Eleições a 20 de Fevereiro

Presidente Jorge Sampaio acabou o ano lançando o que alguns chamam uma bomba atómica na cena política portuguesa mas de facto deveria chamar-se uma bomba de neutrões, pois deixou de pé as estruturas políticas mas destruiu por completo a massa humana no governo.

Mas não é só o governo que leva o cartão vermelho. É o método de governação emocional e emotiva do Primeiro-Ministro Pedro Santana Lopes, que sob o Princípio de Peter, chegou ao seu grau de incompetência no Município relativamente pequeno de Figueira da Foz, onde o tipo de governação suporta decisões do tipo: “É pá! Vamos levantar um teatro neste espaço aí!! Vamos tirar estes edifícios daí!! Vamos transformar esta zona num gigantesco casino!!” e por aí fora, e todos aplaudem.

Quando se trata da administração dum país, e ainda por cima membro da União Europeia, esse tipo de governação “emotiva” e “singular” começa a levantar o sobrolho e fica bastante mais complicado.

A decisão do Presidente Sampaio é também um cartão vermelho para um modelo de governação por políticos profissionais que nunca fizeram nada na vida senão a política, políticos como Santana Lopes e aqueles que o rodeiam, pessoas que vivem numa redoma confortável e cujas vidas são limitadas ao caminho entre suas casas nas melhores zonas de Lisboa e a Assembleia da República, em carros do topo da gama cuja passagem é auxiliada por batedores da polícia.

Tais situações podem passar despercebidas quando o estado económico do país é rosado e risonho, no entanto, quando uma fatia substancial (minimamente 5% em termos reais) da população é desempregada e quando o governo deixa os preços e impostos a chegarem a níveis europeus, quando o salário médio teima em rondar os 610 Euros mensais, o tecido social é esticado até ao ponto da ruptura.

Por isso o governo liderado pelo PSD (Partido Social Democrata), desta vez em coligação com o seu primo da direita PP (Partido Popular, Conservadores), se demonstra mais uma vez como um partido com uma total falta de contacto com a realidade do país, que mais uma vez pratica políticas de laboratório que nada têm a ver com as necessidades da população e que mais uma vez revela características desumanas e desinteressadas relativamente à actualidade do dia a dia do português, que desconhece inteiramente.

Um belo exemplo é o pedido pelo Presidente da Mesa do Congresso do PSD, Manuel Dias Loureiro, que pediu ao ainda Primeiro-Ministro Santana Lopes incluir nas listas das eleições pessoas como Manuela Ferreira Leite, ex-Ministra das Finanças, crítica de Santana Lopes mas também discutivelmente a pessoa política mais odiada em Portugal, devido à sua obcecação com políticas de laboratório que vieram duplicar a taxa de desemprego em dois anos e que viu os desempregados esperarem até sete meses sem qualquer recompensa do estado.

O quê é que as pessoas haviam de fazer? Roubarem? Prostituírem-se? Venderem drogas?

Colocar o nome desta senhora numa lista? Porquê não colocar o nome do Diabo? Demonstra que o PSD continua a estar longe, muito longe, do contacto que precisa ter com o povo português, povo que sofre cada vez mais com cada ano que passa, que trabalha cada vez mais mas que vê a classificação de PIB por capita levar o país gradual e constantemente para o fundo de qualquer tabela.

Primeiro foi 12º lugar dos 12 na U.E., depois 15º dos 15 membros e agora 17º dos 25, descendo sempre. A frustração do Presidente, cujo Partido Socialista também tem estado no poder ao longo dos anos e que também nada fez para contrariar esta tendência, transbordou na sua bomba política aparentemente por um número de razões. Quais são?

“Sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações que contribuíram para o desprestígio do Governo, dos seus membros e das instituições, em geral”.

Sim, os ministros diziam uma coisa e Santana Lopes dizia outra, depois telefonava aos ministros e dizia por quê é que não faziam as coisas assim ou daquela maneira…uma maneira de governar bonita e eficaz num Município pequeno mas impossível a nível nacional.

“Uma instabilidade substancial que acentuou a crise na relação de confiança entre o estado e a sociedade, com efeitos negativos na posição portuguesa face aos grandes desafios da Europa, no combate pelo crescimento e pela competitividade da economia”.

Sim, a economia portuguesa conseguiu voltar a retrair-se no terceiro trimestre deste ano. O antigo Primeiro-ministro, José Barroso, tinha prometido uma retoma em 2003, depois foi 2004… e agora? Este governo ainda por cima decidiu por na prática uma política fiscal dura, durante as últimas semanas, fechando as portas das firmas que deviam dinheiro ao estado, lançando mais vários milhares de portugueses à rua, sem o subsídio de Natal e sem salários, numa altura em que o tecido social já está à beira da ruptura. Mais uma vez, políticas desumanas e desconectadas com a realidade do país.

O que diz o Presidente Jorge Sampaio é verdade, no entanto há quem o acusa de malabarismos políticos. Por quê é que não convocou uma eleição legislativa quando José Barroso fugiu para Bruxelas, deixando a porcaria que fez nas mãos do seu “amigo” Santana Lopes?

Porque sabia que o então líder do PS, Eduardo Ferro Rodrigues, seria derrotado pelo mais carismático Santana Lopes e sabia que Santana Lopes mais cedo ou mais tarde estampar-se-ia contra a parede como Primeiro-ministro. Esperou quatro meses, deixou Santana Lopes e Paulo Portas levar a direita à última estação sem comboio de retorno durante muito tempo, e deixou o José Sócrates reorganizar o Partido Socialista.

Resta saber se Sócrates é melhor que Santana ou se é uma espécie de animal político de laboratório sem se aperceber muito bem a realidade da vida quando não é política. A médio prazo, a única alternativa para os politicamente cientes fica nos dois partidos da esquerda, o PCP e o Bloco da Esquerda, ambos com cerca de 6% das intenções de voto neste momento.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X