"Não foi pouco o que fizemos", diz Lula à CUT

O presidente abriu seu discurso aos sindicalistas reiterando seu respeito àqueles que divergem da condução de seu governo, considerando que essas pessoas "também são parte da família". "Não foi pouco o que fizemos nestes cinco meses de governo e vamos transformar este país juntos", disse Lula à platéia de dirigentes sindicais.

"Tenho certeza de que muitos se afogam não porque não sabem nadar, mas porque ficam nervosos, batem as mãos demais, abrem a boca demais e bebem água." Esta foi a analogia que o presidente fez para ressaltar a importância de manter o equilíbrio na condução do governo. "Tenho consciência de cada passo a ser dado e não esqueço nenhuma das coisas que assumi como compromisso, porque não tenho vergonha do que fui", disse.

Realizações ignoradas Lula se queixou da forma como a imprensa e a sociedade ignoram a maior parte das realizações do governo. "Quando o marido ou a mulher chega meia hora atrasado depois de 12 horas de trabalho, o companheiro reconhece meia hora de atraso em vez de elogiar pelas 12 horas de trabalho duro", comparou.

O presidente fez, então, um breve relato das últimas realizações de seu governo, para demonstrar que merece mais elogios do que críticas nestes poucos meses que assumiu o governo. Lula citou o lançamento do "mais importante projeto para cuidar de doentes mentais já implementado pelo governo federal".

Ele se referia ao "Volta para casa", que oferece renda à famílias que cuidarem de parentes internados. "Qual não foi minha surpresa ao ver na televisão e jornais no dia seguinte, não falavam do projeto, mas de uma mulher que veio me falar que Fernandinho Beira-Mar estava recuperado porque tinha lido a Bíblia", disse ele, referindo-se ao incidente ocorrido durante o evento de lançamento.

Plataformas Lula foi muito aplaudido ao citar a transferência da Noruega para o Brasil da construção das plataformas P-51 e P-52, compromisso de campanha para geração de empregos no país. Mencionou ainda o projeto de turismo que, segundo ele, empregará 1,5 milhão de pessoas e a liberação de verbas para a agricultura familiar.

O presidente garantiu também que serão liberados R$ 5,4 bilhões para os agricultores, neste ano, contra os R$ 2 bilhões do ano passado. "Vamos fazer a reforma agrária não porque alguém quer ou porque seja discurso meu, mas porque é uma necessidade do país", disse Lula, ressaltando o caráter pleno de sua proposta, que deve financiar a produtividade dos agricultores familiares.

O presidente afirmou, ainda, dirigindo-se aos sindicalistas ligados ao funcionalismo público, que o seu governo vai fazer "o mais importante plano de cargos de salários já feito para o setor público" no Brasil.

Lula citou ainda o lançamento em Pernambuco do crédito "segura-tripa", que protege cerca de 500 mil famílias do semi-árido nordestino contra períodos de seca. "E quando eles não tiverem preço bom para vender seus produtos, o Estado vai comprá-los para o Fome Zero", explicou.

Respeito internacional O presidente destacou que não considera pouco o que seu governo fez pelas relações internacionais nestes cinco meses de governo. Ele ressaltou o respeito que conquistou dos países ricos e a liderança que exerce junto aos países em desenvolvimento.

Lula tem proposto, conforme disse no discurso, que China, Índia, Rússia e América Latina podem se unir e se contrapor aos países do G-8 (grupo dos sete países mais ricos e a Rússia), em pé de igualdade. "Não precisamos ser convidados pelo G-8 para apresentarmos nossas necessidades. Sozinhos podemos ter uma política de troca e, fortalecidos economicamente, seremos chamados ao G-8 para negociarmos com ele".

O presidente considera que a América Latina unida "será difícil de quebrar". "Mas a integração política e econômica latino-americana deverá ser também uma integração física, feita com estradas, pontes, ferrovias, aeroportos", salientou.

Lula lembrou que "os preconceituosos" se questionavam como ele iria governar o Brasil se nem falava inglês. "Eu provei que não preciso falar inglês para ser respeitado no mundo, só preciso falar a língua de 175 milhões de brasileiros", disse. "Temos consciência da importância do Brasil no cenário mundial e não vamos morrer afogados desnecessariamente", disse.

Vaia convergente O presidente voltou a dirigir-se a sindicalistas de oposição ao governo. "Ninguém vira amigo ou inimigo porque defende as reformas do governo. Não perco o bom senso para confundir divergências de amizades pessoais", disse ressaltando a importância da autonomia do movimento sindical.

Ao final do discurso, uma parcela radical dos sindicalistas vaiou Lula, que afirmava naquele momento que fará as reformas que o Brasil precisa. O presidente disse que não se incomodava com as vaias, porque elas seriam tão importantes quanto os aplausos.

"Eu fui vaiado quando propus a criação do PT e depois quando propus a fundação da CUT", lembrou o presidente. Lula sugeriu que, em vez de fazer faixas contra, os sindicalistas deveriam dizer o que queriam. "Virei a todos os Concuts durante o meu governo e depois dele", concluiu.

Presença inédita O presidente participou da sessão plenária do congresso, que acontece no Pavilhão do Anhembi, em São Paulo. É a primeira vez que um presidente da República comparece a um congresso da central sindical, que acontece a cada três anos e é a instância decisória máxima da entidade, que em 2003 completa 20 anos.

Estavam na mesa com Lula o ministro do Trabalho e Emprego, Jaques Wagner, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, o presidente da CUT, João Felício, o secretário-geral da CUT, Carlos Alberto Grana, o vice-presidente Wagner Gomes, o secretário de Relações Internacionais, Rafael Freire, e os diretores-executivos Rosângela dos Santos e Jorge Luiz Martins. Participam do Congresso 2735 delegados.

Partido dos Trabalhadores

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