Abril foi o mês do índio no Brasil. E os outros meses?

A programação cultural de todas as regiões e municípios brasileiros foi recheada de atividades, apresentações e debates, que procuraram dar espaço aos primeiros habitantes da Terra Brasilis.

Parece que, aos poucos, a sociedade brasileira vem tomando conhecimento da importância da diversidade cultural nativa. Não apenas porque enriquece o patrimônio simbólico e genético da humanidade, mas também porque devemos muito aos povos indígenas. Para ficar apenas nos exemplos agrícolas, aprendemos com eles a domesticar plantas como a mandioca e o milho e, além disso, quase um quarto da medicina ocidental tem fundamentos na sabedorias tradicional.

Atualmente, existem 215 etnias conhecidas no Brasil, além dos cerca de 45 grupos isolados, que fogem do contato com os brancos. Mais de 90 por cento dos índios vive na chamada “Amazônia legal” (abrangendo – total ou parcialmente - Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Tocantins, Amapá, Goiás e Mato Grosso) mas há também índios vivendo nas cidades.

O contato dos índios com a sociedade nacional levanta uma série de problemas, como por exemplo a polêmica questão da “aculturação”. Índio que usa roupas, assiste televisão ou utiliza trator na agricultura continua sendo índio? Continua tendo direito à demarcação de terras estabelecida pela Constituição de 1988? Os antropólogos dizem que sim, pois todas as culturas são dinãmicas e se transformam em contato com as outras. Aquele índio “puro”, nu, “selvagem”, não passa de um estereótipo petrificado. Enquanto os grupos e indivíduos continuarem a se sentir como índios, enquanto continuarem a manter certas crenças, valores e maneiras de se relacionar tradicionais, podem ser considerados como índios, sim, independentemente do fato de se adaptarem em alguns aspectos, após o contato com os brancos.

Existem, aliás, diversos casos de aldeias que se beneficiaram da utilização da nossa tecnologia para fortalecer sus cultura. Seja registrando rituais tradicionais em vídeo, para mais tarde poder mostrar às crianças, seja publicando livros, seja utilizando aviões para o transporte de pessoas doentes.

Nos tempos de Cabral, estima-se que havia que 5 milhões de índios habitando o que hoje se chama de Brasil. Em 1970, seu contingente demográfico chegou a menos de 200 mil. Ocorreu, aos poucos, um verdadeiro genocídio silencioso - motivo pelo qual alguns historiadores não falam mas em Descobrimento, mas em Conquista ou Invasão do Brasil pelos portugueses. Felizmente, a população indígena vai crescendo, no Brasil, desde a década de 1980. Entre outros motivos, isso se deve às campanhas de vacinação, ao surgimento de dezenas de organizações não governamentais como o Instituto Sócioambiental e ao direito à terra reforçado na Constituição de 1988.

Mas não se pode ainda relaxar. As madeireiras e os garimpeiros continuam a agir ilegalmente em terras indígenas. Fazendeiros e posseiros continuam a desmatar e plantas dentro de territórios já demarcadaos. Sem esquecer dos casos de barbárie como o do índio Galdino, queimado vivo em Brasília há alguns anos, enquanto dormia em um ponto de ônibus.

Por tudo isso, a questão indígena continua de grande atualidade, no Brasil. Resta muito a pensar, a administrar e a legislar. Um mês por ano está longe de ser suficiente...

Ilana GOLDSTEIN PRAVDA.Ru BRASIL

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