O universo íntimo de Lula

Em seus Versos Íntimos, revelou a chaga que trazia no peito e dentro da sua vida inteira. Está lá, na obra do retirante que veio – como tantos - viver e vencer no sudeste: “Vês?! Ninguém assistiu ao formidável enterro de tua última quimera./ Somente a ingratidão – esta pantera – foi tua companheira inseparável!/ Acostuma-te à lama que te espera!/ O homem que nesta terra miserável mora entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera./ Toma um fósforo. Acende teu cigarro!/ O beijo, amigo, é a véspera do escarro, a mão que afaga é a mesma que apedreja./ Se alguém causa inda pena a tua chaga, apedreja essa mão vil que te afaga, escarra nessa boca que te beija!/”.

O governo Lula é o enterro da última quimera de muitos, a última esperança de mudança que o brasileiro depositava naquele que era igual, mas que, no poder, está sendo igual a todos os outros. É de se espantar com tamanha ingratidão do companheiro Lula com os seus 52 milhões de eleitores. Os compromissos de campanha têm se revelado, até aqui, que foram palavras alçadas ao vento das inverdades, das falácias, da hipocrisia. Lula, o político, aprendeu também a ser uma fera do voto, do jogo do vale tudo, e aí está o resultado que o nosso processo político eleitoral produziu. O beijo de Lula nos rostos dos eleitores antes das eleições, era o beijo da traição, da entrega do país aos desmandos do FMI e dos nossos eternos (?) patrões. É a lama que nos espera, a crucificação das nossas esperanças.

A mão do presidente que deveria afagar seu povo, é a mesma que acena para a eterna – até quando? - elevação dos juros, para o empobrecimento da população e da Nação, para a velhacaria institucionalizada, levando a corrupção de waldomiros ao primeiro escalão do poder central. E assim vai Lula brindando com os lucros recordes da banqueirada nacional e internacional, enquanto dá uma cusparada na cara dos jornalistas, de muitos pais de família. No pequeno e médio empresariado, foi e está sendo este achaque financeiro imposto por Palocci, Meirelles & Cia; aos dez milhões de desempregados, o esquecimento; aos sem-terras, o limbo das políticas de assentamentos e desapropriações de terras improdutivas; ao apoio e reivindicações sociais de toda a igreja, a soberba; aos autênticos aliados, a santa inquisição petista; aos antigos ideais da esquerda brasileira, a traição; ao eleitorado ávido por mudanças, o estelionato eleitoral. Sinceramente, este não era o governo que merecíamos, pois todos nós votamos nele sem medo de sermos felizes e agora estamos com medo de não termos mais esperança de acreditar que tudo isso vai mudar. Uma pena.

É por isso que os estudantes que antes aplaudiam, agora vaiam o presidente, pela sua ineficiência, seu medo de realizar o grande sonho nacional. De colocar o Brasil e sua economia no lugar que lhe é de direito, dentro cenário político internacional, o de uma das maiores potências do mundo. Existe uma chaga aberta no peito de todo brasileiro que votou e acreditou no Lula, no ex-trabalhador.

Para Lula, o homem que vai olhar de cima, do seu lindo avião, a nossa dura realidade nacional/social, vale lembrar que ele está escrevendo sua vida nas páginas da história, que sempre repudiam os traidores. Enquanto isso, o povo, aqui em baixo, vai lembrando dos versos de Augusto, escritos nas páginas do tempo, aqueles que dizem que: “Se alguém causa inda pena a tua chaga, apedreja essa mão vil que te afaga, escarra nessa boca que te beija!”.

Oriente Médio - Não posso deixar de fazer esta constatação: o albornoz de Yasser Arafat é o til da palavra resignação. O quipá de Ariel Sharon é o circunflexo da palavra prepotência.

Petrônio Souza Gonçalves jornalista e escritor e-mail: [email protected]

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