Porto Alegre e Davos: Dois mundos, dois ideais

Davos já tem rival. Os números dos participantes falam por si mas não é só no interesse gerado pelo evento. Tem a ver com as ideias novas expressas. Nesta área, Porto Alegre vence e deixa o Forum Mundial Econômico de Davos com uma crise existencial.

No Forum Social Mundial de Porto Alegre, uma iniciativa do Partido dos Trabalhadores do Brasil, participaram cem mil pessoas de 157 países, o FSM reuniu não menos do que 5,000 organizações e figuras públicas de todo o mundo, sob o lema “Um Novo Mundo é possível”. Numa palavra, otimismo.

No outro lado do Oceano Atlântico, em Davos, Suiça, pouco mais do que 2,000 pessoas, oriundos de menos do que 100 países (99 é a cifra exata), entre os quais 29 chefes de estado/governo, 81 ministros e 1,000 empresários debateram num clima de pessimismo o tema “Construir a confiança”, sinal que tal já não existe no seio do mundo neo-liberal, cujas políticas estão bem visíveis um pouco em toda a parte.

Em Porto Alegre, o FSM reuniu oradores que falaram em favor da paz e nas opções alternativas à guerra. Em Davos, devido talvez à presença de três figuras da administração dos EUA (Colin Powell, John Ashcroft e Donald Evans), as medidas de segurança foram tão apertadas que qualquer avião não autorizado a atravessar o espaço sobre o local poderia ter sido abatido a tiro. Em Porto Alegre debateu-se o tema “Contra a militarização e a guerra”, em Davos, falou-se sobre os efeitos da mais do que provável guerra no Iraque na já fragilizada economia mundial.

Em Porto Alegre, se chamou a atenção do mundo contra a pena de morte. Em Davos, os peritos se questionaram como criar novamente a confiança nas instituições e no sistema capitalista, depois do fracasso do modelo económico e dos escândalos corporativos nos EUA, Enron e WorldCom sendo a ponta do icebergue.

Porto Alegre se declarou contra os efeitos nocivos da globalização, da mundialização e do neo-liberalismo. Em Davos, tentaram descobrir maneiras de perpetrar estes males através de outras soluções.

Em Porto Alegre, ficou realçada a importância da cultura como ponto de partida para criar laços de amizade entre os povos do mundo. Em Davos, nem se falou em cultura...falou-se em guerra. Nas palavras de Emir Sader, um dos organizadores do FSM, “Todos sabem que Porto Alegre derrotou Davos, pois daqui saem as principais propostas para o mundo de hoje, temos o maior capital de reflexão e de participação democrática”.

O FSM irá se mundializar no próximo ano, quando o evento deixa o Brasil e vai a India, para regressar no ano seguinte. Davos serviu para realçar a fragilidade do modelo econômico atual, baseado numa frenética preocupação com a linha de fundo das contas, o que quer dizer que o lucro é tudo, nem que para o aumentar, tem-se de despedir milhares de trabalhadores e colocar milhares, para não dizer milhões, de famílias em risco.

Num mundo onde há ainda 1.2 bilhões de pessoas que vivem com menos do que um dólar americano por dia, os 10,000,000 Euros que foram gastos nas medidas de segurança em Davos falam por si.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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