O Sindroma da Segunda Presidencia

Em Portugal começa a surgir uma doença crónica e endémica que afecta a Presidência no final do seu segundo mandato – a psicose que segue a noção que fazer disparates é melhor do que fazer nada.

Assim Jorge Sampaio vem confirmando os piores medos, que afinal está bem a choramingar em público “emocionando-se” e de dar palmadas nas costas dos portugueses, chamando-os “pᔠmas como Presidente da República, seus oito primeiros anos quase sem fazer nada valeram muito mais do que os últimos dois, quando primeiro nomeia Pedro Santana Lopes como Primeiro-ministro em vez de chamar uma eleição antecipada para desfazer de vez a borrada que foi o Barrosismo, depois o demite sem quaisquer razões claras, antes dele ter tido qualquer tempo para mostrar o que vale e agora vem com bombas de mau cheiro, sugerindo um novo sistema eleitoral que favorece as maiorias (por tal, vamos ler “favorecer a maioria absoluta do PS em detrimento do CDU e do Bloco de Esquerda).

Esta manifesta ingerência numa democracia portuguesa que soube tirar proveito da Revolução de 25 de Abril (embora ainda nem o PSD/PP nem o PS souberam governar o país eficaz e eficientemente, devido às lacunas e falhas inerentes na sua linha política) demonstra que Dr. Jorge Sampaio ou não tem nada a fazer ou que está desesperadamente tentando deixar qualquer rasto da sua presidência. Só que às vezes é melhor não fazer nada do que fazer disparates.

De facto, a alteração do sistema político para um que introduz um sistema uninominal, em que o candidato com mais votos é eleito, está previsto na revisão constitucional de 1997, necessitando porém da passagem duma Lei Eleitoral no Parlamento, o que seria difícil porque os dois maiores partidos, PSD (sociais democratas) e PS (socialistas) divergem na sua opinião sobre a questão. Punidos severamente seriam as formações menores, nomeadamente o CDS/PP, CDU (Comunistas mais Verdes) e o Bloco de Esquerda.

O que há de louvar no sistema político português é precisamente a representação das ideias políticas do povo no seu Parlamento (o problema reside no segundo passo, i.e. os parlamentares a fazerem algo de jeito). Quem votar no PCP, nos Verdes e no Bloco de Esquerda tem representado e activo deputados comunistas e da esquerda a formarem grupos de pressão importantes. De facto, são estas duas formações as únicas que trabalham com seriedade e com continuidade, quer no parlamento nacional, quer no Parlamento Europeu.

O sistema sugerido pelo Presidente Sampaio é o que se chama “o primeiro a passar o poste” deixando para traz os outros. Simplificando, vamos supor que há quatro círculos eleitorais. Vamos supor que o PSD ganha um milhão e um votos em cada um dos quatro círculos, o PS ganha um milhão de votos, o PCP ganha 999,999 votos, o BE ganha 999,998 e o CDU/PP 999,997. O resultado seria 4 deputados do PSD e nenhuns para representar os outros partidos.

A suposta vantagem do sistema uninominal é que favorece uma maior interactividade entre o deputado e seu círculo eleitoral, esforçando-o a conhecer as pessoas e os problemas da área quer ele representa.

Só que, em 30 anos de governação do PSD, CDU/PP e PS, quantas pessoas podem afirmar com honestidade que a maioria dos deputados destas formações sabem algo que tem a ver com a realidade dos portugueses?

Quantos deles fizeram um dia de trabalho nas suas vidas? Quantos já amanharam um quintal, apanharam geada nas mãos a apanhar azeitonas, mataram uma galinha ou esfolaram um coelho? Quantos tiveram de picar o cartão ao chegar ao trabalho, quantos passaram fome, quantos tiveram de ir à Praça de Ribeira pedir uma cabeça de peixe- espada para fazer uma sopinha para alimentar a família porque alguém com ideias magníficas decidiu fechar a firma onde trabalhavam porque o patrão não pagava os impostos e o Estado só começou a pagar o Fundo de Desemprego sete meses mais tarde? Quantos viajem em transportes públicos? Quantos sabem quanto custa um bilhete de autocarro? Ou de metro?

Não, para esses que gravitam à volta dos melhores tachos no país, ir arranjar uma galinha é ir ao Corte Inglês comprar uma galinha do campo que custa uma pequena fortuna (muitíssimo mais do que custaria na Espanha onde os salários são o triplo do que em Portugal) porque nem sabem o que é o Minipreço/Dia e se fossem, nem levariam o saco para evitar pagar aqueles dois cêntimos pelo prazer de fazer publicidade gratuita à empresa.

Por isso, a ideia de Jorge Sampaio nunca valeria em Portugal porque a grande maioria dos políticos de hoje no Partido Social Democrata, no Partido Socialista e no Partido Popular são divorciados da realidade em que vivem os portugueses, fazendo destes partidos nem democráticos, nem socialistas e pelos vistos em alguns casos não muito populares.

Se os portugueses teimam em não dar uma hipótese aos Comunistas e ao Bloco de Esquerda, é a prerrogativa deles e os partidos pequenos têm a obrigação de ir buscar votos, por seguir com honestidade e franqueza seus ideais, ou morrer. Só que esta escolha deveria ser para o povo português fazer, não um clique de elitistas, que nem sabem quanto custa um pão e que deixaram os preços em Portugal subir para acima daqueles na Inglaterra, por exemplo, imporem de cima para baixo.

Basicamente deveria ser uma questão de escolha política, não uma imposição técnica para influenciar o voto. Zero notas para o aluno Sampaio.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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