Lula cobra "inteligência política" dos países ricos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou, dos representantes de países ricos presentes ao 33º Fórum Econômico Mundial, uma “atitude de inteligência política”, ao defender uma nova ordem econômica no mundo. “A construção de uma nova ordem econômica internacional, mais justa e democrática, não é somente um ato de generosidade, mas, também, e principalmente, uma atitude de inteligência política”, afirmou Lula, em discurso hoje em Davos (Suíça). “Mais de dez anos após a derrubada do Muro de Berlim, ainda persistem muros que separam os que comem dos famintos, os que têm trabalho dos desempregados, os que moram dignamente dos que vivem na rua ou em miseráveis favelas, os que têm acesso à educação e ao acervo cultural da humanidade dos que vivem mergulhados no analfabetismo e na mais absoluta alienação”, continuou o presidente. O pronunciamento de Lula durou cerca de 20 minutos. Nele, o presidente sugeriu ainda a criação de um fundo internacional de combate à fome — ao mesmo tempo em que destacou que essa é uma das prioridades de seu governo — e também condenou os paraísos fiscais que recebem recursos de origem ilícita vindos dos países pobres. “Maior disciplina nessa área é fundamental para o decisivo combate ao terrorismo e à delinqüência internacionais, que se alimentam da lavagem de dinheiro”, afirmou. “Se querem ser coerentes com a sua experiência vitoriosa, não podem e não devem obstruir o caminho dos países em via de desenvolvimento. Ao contrário, podem e devem construir conosco uma nova agenda de desenvolvimento global compartilhado”, disse o presidente, para um público formado pela elite dirigente dos países ricos e do sistema financeiro internacional. “Meu maior desejo é que a esperança que venceu o medo, no meu país, também contribua para vencê-lo em todo o mundo”, continuou Lula, reiterando que “precisamos, urgentemente, nos unir em torno de um pacto mundial pela paz e contra a fome”. E finalizou: “Fiquem certos, o Brasil fará a sua parte”. De Porto Alegre a Davos Lula lembrou também à platéia que estava vindo diretamente do 3° Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e que, como presidente, representava 175 milhões de brasileiros. “Trago a Davos o sentimento de esperança que tomou conta de toda a sociedade brasileira. O Brasil se reencontrou consigo mesmo, e esse reencontro se expressa no entusiasmo da sociedade e na mobilização nacional para enfrentar os enormes problemas que temos pela frente”, disse. Entre esses problemas, segundo Lula, está a superação dos constrangimentos externos que impedem a retomada do desenvolvimento no país. “O Brasil tem que sair desse círculo vicioso de contrair novos empréstimos para pagar os anteriores”, disse, afirmando em seguida que “é necessário realizar um extraordinário esforço de expansão do nosso comércio internacional, em particular das nossas exportações, diversificando produtos e mercados, agregando valor àquilo que produzimos”. Em seguida, fez uma dura crítica ao protecionismo dos países ricos: “Todo o esforço que estamos fazendo para recuperar, responsavelmente, a economia brasileira, no entanto, não atingirá plenamente seus objetivos sem mudanças importantes na ordem econômica mundial. Queremos o livre comércio, mas um livre comércio que se caracterize pela reciprocidade. De nada valerá o esforço exportador que venhamos a desenvolver se os países ricos continuarem a pregar o livre comércio e a praticar o protecionismo”. Diante da iminência de uma nova guerra entre Estados Unidos e Iraque, o presidente ressaltou que a política externa brasileira está orientada para a busca da paz e da solução negociada dos conflitos, mas também pela defesa intransigente dos interesse nacionais. “A paz não é só um objetivo moral. É, também, um imperativo de racionalidade”, disse. Para ressaltar em seguida que “é necessário admitir que, muitas vezes, a pobreza, a fome e a miséria são o caldo de cultura onde se desenvolvem o fanatismo e a intolerância”. Depois de convidar os presentes a participar da construção de uma nova ordem econômica internacional, Lula afirmou: “Não fiquem indefinidamente esperando sinais para mudarem de atitude em relação ao meu país e aos países em desenvolvimento. Os povos, como os indivíduos, precisam de oportunidades. Os países ricos de hoje só o são porque tiveram as suas oportunidades históricas”.

Fonte: www.pt.org.br

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