João Amaral, Comunista, Humanista, Patriota

Pessoas de direita e de esquerda, da política, da vida artística, desportiva, munícipes, amigos e admiradores foram acompanhar o João Amaral ao seu último reduto hoje, depois da sua morte na sexta-feira passada, vítima de doença prolongada, cancro.

Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, ex-deputado para o Partido Comunista Português, João António Gonçalves de Amaral nasceu na Angra do Heroísmo, nos Açores, em 7 de Dezembro de 1943. Jurista de profissão, tendo estudado direito na Universidade de Coimbra, entrou nas fileiras do partido Comunista Português no gabinete de apoio do grupo parlamentar em 1976, e chegou a ser Vice-Presidente da Assembleia da República, além de ser membro de inúmeras comissões.

Carlos Carvalhas, Secretário-Geral do Partido Comunista Português, disse na câmara-ardente que queria lembrar o percurso comum na luta política desde antes da Revolução do 25 de Abril, “não, naturalmente, os últimos acontecimentos político-partidários”.

João Amaral era um dos mais conhecidos reformadores do Partido Comunista Português, que continua hoje com um discurso revolucionário (aludindo ao 25 de Abril) que hoje em dia significa cada vez menos para cada vez mais portugueses. O PCP não tem sabido manter o seu espaço à esquerda do Partido Socialista, que viaja inexoravelmente para a direita, deixando outras formações tomar o lugar que seria seu.

João Amaral era um dos Comunistas que via o que estava a acontecer ao seu espaço político, exigindo as reformas necessárias para o PCP continuar o excelente trabalho que começara na altura da revolução. “Defendemos uma profunda renovação do PCP. Mas sabemos que são profundas as mudanças necessárias. Não tememos os desafios e não exorcizamos palavras. Se a renovação não for possível, os comunistas saberão refundar o partido", disse João Amaral no prefácio do livro “Crónica de uma insubmissão”, escrito por Cipriano Justo.

Acrescentou que "a reforma do partido não pode ser mais adiada, sob pena de esclerose irreversível", culpando “a síndroma da gestão moscovita” pelos males do partido, onde ninguém assume responsabilidades, mas antes culpa inimigos internos ou externos, invisíveis.

Defensor dum debate profundo entre os membros do partido, o partido virou as costas a ele, e aos seus seguidores, preferindo manter o seu rumo para terras de ninguém, para um espaço político que jamais capturará a imaginação do eleitor português.

O PCP perde muito com a morte de João Amaral. Talvez agora irá reinar o bom senso neste espécie de partido convencido, arrogante, petulante, cego e casmurro e que agora alguém irá lembrar o João Amaral e as suas ideias, usando-as para relançar o partido na senda vitoriosa que poderia muito facilmente ser atingida.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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