Luciana Genro sobre interesses

Por suas posições preconceituosas em relação aos homossexuais, sua resistência às pesquisas com células-tronco, mas principalmente pela sua defesa explícita do toma-lá-dá-cá com o governo, dos interesses corporativos dos deputados e principalmente o escandaloso aumento de salário em 67%, pulando de cerca de R$ 12 mil para mais de R$ 20 mil. A verdade é que a maioria dos deputados (a bancada do P-Sol negou-se a votar em qualquer dos candidatos) escolheu o melhor interlocutor para jogar o jogo do próprio governo.

Para o funcionalismo público, o governo está propondo 0,1% de reajuste. Um impacto no orçamento de R$ 72,3 milhões, menos da metade do que custará aos cofres públicos o aumento dos 513 deputados. Provavelmente, depois de muitos discursos demagógicos, quase todos aprovarão a esmola, em nome da independência dos poderes. Enquanto a maioria do povo se debate contra o desemprego, a queda na renda das famílias, luta por um pedaço de chão e morre defendendo seus direitos mais básicos - como em Goiânia, onde um verdadeiro massacre foi promovido contra famílias sem teto -, a Câmara estava ocupada discutindo o aumento dos parlamentares. Confesso que não me surpreendeu muito. A chamada Casa do Povo muito pouco escuta a voz daqueles que diz representar. Basta observar votações como a do salário mínimo, quando a maioria derrotou uma proposta que aumentava em míseros R$ 15 o valor estabelecido pelo governo, de R$ 260. Bastaria uma rápida enquete pelas ruas para saber que essa não era a vontade popular. Ou na votação da Lei de Falências, quando a maioria aprovou a prioridade aos bancos no pagamento de créditos, em detrimento das dívidas com os trabalhadores ou com o fisco. Roberto Setúbal, o presidente do Itaú, já agradeceu a Lula pelos serviços prestados, que proporcionaram a esse banco o maior lucro da história dos bancos no Brasil, acima até dos lucros dos banqueiros nos EUA. Mas ele deve também agradecer ao parlamento brasileiro, que não tem se furtado a votar medidas favoráveis ao sistema financeiro, e em dar sustentação à política econômica de Lula, que tantas alegrias tem trazido ao banqueiro.

Nesse contexto, essa proposta de aumento é ainda mais escandalosa. E, ainda por cima, sabemos que para a maioria dos parlamentares esse "dinheirinho" é troco, para pagar a mesada e a faculdade dos filhos. As campanhas eleitorais milionárias não são pagas com o salário, mas com fartas contribuições de grandes empresas, nem sempre doadas dentro da lei, cujos interesses eles estão aqui para defender. Já surgiram denúncias, sempre difíceis de comprovar, de que até mesmo as emendas parlamentares acabam pagando um "pedágio" na liberação.

Nós não fazemos parte desse jogo. E para que não nos confundam nesse caldeirão da política como negócio, não só denunciamos o absurdo desse aumento, como também não ficaremos com o dinheiro. Eu, que já entrego dois terços do salário de deputada para o partido, desta vez vou entregar diretamente para o povo, seu legítimo dono, que é também o verdadeiro dono das imensas riquezas deste país, ainda nas mãos de um punhado de parasitas que vivem às custas do suor e da miséria da grande maioria. A luta do P-Sol é para acabar com essa injustiça, essas negociatas, esses escândalos. É a serviço dessa política que estamos aqui no parlamento e que cada um dos nossos militantes e dirigentes atua, organizando os trabalhadores, os jovens e os excluídos para através da mobilização buscar o que é seu de direito.

Luciana GENRO PSOL

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