A semana política em Portugal

O governo de Portugal, a mistura tão humanitária e socialmente preocupada coligação PSD (Partido Social Democrata) e PP (Partido Popular) conseguiu impedir que o barco do aborto atracasse em águas territórios nacionais, por razões de segurança do estado (meia-duzia de mulheres são assim tão perigosas?) coisa que a Igreja Universal do Reino de Deus não conseguiu fazer com a Madonna: já cá está para terminar a digressão mundial com dois concertos no Pavilhão do Atlântico em Lisboa.

A reacção de Paulo Portas, Ministro de Defesa, em enviar dois navios de guerra para bloquear a entrada do navio Borndiep, das Mulheres sobre Ondas, merece esta semana um debate quanto à legalidade da acção no Parlamento Europeu. Para o Bloco de Esquerda, foi “Uma decisão que não encontra sustentação na legislação comunitária em vigor, a qual defende a liberdade de circulação de pessoas e bens”.

Com a re-entrada política depois dumas férias longas (os deputados precisam de descansar bastante mais do que o cidadão comum, tanto que eles trabalham) o Partido Socialista ainda está no meio duma Tragédia Grega com o favorito à liderança (a eleição interna toma lugar em 24 de Setembro), o ex-Ministro do Ambiente José Sócrates a pedir “bom comportamento” aos membros do partido, o candidato João Soares a apresentar-se como “homem de acção”, mas mais parecendo aqueles bonequinhos de plástico, “Action Man” enquanto o deputado-poeta Manuel Alegre anda muito calado ultimamente. Talvez esteja a procurar uma musa…

Falta uma semana e meia para Sócrates se tornar líder do PS, e então vai começar a aquecer a cena política em Portugal com um combate entre este grande comunicador, que tem trabalhos feitos e história de grande competência, e o excelente orador, Santana Lopes, que ainda há-de terminar qualquer projecto que iniciou. Fala muito, diz muita coisa mas acaba por nem dizer nada e fazer menos ainda.

Santana Lopes começou a re-entrada política com a ideia de criar um Serviço Nacional de Saúde com pagamento diferenciado, o que quer dizer que os mais ricos devem pagar mais. Bonita ideia, mas isso não vai pesar mais ainda na já sobrecarregada classe média?

O Partido Comunista Português, que já prometeu fazer tudo no seu alcance para fazer cair este governo, considera as medidas do Primeiro-ministro de demagógico e populista. “ Por detrás de uma falsa preocupação de justiça social está a mal disfarçada intenção de aumentar o pagamento directo da saúde pela população, de reduzir o financiamento do Orçamento de Estado ao Serviço Nacional de Saúde e de empurrar crescentemente para os sectores privados a prestação de cuidados de saúde,” acusa o PCP.

Com a retomada económica a prometer mas a não aparecer, a maioria da população portuguesa sofreu bastante com a crise e com o Euro, com preços a subirem em flecha a par dum congelamento salarial, criando um clima de “ninguém paga ninguém”, isso com uma duplicação da taxa de desemprego em dois anos e o legado da ex-Ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, cujo olhar de pedra fazia da Medusa uma Afrodite e cuja coração correspondia. “Não há reformas sem dor” dizia, enquanto todos os dias milhares de portugueses chegaram a casa sem emprego e depois tiveram de esperar sete meses para o primeiro cheque.

Com este legado, há-de demorar muito tempo para que qualquer melhoria na economia se faça sentir de forma geral. O governo de José Manuel Durão Barroso deixou o país numa crise de nervos, com um Tsunami de pessimismo à mistura, que precisará muito mais do que as palavras bonitas de Santana Lopes.

A habitual farsa no Ministério de Educação acompanha o início do ano lectivo, com milhares de professores ainda por colocar a dias do começo das aulas, envolvendo o correspondente mau ensino dos programas e a falta de bases nos primeiros meses dos cursos.

Desde 1974 que Portugal anda nisso com governos do PSD, PP e PS. Um dia alguém há-de acertar em algo.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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