carregar contra os interesses dos portugueses e de ter levado o tecido social do país, e do seu partido, à beira da ruptura.

O mesmo pensa que agora pode aparecer, tendo feito uma travessia do deserto, esperando a Deus que ninguém se lembra do Aníbal Silva de 1995, apresentando-se com slogans estranhos como “Portugal Maior” (o que quer dizer isso?) e “Sei que Portugal pode vencer”.

Vale a mesma coisa como dizer que “Sei que o Pinilla pode marcar”. Ou se arrisca e diz que sabe que Portugal vai vencer, ou então pensa que pode. Mas também de português o candidato Aníbal Silva sabe pouco.

Afinal o quê é que ele sabe? Será que sabe desenhar a bandeira de Portugal, com todos os pormenores? Duvida-se. Saberá portar-se num jantar de gala com outros Chefes de Estado, em que é preciso falar aberta e afavelmente? Duvida-se. Sabe quantos cânticos tem os Lusiadas, a maior peça de literatura portuguesa e um dos melhores do Mundo? Pelo menos não sabia quando era Primeiro Ministro.

Tem coragem? Muita, por isso foi se esconder num bunker debaixo do chão na altura da primeira guerra do Golfo. É modesto? Pouco, passava a vida em grandes comboios de veículos blindados pelo país fora quando o então Presidente, Mário Soares, se sentava ao lado do motorista no lugar do passageiro à frente. Tem tacto? Tanto que até os polícias andaram a bater uns contra os outros duma demonstração pública do caos social que foi Portugal nos anos do Cavaquismo.

Foi competente? Competente? Foi tão competente que teve de fugir do partido dele, atravessando o deserto naquela altura do tabú (se iria ser candidato à Presidência ou não) e foi tão competente que seu partido, o PPD/PSD foi odiado em 1995, razão pelo qual ele não foi eleito nas eleições presidencias de 1996. Foi tão competente que numa altura em que o dinheiro jorrava pelas fronteiras dentro (na década depois da adesão à Comunidade Europeia), deixou o país mal preparado para seguir na senda da Europa.

E a segurança pública? Ah pois! A segurança pública. Quem tirou as polícias das ruas e os colocou em super-esquadras longe das populações porque foi mais económico? Quem foi o pai do monetarismo em Portugal, a obsessão pela linha de fundo das contas? Quem deixou milhares de pessoas se reformarem precocemente, e quem deixou esta farda para os cofres do estado hoje? Quem deixou a economia portuguesa desequilibrada para o futuro e minado para o governo que iria seguir? A resposta: Aníbal Silva, Aníbal Silva, Aníbal Silva, Aníbal Silva, Aníbal Silva.

Por alguma razão psicológica será que o candidato Aníbal Silva não consegue dizer a palavra “progresso”. É a mesma razão que o levou a virar primeiro para Jonas Savimbi (para o aperto de mão público tão badalado) e não José Eduardo dos Santos na altura da assinatura do acordo de Bicesse, e foi Jonas Savimbi que teve de sussurrar “Primeiro o Presidente” – porque o candidato Aníbal Silva não tem quaisquer condições para ser eleito Presidente de Portugal.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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