Rússia levanta barreiras contra carne brasileira

A respectiva decisão foi tomada em Moscovo e vem anular as limitações anteriores, salvo os produtos originários dos Estados brasileiros de Pará, Amazonas, Acre, Rondónia, Tocantins, Maranhão, Amapá e Roraima. Antes, após as inspecções levadas a efeito por peritos russos, fora levantada a proibição às importações de carne do Estado de Santa Catarina. As partes acordaram que os fornecimentos seriam efectuados somente por empresas certificadas pela Rússia, sendo ainda indispensável a autorização dos serviços veterinários russos.

Como se sabe, o Brasil tem-se empenhado na cooperação económica e científica activa com a Rússia, tendo apoiado a sua adesão à OMC, enquanto Moscovo, por seu turno, apoia a intenção do Brasil, o maior país da América Latina, de ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Por isso, as limitações à exportação de carne eram vistas pelas autoridades e empresários brasileiros como um mal-entendido.

As proibições foram devidas à epidemia de febre aftosa na região amazónica.

Fosse como fosse, o embargo de 6 meses teve significativos custos. Segundo estimativas, os exportadores brasileiros de carne bovina perderam diariamente de 1 a 4 milhões de dólares devido à anulação dos contratos com os parceiros russos.

A questão da carne bovina foi igualmente colocada pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva no encontro com o seu colega russo Vladimir Putin quando esse último visitou as margens do Amazonas nos finais do ano passado. Naquela altura, contudo, Putin nada prometeu no sentido de resolver a situação, nem falou do futuro aumento das quotas para as importações brasileiras. Só disse "confiar na decisão dos especialistas".

Enquanto isso, para o tirar o processo do "ponto morto", o vice-presidente do Brasil, José Alencar, e várias delegações de empresários brasileiros deslocaram-se a Moscovo. Em paralelo, foi mantida durante meses correspondência por via diplomática. Por vezes, a parte russa ia ao encontro dos seus colegas do Brasil. Na sequência disso, há um mês e meio, foram levantadas as proibições à importação de carne de aves, que voltou de novo ao mercado russo após uma pausa (desde 20 de Setembro do ano passado).

Convém referir que, antes do embargo, a carne de frango brasileira ocupava o 2.º lugar no mercado russo (26%) depois da carne proveniente dos EUA (60%). Calcula-se que, no ano corrente, o total das importações brasileiras de carne de frango se estime em 960 milhões de toneladas. No que se refere à carne suína e bovina, estas avaliaram-se em 2003 em 300 mil toneladas e 84 mil toneladas, respectivamente. No ano em curso espera-se que a Rússia aumente as importações de carne suína, podendo o Brasil tornar-se o 2.º exportador deste produto após o Japão.

Todavia, é pouco provável que, após o fim do embargo, o Brasil, sendo o maior parceiro russo na América Latina, possa vir a assumir posições de liderança nas importações de carne. Não há muito, as exportações brasileiras de carne e derivados para a Rússia totalizavam 867 milhões de dólares (as exportações de carne bovina avaliaram-se em 239 milhões de dólares, as de carne suína em 441 milhões de dólares e as de carne de frango em 159 milhões de dólares).

Antes do embargo, as exportações brasileiras de carne bovina constituíram 35% e as de carne suína - 74%.

Além disso, o embargo fez com que as importações russas de carne suína diminuíssem em 14%, o que fez com que os preços de compra internos tivessem tido um aumento análogo.

Pode constatar-se que, actualmente, o Brasil foi afastado do mercado russo pelos países da UE (339,7 mil toneladas, ou seja, 50,5% do mercado), assim como pelos EUA (171,7 mil toneladas) e por alguns países asiáticos. Quanto à carne suína, a UE mantém a 1.ª posição (236 mil toneladas) e os EUA - a 2.ª com 53,8 mil toneladas, podendo 177 mil toneladas vir a ser distribuídas entre os demais exportadores, inclusive o Brasil.

A questão das quotas de exportação de carne para este ano tem sido uma das preocupações dos empresários brasileiros. Prevê-se que no mercado interno russo, o aumento dos preços da carne seja em média de 10-15%.

Em segundo lugar, espera-se que o aumento do consumo de carne na Rússia (a par da diminuição, no ano de 2004, em 8% do número de cabeças de gado bovino e em 11% do gado suíno) venha a produzir um impacte na política de importações e na formação de preços. Neste quadro, a fim de prevenir eventuais carências e, ao mesmo tempo, perante a impossibilidade de aumentar a produção de carne nos próximos tempos, o Governo russo tem apostado nas importações. Ao que parece, a quota geral de importação de carne suína poderá vir a estimar-se em 467,4 mil toneladas.

O Ministério do Desenvolvimento Económico e Comércio da Rússia já deu luz verde ao aumento em 4% das quotas de carne suína e em 2% da carne bovina. Entretanto, o Ministério da Agricultura refere que, nos finais de Janeiro do ano corrente, as importações de carne fresca e congelada tiveram um crescimento de 46% (29,2 mil toneladas) face ao período idêntico do ano anterior. Assim, tudo leva a crer que, dentro em breve, as quotas de importações de carne vão aumentar ainda mais. Tal cenário optimista agrada, acima de tudo, aos fornecedores, e em menor grau, aos consumidores russos que, em última análise, terão de pagar a carne mais cara.

Vassili Zubkov observador económico RIA "Novosti"

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