Lula: A última esperança da América Latina

Luís Inácio Lula da Silva chegou onde está hoje ao seu custo. Teve de lutar contra os interesses investidos do sistema a cada momento na sua viagem meteórica desde as suas origens humildes em Pernambuco até sindicalista e agora Presidente-eleito do Brasil. Esta viagem incorpora as esperanças não só duma nação, mas de todo um continente, que precisa desesperadamente dum líder.

Os oito anos de políticas liberais praticadas pelos governos do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que sem dúvida trouxeram grandes sorrisos aos lábios das administrações em Washington, deixaram o Brasil numa situação deplorável. O desemprego afeta 20% da população ativa, a pior taxa na história do país, o poder de compra está em queda-livre, o crescimento económico fica perto do zero, a taxa de juros é a terceira maior do mundo, a dívida interna líquida é de 300 mil milhões de USD e está a subir vertiginosamente, há 40,000,000 de pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza e no próximo ano, os pagamentos a instituições internacionais de crédito serão um bilhão de USD por semana.

Por muito que a administração de direita em Washington possa considerar que Lula é um comunista disfarçado e por muito que possam suspeitar que ele é mau presságio para os interesses dos EUA na América Latina, Presidente Lula é o resultado directo da política de Washington no continente durante as últimas décadas, é um produto do seu próprio fabrico. Nas palavras de Lula, o Brasil não é uma República de Bananas. “O meu Governo não vai ser submisso e defenderá, firmemente, os interesses do país, fazendo valer o peso que tem na cena internacional. O Brasil é a décima maior economia do Mundo. Não podemos ser tratados como uma República de Bananas. Temos que ocupar o espaço que nos pertence e sermos respeitados”, disse em declarações antes da sua eleição.

Lula quer uma América Latina dentro da Área de Livre Comércio das Américas, mas numa base de igualdade, não um espaço livre para os ricos dos EUA ficarem ainda mais ricos, ao custo das outras populações. Lula considera que as propostas actuais da ALCA são “uma proposta para a anexação das economias de América do Sul e do Caribe pela economia norte-americana”.

Está a favor duma integração da América Latina dentro da ALCA não só numa base económica e comercial mas também numa perspectiva política e cultural, com todos os estados sendo membros, o que inclui a Cuba.

O Lula considera que no contexto actual, os EUA “mantêm uma hegemonia tecnológica, militar, cultural e económica e não se propõem a conceder compensações como acontece na União Europeia relativamente a estados como a Espanha, Portugal e Grécia”. Por exemplo, as exportações do Brasil para os EUA pagam na média 45% em taxas de importação, enquanto as exportações dos EUA para o Brasil pagam uns 15%. “O povo brasileiro tinha pago uma quota muito elevada pela submissão do Brasil à globalização neo-liberal comandada pelos Estados Unidos”, comenta o Lula.

Chegou a altura para as Américas se juntarem como amigos, de trabalharem juntos e de partilhar a sua riqueza comum. Já não há áreas brancas no mapa, que nunca foram exploradas pela Humanidade. Há, porém, buracos negros políticos, vértices nos quais os poderosos ficam mais fortes ao custo dos mais pequenos e mais fracos.

Estes não são valores cristãos, são as leis da selva. Os povos da América Latina merecem melhor e com Lula como Presidente do maior país da região, chegou a altura para uma mudança para melhor.

Márcia MIRANDA PRAVDA.Ru

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