No rescaldo do EURO 2004

Dizem que este EURO foi o melhor de sempre e não deve haver ninguém que discorda, embora o Ministério de Finanças da Manuela Ferreira Leite tente minimizar os efeitos económicos, prolongando a clima de desespero e calamidade, onda que este governo de direita surfou para se implantar em Portugal.

O EURO 2004, como previsto nesta coluna, providenciou mais uma vez a prova que Portugal e os portugueses conseguem pensar como gente grande quando querem e conseguem organizar grandes eventos como qualquer outro país, e ainda por cima nem precisam de apresentar candidaturas duplas como Bélgica Holanda (EURO 2000), Japão Coreia (FIFA MUNDIAL 2002) ou Suiça Áustria (EURO 2008).

O EURO 2004 veio a uma altura em que o português, pessimamente liderado por um bando de cinzentos incompetentes ou seguidores cegos de políticas de laboratório, já estava deitado no chão na posição fetal a levar ponta-pés do Paulo Portas dia sim, dia não e dos maníacos Ferreira Leite e Durão Barroso todos os dias.

O auto-estima tinha chegado a taxas tão negativas que o português outra vez se sentiu o coitadinho da Europa, um tipo de campino-palhaço desprezado, bem visível no discurso derrotista de Janeiro passado (que provocou o artigo Portugal: Pessimismo e Pedofilia na PRAVDA.Ru) em que as pessoas afirmavam que os estádios não só não estariam prontos a tempo, mas também eram perigosos, que a segurança era nula, que os terroristas iriam rebentar isso tudo, que os hooligans vinham partir as cidades e vomitar a calçada portuguesa, que os aeroportos não tinham capacidade para tanto tráfico.

O EURO 2004 mostrou aos portugueses e a Portugal que têm motivos fortes para sentirem orgulho no seu país. E sentiram. Outra vez, transbordou a alegria e a espontaneidade, visível há cinco anos durante o processo de independência de Timor Leste, em que o coração dos portugueses se tornou tão grande que fez engasgar Jacarta e seus amos em Washington e Londres que lhe vendiam armas.

O nacionalismo durante o EURO não se traduziu em xenofobia, antes sim foi bem direccionado para o foro lúdico, de desporto, em que branco e negro e castanho e amarelo gritavam lado a lado de alegria ou choravam com desapontamento, todos vestidos nas cores nacionais.

No campo, a mistura lusa-brasileira-africana, o coração do Mundo Português, fez as suas magias, levando o desporto português para o ponto mais alto de sempre. A ver agora se aparecer um brasileiro ou um africano no aeroporto de Lisboa, que não vai ser tratado como se fosse o Diabo em carne humana.

Não hajam dúvidas também que o futebol movimenta as pessoas bem melhor que a política, especialmente quando a liderança é paupérrima, como actualmente. Poucos aderiram ao apelo para votar nas eleições para o parlamento europeu em Junho. Não se sentiam motivados pela política nem pela maioria dos políticos. Porém, a magia brasileira, aquela chama chamada Scolari, foi a faísca que incendiou a alma portuguesa, levando os portugueses a sonhar para acordarem do pesadelo que é o governo e a governação PSD/PP, que nem tem preocupação social, nem é democrático, nem popular.

Futebol, o belo desporto, é o verdadeiro dinamizador social, galvanizando as pessoas a interagirem, a assumirem iniciativas e acções que a classe política já não consegue despertar.

Em termos da economia, o Ministério de Finanças torceu o nariz e fez cara de poucos amigos, afirmando que o impacto do EURO foi mínimo. Então, graças a Deus que Manuela Ferreira Leite está de saída.

O EURO 2004 garantiu uma taxa de ocupação hoteleira de 100% em algumas regiões e de 90% em Lisboa, garantindo ao sector da restauração uma alta durante 21 dias. Portugal recebeu, e muito bem, 8.000 jornalistas e organizou sua estadia de forma exemplar. A cada jornalista foi designado um assistente, com quem estava em contacto 24 horas por dia se necessário na eventualidade de qualquer problema.

Portugal estava na mira de 100 estações de televisão, recebeu pelo menos 200.000 e até 500.000 visitantes extras por causa do futebol, criou 36.150 empregos novos e o turismo é estimado a crescer entre 3,5 e 6% por ano até 2010 por causa do investimento.

Se o estado investiu 208 milhões de Euros e já recuperou mais que 70 milhões, em três semanas, em receitas e impostos, e se Portugal conseguiu finalmente libertar-se do jugo que o atava a Espanha, dando uma lição em marketing político, como é que o Ministério de Finanças pode afirmar que o impacto foi mínimo?

Só se fosse liderado por alguém que pode perceber das contas mas que não entende nada da política nem da política económica. Manuela Ferreira Leite, essa também, chegou ao seu ponto de incompetência. Adeus.

O EURO 2004 foi um grande sucesso porque aquela mistura tão especial luso-brasileiro-africano trabalhou e viveu em conjunto e harmonia sem complexos, como irmãos, motivaram-se a deixar uma Obra e deixaram-na. Foi bonito de ver.

Agora cabe a cada um fazer seu balanço. Seria que uma política de imigração que desse a mesma hipótese ao africano e ao brasileiro que vem a Portugal que foi outrora dado ao português no Brasil e na África, seria pedir demais?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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