O pesadelo de sonhar

Sávio Gonçalves, vice-prefeito de Belo Oriente, MG, e 1º presidente da Comissão Constituinte da Lei Orgânica Municipal, disputava as eleições municipais para vereador em 1996. Por 32 votos, ficou na primeira suplência do PSDB. Depois da desilusão eleitoral, foi tomar posto no balcão de sua padaria, já na segunda-feira. O primeiro cliente daquela manhã foi o seu maior cabo-eleitoral durante a campanha. Chegou cabisbaixo, calado, pediu um cafezinho, para rebater a ressaca eleitoral, e um sonho. Silencioso, Sávio começou a vascular os balcões atrás de um sonho para atender o amigo. Procurou aqui, ali, no depósito, dentro dos fornos, e nada. Voltou mais triste ainda, cravou os cotovelos ralados em cima do balcão de vidro, levantou a cabeça, olhou firme o velho companheiro e desabafou:

- É compadre, o sonho acabou!...

Hoje, toda manhã que o brasileiro vai às padarias, tem a mesma certeza: o sonho acabou.

Lula e o PT fizeram nascer, brilhar e acender uma estrela vermelha no peito do trabalhador brasileiro. Mas, depois das eleições, o povo pôde ver que as cinco pontas da estrela do PT eram os cinco dedos do FHC, aquele governo que Lula prometeu combater. Agora, vivemos nesta ressaca moral, pós-eleitoral, de um governo sem sonhos, brilho, ou bandeira, pobre em si mesmo. Tudo vendido e comprado, barato, bem barato, num balcão de negociatas, igual ao dos governos anteriores.

Se não bastassem apenas seus erros, Lula e companheiros agora investem em defender grileiros do governo, do dinheiro do povo brasileiro. As CPIs que às duras penas nascem no Congresso, são objetivos de barricadas, protestos e piquetes de alguns representantes do povo, eleitos pelo PT. Uma vergonha moral, nacional, institucionalizada.

Não era para vermos isso em um governo que foi eleito pela vontade maior de mudanças dos brasileiros, em um governo saído do seio do povo, do meio de todos nós. É por isso que muitos estão calados, vencidos, rendidos, por estes nossos representantes que representaram tão bem, antes das eleições, os seus papéis. Agora estão aí, por decreto, cravando em nossas costas as contas assinadas por suas canetas, roubando de nós o prazer de beber um simples cafezinho, ou, até mesmo, compartilhar um sonho.

Aqueles que saíram às ruas com a estrela do PT bordada, empunhada, há muito enrolaram sua bandeira, deixando sua crença em um futuro melhor encostada em algum canto do coração, da alma.

Agora, depois do medo ter vencido a esperança, vamos vasculhando dentro de nós mesmo, buscando a que fio de luz se apegar, seguir, acreditar. Ta tudo tão triste, tão escuro, tão sombrio, que estrela nenhuma faz esta noite dos grandes ideais amanhecer. E o que era para ser apenas um sonho, converteu-se num profundo e assustador pesadelo...

Petrônio Souza Gonçalves jornalista e escritor

e-mail: [email protected]

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