Lula quer aproximação com América do Sul

A integração física com os países da América do Sul é uma das principais metas do governo federal para a área de infra-estrutura, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a solenidade de abertura do 1º Seminário de Infra-Estrutura para o Desenvolvimento Sustentável, na quarta-feira, dia 25, em Brasília.

Segundo ele, o país deve investir na construção de estradas, pontes, ferrovias, aeroportos e todo os meios que facilitem a integração comercial e de negócios. "Hoje, o empresário de várias nações vizinhas tem de ir a Miami para vir ao Brasil porque não tem vôo direto para o país. Quem vai antes a Miami (EUA) para chegar ao Brasil, faz negócio por lá mesmo", ponderou.

Lula reiterou que não há porque estar isolado dos outros países. "Nós, na América do Sul, seremos mais fortes se unidos", argumentou ele. "Não podemos disputar liderança, mas sim fazer parcerias", concluiu, numa referência à rivalidade histórica entre Brasil e Argentina. "Ambos tiveram que chegar ao fundo do poço para perceber que, aos olhos do mundo, não somos líderes de nada."

Para aumentar o poder de fogo dos países em desenvolvimento e combater as restrições comerciais impostas pelas nações ricas, a saída, de acordo com o presidente, é criar mecanismos de coalizão.

Para tanto, o governo pretende organizar, até abril do próximo ano, uma reunião de cúpula com os principais países em desenvolvimento para discutir políticas de combate à miséria e à fome e fazer frente às imposições norte-americanas e européias. Estariam nessa lista, segundo Lula, Índia, China, Rússia, México e Argélia. O país deve, também, buscar mais espaço no Oriente Médio. O presidente planeja fazer novas viagens aos países árabes para discutir possíveis acordos comerciais.

O presidente parabenizou a Fundação Perseu Abramo, organizadora do seminário que chamou de "essencial" para estabelecer uma discussão nacional sobre um plano de desenvolvimento. Órgão de estudos e pesquisas do PT, a fundação abre com o encontro um ciclo de debates sobre a realidade brasileira.

O objetivo, de acordo com o presidente da Fundação Perseu Abramo, Hamilton Pereira, é ir além da reflexão teórica: "Pretendemos debater a agenda do desenvolvimento, traçar metas e oferecer subsídios à construção do Plano Plurianual (PPA)."

Diálogo Lula saudou o esforço feito pela fundação para deflagrar um processo de retomada do crescimento econômico por meio do diálogo com os diferentes setores da sociedade. "É indispensável ouvir todas as esferas do governo e da sociedade civil", afirmou o presidente da República. "A estratégia não sairá de Brasília. Precisamos discutir muito, e com calma, para ver que desenvolvimento o país quer."

O tema foi abordado ainda pelo ministro Luiz Dulci. Ele ressaltou as consultas feitas pelo governo federal para elaborar a proposta do PPA para o período de 2004/2007, que o Executivo tem de enviar ao Congresso até o final de agosto. "Mais de 2 mil entidades, entre organizações empresariais, sindicais, religiosas, científicas, de mulheres e tantas outras ligadas à sociedade civil, estão sendo ouvidas em fóruns estaduais", informou. "E em todos os fóruns a grande ênfase é dada à questão da infra-estrutura."

Dulci, ex-presidente da Fundação Perseu Abramo, se disse feliz por ver que a entidade "está não apenas continuando, mas ampliando significativamente" o trabalho que ele desenvolveu nos quatros anos em que esteve à frente da instituição. Manifestando a expectativa de que o seminário contribua para a formulação do PPA, ele completou: "Aguardamos ansiosos pelos resultados."

O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, criticou a burocracia que engessa a área de infra-estrutura e afirmou ser urgente a simplificação das regras para investimentos no setor. "O país precisa incentivar investimentos de médio e longo prazo", disse ele. "Sem uma infra-estrutura sólida, o país não suportará um crescimento forte, em torno de 4% ou 5% ao ano, o que acredito ser muito possível". Ele considerou especialmente preocupante a situação na área de transportes.

Reformas Lula disse ainda que o governo precisou de coragem para encaminhar as reformas ao Congresso Nacional. "Reforma é sempre muito complicado. Nós, seres humanos, somos induzidos a sermos conservadores, não queremos mudar. A gente se acostuma com as coisas, mesmo que não sejam as melhores do mundo. Digo isso para ninguém ficar revoltado porque somos conservadores. É a lei da natureza. Por isso resolvemos fazer as reformas", afirmou.

Segundo o presidente, as reformas tributária e da Previdência são necessárias porque não vão trazer mudanças ao Brasil apenas durante o seu mandato. "Se não fizermos [as reformas], daqui há 20 anos não saberemos que Estado teremos. É por isso que estamos convencidos de que vamos fazer o que nos propusemos", afirmou.

O presidente lembrou que o Brasil só vai conseguir atrair investimentos se investir em sua estrutura física e econômica. Nesse sentido, ele disse que a reforma tributária pode contribuir para novos investimentos, porque unifica a legislação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e evita a guerra fiscal entre os Estados.

Bem-humorado, o presidente disse que em seis meses de governo o Brasil já viu melhorias nos mais diversos setores, inclusive em sua vida pessoal. "Imagine, de Caetés para Príncipe das Astúrias", disse, ao referir-se ao prêmio que receberá na Espanha, em outubro deste ano. Lula admitiu, porém, que vai enfrentar dificuldades. "As coisas não são tão fáceis como a gente imagina, mas também não tão difíceis".

Também estiveram presentes à solenidade de abertura o presidente nacional do PT, José Genoino, e os ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) e Olívio Dutra (Cidades), além de vários embaixadores, empresários e especialistas na área de infra-estrutura.

Partido dos Trabalhadores

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