Caso Diniz não abala prestígio de Lula na Europa

Segundo as lideranças ouvidas, a reação do governo diante das denúncias foi correta e o escândalo não abalou a reputação do governo Lula. Leia a reportagem:

O escândalo envolvendo o ex-subsecretário de Assuntos Parlamentares Waldomiro Diniz não abalou até agora a boa imagem do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na esquerda européia.

Representantes de partidos políticos de esquerda na França, na Espanha e na Itália ouvidos hoje reconhecem que a notícia pode ter tido impacto. No entanto, acreditam que a reação do governo, com a imediata demissão de Diniz, foi apropriada.

Não merece críticas nem mesmo a posição do governo, contrário à formação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso.

Para Alain Desir, dirigente do Partido Socialista francês, assim como acontece em países europeus, o caso pode ser investigado pela Justiça e pela polícia, sem necessidade de uma CPI.

Comparação Para Desir, partidos de esquerda na América Latina pediam CPIs, como era o caso do PT, porque um dos problemas no Brasil e na região eram o de que "a corrupção e suborno era uma atitude comum" nas elites e que a situação financeira dos partidos políticos não estava clara.

Esse caso, no entanto, é diferente, segundo ele. "Haverá um processo, um inquérito judicial, a Justiça vai fazer as investigações. Não acho que seja necessário em todos os países, inclusive aqui na Europa, que toda vez que há um escândalo que haja um inquérito específico no Parlamento, quando a Justiça é capaz de fazer isso também", explica. "Nesse caso (Waldomiro), não é um sistema que está em julgamento, mas apenas a atitude de uma pessoa."

O dirigente do Partido Socialista francês, do ex-primeiro-ministro Lionel Jospin, que perdeu as últimas eleições gerais na França, elogia a reação do governo brasileiro nesse caso, especialmente se comparada à do RPR, partido do presidente Jacques Chirac, depois do julgamento de Alain Juppé.

Juppé, ex-primeiro-ministro da França e fiel aliado de Chirac, foi condenado em um processo de corrupção no fim de janeiro. Ele nega as acusações e recorreu da decisão.

"Há uma enorme diferença entre a reação do Partido dos Trabalhadores e do governo Lula, que é clara, que condena o episódio e que diz que não haverá desculpas para esse assessor e, algumas vezes, a reação de alguns partidos que dizem que a Justiça está errada quando tenta condenar o suborno", diz Desir.

"Vimos isso na França nas últimas semanas, com a condenação de um líder do partido do presidente Chirac em um escândalo de suborno muito importante, quando a liderança do partido tentou dizer que a Justiça estava errada, o tribunal estava errado. Aqui há problema moral e político, não quando o partido tem uma atitude clara de condenar o indivíduo que agiu erradamente."

"Virgindade" Desir também condena a reação da oposição no Brasil. "Vi declarações do PSDB, dizendo que a virgindade do PT acabou. Acho que isso é um jogo político. Eles têm dificuldades em achar argumentos políticos contra as políticas do governo Lula. Então, tentam usar esse episódio e pôr a culpa em todo o governo Lula", disse.

"Não sei qual será a reação da opinião pública no Brasil, mas não acredito que as pessoas vão achar que existe implicações para Lula ou (José, ministro da Casa Civil) Dirceu, por causa da atitude de uma pessoa específica, que foi demitida. Para nós, é muito claro que não é um escândalo em que o Partido dos Trabalhadores está envolvido. Foi a atitude de um indivíduo, que foi condenada e ele foi demitido da equipe, e as coisas estão muito claras."

Esperança Na Espanha, a Izquierda Unida, partido político que reúne diferentes correntes da esquerda espanhola, não acha que o caso Waldomiro trouxe prejuízos à imagem de Lula na Europa.

"(O caso) Produz alguma repercussão, mas o mais importante é a resposta do governo, pois corrupção existe na França, na Espanha, nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e na América Latina", diz Pedro Marset, deputado do Parlamento europeu da Izquierda Unida.

"O mais importante é saber responder e atacar imediatamente quando há um caso de corrupção, como fez Lula, com a demissão e as medidas para evitar que isso se continue produzindo", acrescenta.

Segundo ele, a esquerda tem que dar exemplo e o fato de Lula ter "eliminado o corrupto, em vez de protegê-lo" é a resposta adequada nesses casos. Por isso, na sua avaliação, a esquerda não sai prejudicada neste caso.

Marset diz que a esquerda européia continua vendo o governo Lula com "muita esperança". "O importante é o modelo econômico que Lula tenta implantar, com a modernização da economia brasileira para poder satisfazer esse plano tão ambicioso de eliminar a fome com o Fome Zero", avalia.

Desir diz que do ponto de vista político, o Partido Socialista francês considera que Lula "está fazendo um trabalho muito bom em uma situação muito difícil", e que o partido apóia as políticas social e externa dele.

"Acreditamos que o sucesso do governo será muito importante para o Brasil e para a América Latina e para o Mercosul. E também para a esquerda no mundo inteiro. É uma referência e um exemplo muito bom, com uma política realista, mas que não é apenas uma adaptação ao neoliberalismo", avalia.

Varinha mágica Na Itália, o partido dos Democratas de Esquerda (DS), herdeiro do Partido Comunista Italiano, avalia que o escândalo envolvendo o assessor direto do ministro José Dirceu não provocou danos à imagem do PT entre as esquerdas.

"Claro que estamos preocupados porque são coisas que podem afetar o desenvolvimento da atividade do governo, mas não foi importante", diz Donato di Santo, dirigente do DS.

Segundo ele, houve a percepção imediata de que "o governo Lula teve a força, a capacidade e a vontade de intervir imediatamente, de dar uma resposta muito firme, muito forte".

Para Di Santo, é essa a reação esperada de um governo de esquerda ou de centro esquerda. "Não tem a varinha mágica, que por mágica não haja nenhum tipo de problema, porque são seres humanos. Podem haver esses problemas. Mas é importante do ponto de vista político e judicial que, quando for necessário, se intervenha o mais rapidamente e forte possível. E Lula fez isso", diz.

PT

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