Os filhos de Severino

O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, está maus uma vez impressionando pela sua falta de sutileza. Embora ele represente um retrocesso na busca pela ética na política e na tentativa de não se macular a imagem do congresso junto a opinião pública, ao menos ele não é hipócrita, o que normalmente ocorre com grande parte das pessoas que se envolvem na carreira política e chegam ao poder pois, mesmo que suas opiniões não sejam politicamente corretas, exprime-as sem remorsos.

A propósito, foi a falta de sutileza de Severino, que fez com que alguém ainda menos sutil, o presidente Lula, suspendesse a ampla reforma ministerial anteriormente planejada e que deixaria todos os partidários do governo felizes, incluindo o colega de partido de Severino, o deputado Ciro Nogueira, que estaria hoje, à frente da pasta das comunicações, cuja indicação demonstraria a todos, o prestígio de Severino, junto ao executivo.

Severino defendeu abertamente, a equiparação dos salários dos parlamentares aos dos ministros do supremo, elevando-os, dos atuais R$ 12.800,00, para R$ 21.500,00; usando isto, inclusive, como uma das metas de sua administração na presidência da casa, o que aparentemente surtiu efeito, pois foi eleito com ampla maioria. Seu então concorrente, o deputado Luis Eduardo Greenhaugh, no entanto, ao ser interpelado se apoiava tal proposta, declarou não ser contra nem a favor.

A propósito, a opinião pública se indignou quanto a proposta de elevação dos salários dos deputados, mas não se indignou quanto ao fato de os ministros do supremo perceberem R$ 21.500,00. Eles têm a sorte de não estarem sempre na mídia e, por não necessitar de eleição para os cargos que ocupam, também não necessitam agradar a ninguém, exceto aos presidentes, dos quais provém sua indicação.

Graças a opinião pública que se mobilizou de tal forma contra a proposta que obrigou os deputados a se voltarem, muitos contra seus próprios interesses, ela foi rejeitada, embora não fizesse muita diferença se fosse aprovada, pois este nem mesmo é um ano eleitoral.

Não obstante, Severino não se deu por vencido e, usando uma medida administrativa, aumentou a verba de gabinete dos colegas em 25 por cento, o que mostra que ele estava certo ao defender o aumento dos salários, pois este ato já foi esquecido pela opinião pública e a imagem do congresso, continua intacta, pois uma vez que esta foi uma medida administrativa, os deputados nada podiam fazer para impedir, o que significa que a opinião pública não poderá os crucificar por conseguirem mais este acréscimo em seus já modestos orçamentos pessoais.

Severino, mais uma vez, demonstra o quanto a palavra ética está afastada de seu dicionário ao apoiar o nepotismo, que, a propósito, sempre foi uma prática comum em todos os níveis da administração pública, quando permitido pela lei e algumas vezes também quando não é permitido, sendo sempre considerado pela opinião pública, como algo tão próprio dos políticos brasileiros quanto as convocações extraordinárias do congresso, mas como a contratação de parentes para cargos no serviço público, não aparece na mídia como as convocações, é ignorada. Mas, agora que Severino Cavalcanti, que é o presidente da Câmara dos Deputados e não mais um reles membro do baixo clero, declara que adota o nepotismo como regra, como na questão do aumento salarial, é necessário que os congressistas, mais uma vez, levantem a bandeira da moralidade para tentar salvar a imagem do congresso.

A questão se o nepotismo deve ou não ser abolido torna-se irrelevante quando se leva em conta a estrutura do serviço público no Brasil, especialmente, a do Poder Legislativo, pois mesmo que não seja mais permitida a contratação de parentes, quem quer que trabalhe como assessor parlamentar, por exemplo, que provavelmente será um apadrinhado político, contribuirá mais para a melhoria do jogo de Paciência nos computadores do congresso, que para uma melhor tramitação de projetos de lei.

Caso haja a proibição, alguns parlamentares já apresentaram uma solução perfeita para o problema: inspirados no filme “Pacto Sinistro”, de Hitchcock onde assassinos trocam de alvos para não serem envolvidos nos respectivos crimes, estes parlamentares decidiam-se por contratar a mulher do colega, para que não ficasse caracterizado o nepotismo. Felizmente para eles, os políticos brasileiros são extremamente criativos.

Os deputados já devem estar saudosistas dos bons e velhos tempos de Michel Temer, Aécio Neves, Luiz Eduardo Magalhães e mesmo do mombacense, Paes de Andrade, todos de fala comedida e, conseqüentemente, criavam pouca ou nenhuma polêmica e a Câmara somente chamava atenção na época das convocações extraordinárias e nas CPI’s. A atenção se concentrava no Senado onde a megalomania do senador Antonio Carlos Magalhães transformou, no governo FHC, o presidencialismo em um parlamentarismo branco.

Agora os bem-educados filhos de Severino, graças à incontinência verbal do pai, não mais poderão desfrutar dos benefícios dos cargos na assessoria a não ser é óbvio, que haja um pacto sinistro entre Severino e Ciro Nogueira, para uma troca de contratações. Tudo e possível. Afinal, o que esperar de um porcxo além de um grunhido.

Jose Schettini Petrópolis BRASIL

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